Adesão a carta pela democracia ultrapassa meio milhão de assinaturas
Incomodado com o amplo apoio ao documento, Bolsonaro chegou a fazer, pelas redes sociais, o que seria seu próprio “manifesto”
A “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, elaborada por ex-alunos da Faculdade de Direito da USP, já ultrapassou, neste sábado (30), 552 mil assinaturas desde o seu lançamento público, ocorrido na terça-feira (26). O resultado, inesperado pelos organizadores, indica a insatisfação dos mais variados segmentos e matizes ideológicos da sociedade com a escalada golpista do presidente Jair Bolsonaro (PL) e o desejo de defender a democracia e o sistema eleitoral brasileiro.
O documento resgata o espírito da carta original de 1977, redigido e lido pelo professor Goffredo da Silva Telles contra a ditadura militar, quando a faculdade completava 150 anos.
“Agora não estamos na ditadura, mas estamos num risco muito grande de cair em uma ditadura, porque não tenho a menor dúvida de que um golpe de Estado está sendo urgido pelo presidente Jair Bolsonaro. O sentido do ato é defendermos a democracia, que está periclitante”, disse, ao Terra, José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns de Defesa os Direitos Humanos e ex-ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Inicialmente, o atual diretor da faculdade, Celso Campilongo, planejava que o novo manifesto fosse a público com ao menos 300 assinaturas, mas já na largada, constavam 3 mil, que se multiplicaram rapidamente.
Outro que não esperava tamanha adesão foi o presidente Jair Bolsonaro. Primeiro, ele tentou minimizar o apoio ao manifesto dizendo que não precisava de “cartinha” para demonstrar seu suposto apreço pela democracia.
Depois, tentou atribuir o sucesso à adesão dos banqueiros, que estariam se vingando do presidente devido à implantação do Pix. Detalhe: a modalidade de transferência sem cobrança de taxa já era pensada desde 2016 e começou a ser criada em 2018. Além disso, os bancos seguem ganhando muito dinheiro — apenas nos três primeiros meses de 2022, os quatro maiores tiveram o lucro líquido mais parrudo da história: R$ 24,3 bilhões.
E na quinta-feira (28), em mais uma de suas sacadas patéticas, Bolsonaro fez seu próprio “manifesto pela democracia”, pelas redes sociais”: “Carta de manifesto em favor da democracia. Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia. Assinado: Jair Messias Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil”. Só faltou colocar, ao final, o célebre “é verdade esse bilhete”.
Para ler e assinar o manifesto, clique aqui.