Ato em Brasília marca entrega de pedido de impeachment de Bolsonaro
CUT e movimentos sociais entregaram documento a parlamentares da oposição que o encaminharão à mesa diretora da Câmara. Próximo passo, diz Sérgio Nobre, presidente da CUT, é mobilizar sociedade pelo impeachment
O pedido de impeachment de Jair Bolsonaro (ex-PSL), assinado pela CUT, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras sem Terra (MST) e União Nacional dos Estudantes (UNE) e mais de mil organizações da sociedade civil, foi entregue nesta terça-feira (14) a parlamentares da bancada de oposição, em Brasília. Os deputados vão protocolar o documento no Congresso Nacional.
Durante o ato simbólico em frente ao Congresso Nacional que marcou a entrega do documento, o presidente da CUT, Sérgio Nobre, afirmou que as entidades não têm a ilusão de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dê andamento ao pedido de impeachment. Maia já havia anunciado publicamente que “impeachment se dá por clamor popular”, lembrou Sérgio que explicou que o pedido é apenas o primeiro passo da campanha “fora, Bolsonaro”.
“Não temos ilusão de que eles vão aprovar o pedido se não tiver pressão popular. O passo mais importante vem agora e é mobilização com o povo brasileiro pedindo nas ruas para que o Brasil volte a ter esperança e volte a crescer”, disse Sérgio Nobre.
“Os crimes de responsabilidade [cometidos por Bolsonaro] são inúmeros e o maior deles, que estamos apontamos desde o início da pandemia, é que se o governo não tomasse medidas de proteger a vida, teríamos um genocídio, o que está se confirmando hoje”, disse o presidente da CUT reafirmando os motivos do pedido de impeachment e ressaltando que o Brasil já tem mais de 73 mil mortos pela Covid-19.
“Se Bolsonaro não for impedido, vai haver uma crise social sem precedentes no Brasil. É condição para a classe trabalhadora o ‘fora Bolsonaro’”, disse Sérgio, se referindo não só à crise sanitária, mas também à crise econômica que o Brasil enfrenta.
Os deputados federais Erika Kokay (PT-DF), Natália Bonavides (PT-RN), Paulo Pimenta (PT-RS) e Carlos Zarattini (PT-SP) receberam o documento entregue pelas lideranças dos movimentos e se comprometeram a entregá-lo à mesa diretora da Câmara.
“Vamos encaminhar o documento e lutar para que, dentro do Congresso, o pedido siga em frente, seja analisado, que Maia abra o processo, e para isso, precisamos de mobilização popular contra esse genocida entreguista que quer acabar com o povo brasileiro”, afirmou Zarattini.
A deputada Erika Kokay reforçou o empenho dos deputados para que o pedido tramite na Câmara. “É um pedido para que o país possa apurar os crimes desse [Bolsonaro], que estufa o peito do fascismo para se perpetuar no poder e só se preocupa em dominar o Estado brasileiro, colocando-o a serviço de seus interesses”.
O deputado Paulo Pimenta também apontou a necessidade de mobilização para que o processo de impeachment vá em frente na Câmara.
“Não existe outro caminho que não seja da luta, da organização e da resistência popular para derrotar esse governo genocida e criminoso de Bolsonaro e da gangue de milicianos que tomaram de assalto o país”, disse o deputado.
A deputada Natália Bonavides reforçou que “nesses momentos é que o povo brasileiro dispensa suas maiores energias em defesa da democracia”.
Ato que deu exemplo
O gramado da Esplanada dos Ministérios não foi tomado pela militância de forma a causar aglomerações, mas teve a presença de representantes dos vários movimentos que apoiam e assinam o pedido de impeachment de Bolsonaro.
Sérgio Nobre, presidente da CUT, afirmou que o objetivo do ato era ser simbólico para respeitar as recomendações de autoridades médicas e sanitárias de isolamento e distanciamento social para evitar a propagação e contágio pelo novo coronavírus.
Para a Secretária-Geral da CUT, Carmen Foro, o ato mostrou que mais uma vez a CUT e os movimentos sociais cumprem seu papel histórico de defender a democracia e a soberania no país. “Estamos mais uma vez, aqui no centro do poder, fazendo resistência, mostrando que somos de luta e não vamos aceitar o Brasil ser destruído por esse genocida que não tem a menor preocupação com o povo trabalhador brasileiro”
MST, UNE, representantes de outras entidades como União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Marcha Mundial das Mulheres e entidades representativas de religiosos também participaram do ato.
“Quem tem fé é favor da democracia e da vida”, foi a frase dita pela pastora Romi Bencke, secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).
O ato também contou com representantes de povos indígenas, LGBT´s e até mesmo de torcidas de futebol que lutam por democracia.
Para Alexandre Conceição, do MST, a entrega do pedido de impeachment é “um passo para vencer Bolsonaro, destruir o governo e construir democracia e vida no Brasil”.
“Estamos aqui contra um governo que destrói nossa soberania, nosso meio-ambiente, nossa Amazônia, que assassina indígenas, negros e quilombolas e que não se comove com as mais de 73 mil mortes no Brasil. Ao contrário, espalha mais o vírus”, disse.
Iago Montalvão, presidente da Une, afirmou ser porta-voz de mais de 200 entidades naquele momento, que se somaram à iniciativa e apoiaram o pedido de impechment.
“No Brasil, os estudantes já entendem que não há mais possiblidade de continuar com esse governo, da morte, em meio à pandemia. Não é possível que haja um governo que não se preocupa com a vida do povo”, disse Iago.
No ato, ele citou as mobilizações dos estudantes em 2019, quando Bolsonaro cortou investimentos na educação, o que levou milhões de estudantes às ruas em todo o país.
“A bandeira da educação uniu o Brasil. E um ano e meio desse governo foi só destruição da educação, das universidades, por isso não há mais condição. Acreditamos que essa é mais uma etapa de conclamar o povo à luta e tirar de lá todo esse governo”.
Para Vilmara do Carmo, da Marcha Mundial das Mulheres, o pedido de impeachment é um passo essencial na luta contra o governo Bolsonaro, mas a mobilização é necessária para que o processo tramite na Câmara.
“Temos certeza que ao nos livrarmos da pandemia seremos milhares em todas as cidades do Brasil para derrubar o governo que ataca direitos de mulheres, crianças, ataca a questão ambiental desrespeitando indígenas. Mas hoje estamos aqui para exigir que a chapa Bolsonaro/Mourão seja caçada e vamos seguir em marcha até que o país esteja livre desse tipo de gente.
Ainda durante o ato, o advogado Gustavo Ramos, do escritório Mauro Menezes Advocacia, que junto com o escritório LBS Associados foi um dos muitos a prestar assessoria jurídica para a elaboração do pedido de impeachment, explicou os principais pontos do documento.
Para ele a ação da CUT e movimentos, em conjunto com as dezenas de denúncias e outros pedidos de i impeachment chamam a atenção, mais uma vez, para que o Congresso Nacional dê andamento ao processo contra Bolsonaro.
Ele destacou a importância do documento por ser assinado por entidades representativas da sociedade civil de diversos setores que, segundo ele, dão ainda mais força ao pedido de impeachment.
Entidades de todo o país preparam denúncia por crimes de responsabilidade de Jair Bolsonaro
O pedido de impeachment, que faz parte da Campanha Fora Bolsonaro, que teve início na última sexta-feira (10), com atos e panelaços em todo o país