Análise: afinal, dá para confiar em pesquisa eleitoral?

O primeiro ponto é ter em mente de que nem todas as pesquisas são iguais. Há diferenças significativas de metodologias adotadas. Alguns institutos utilizam entrevistas presenciais enquanto outros optam por sondagem por telefone, que são mais baratas

Poucas coisas foram tão demonizadas nas redes sociais nos últimos tempos quanto as pesquisas eleitorais. Basta os veículos de comunicação publicarem uma sondagem feita junto ao eleitorado para comentários do tipo “quem acredita?”, “quem está pagando?” ou “eu prefiro acreditar em Papai Noel” pipocarem nas postagens. Em tempos de intensa polarização política, a maior registrada desde a redemocratização do país, a tendência é o clima se acirrar ainda mais. Afinal, estamos a 16 dias do primeiro turno e as definições de voto costumam ocorrer a partir de agora.

É fato que a eleição está na boca do povo. A disputa entre Lula e Bolsonaro virou uma espécie de Vasco x Flamengo; Grêmio x Inter; Atlético x Cruzeiro, entre tantos outros clássicos futebolísticos país afora. Com a aproximação do dia das eleições, é comum aumentar a quantidade de pesquisas divulgadas, afinal, o interesse da população aumenta a cada dia — só nesta semana estão previstas 64 sondagens eleitorais para presidente/governador. No entanto, a reboque, surgem os resultados discrepantes e uma pergunta passa a ser feita: dá para confiar ou não?

Antes de dar uma resposta definitiva, o primeiro ponto é ter em mente de que nem todas as pesquisas são iguais. Há diferenças significativas de metodologias adotadas. Alguns institutos utilizam entrevistas presenciais enquanto outros optam por sondagem por telefone, que são mais baratas. Outra questão é a amostragem e a margem de erro adotadas. Além disso, a falta de um Censo atualizado — a pandemia atrasou a realização do levantamento realizado pelo IBGE a cada década — deixou os institutos sem parâmetros confiáveis de renda, provocando uma grande variação das faixas usadas nas pesquisas.

Sendo assim, tenho a visão de que pesquisa é apenas a captação do sentimento da população naquele momento, sem garantia nenhuma de que tal comportamento vai se manter até o dia da eleição. Claro que há o risco de manipulação eleitoral, inclusive está em andamento uma investigação no Ministério Público com foco nos levantamentos de intenção de voto que são autofinanciados — ao informar que realizaram as pesquisas sem contratante externo, esses institutos não precisam revelar a origem do dinheiro e, com isso, podem produzir pesquisas sem qualidade.

Ressalte-se ainda que erros em pesquisas eleitorais são comuns. E na maior parte ocorre porque os institutos de pesquisas não conseguem captar as ondas de última hora — em 1998, por exemplo, o Ibope cravou que o ex-governador Joaquim Roriz ganharia no primeiro turno contra Cristovam Buarque, mas o que se viu foi o contrário, com o então petista na frente. No segundo turno daquela eleição, o então diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, garantiu que Cristovam seria o eleito: “Juro que se o Cristovam não ganhar no DF, o Ibope não fará pesquisas no DF por duas eleições”. O resultado foi exatamente o contrário. Deu Roriz. E o instituto continuou a fazer sondagens eleitorais no DF. Até encerrar as atividades em 2021.

Correio Braziliense

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