Câmara dos Deputados debate os impactos e desafios da inteligência artificial na educação e no trabalho

A inteligência artificial (IA) está ganhando cada vez mais destaque no cenário global, trazendo grandes transformações para diversos setores, especialmente no que diz respeito à educação e ao mercado de trabalho. No Brasil, o Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados (Cedes) está à frente da discussão sobre como a IA impactará a sociedade brasileira, com foco nas oportunidades e desafios que surgem nas áreas educacional e profissional.

Na última quarta-feira (18), o Cedes promoveu uma audiência pública com o objetivo de debater os impactos da IA no século 21. O evento, que contou com a participação de especialistas da área, abordou temas como a personalização do ensino, o acesso a recursos educacionais, a automação de avaliações, o feedback para os estudantes e a formação contínua de educadores. Esses aspectos refletem as mudanças significativas que a inteligência artificial pode trazer para a educação, não apenas no Brasil, mas globalmente.

Além disso, o impacto da IA no mercado de trabalho constituiu outro ponto central da discussão. A automação de tarefas, as novas oportunidades de emprego e o conceito de trabalho híbrido, que mistura presença física e digital, também foram debatidos. O estudo “Inteligência artificial, inclusão digital, automação do trabalho, empregabilidade e previdência”, coordenado pelo deputado Helio Lopes (PL-RJ), serviu de base para o debate, oferecendo um olhar aprofundado sobre como a inteligência artificial pode influenciar o emprego e a segurança social no Brasil.

O Cedes e seu papel no debate

O Cedes é um órgão técnico-consultivo da Câmara dos Deputados, dedicado à análise e discussão de temas inovadores, com potencial de transformar as realidades econômica, política e social do Brasil. Desde sua criação, em 2003, o Cedes tem se destacado por realizar estudos analíticos sobre questões estratégicas e emergentes, com ênfase na transformação digital. Muitos desses estudos foram transformados em leis ou adotados pelos governantes, evidenciando a relevância de suas discussões para o futuro do país.

Composto por 23 parlamentares, o Cedes é presidido atualmente pelo deputado Da Vitoria (PP-ES). O colegiado tem se mostrado um espaço crucial para o debate sobre a adaptação do Brasil às novas tecnologias e como o país pode garantir que os avanços da IA beneficiem toda a sociedade.

O futuro do trabalho e da educação no Brasil

Especialistas, como o professor da Universidade de Columbia, Paulo Blikstein, e o professor da Universidade de Brasília, Fabiano Hartmann, destacam que a educação precisa se adaptar às mudanças trazidas pela IA. Blikstein afirma que a tecnologia deve ser uma ferramenta complementar ao ensino, e não substituir os professores, que continuarão sendo essenciais no processo de aprendizado. Porém, ele defende que as escolas devem criar ambientes de aprendizado dinâmicos e interessantes, com aulas focadas em disciplinas criativas, como artes e ciências práticas.

Para o mercado de trabalho, as perspectivas são variadas. A IA pode substituir algumas funções tradicionais, mas também cria novas oportunidades, especialmente nas áreas de análise de dados, desenvolvimento de novas tecnologias e soluções criativas. Fabiano Hartmann alerta que a capacidade criativa será uma das habilidades mais valorizadas, já que tarefas baseadas em criatividade humana são mais difíceis de serem automatizadas.

A transformação digital também traz desafios significativos para a requalificação da força de trabalho. O consultor da Unesco Luiz Antonio Caruso apontou que tanto as atividades cognitivas quanto manuais serão impactadas, o que exigirá um esforço contínuo para garantir que os trabalhadores se adaptem às novas exigências do mercado.

O projeto de Lei 2338/23 e o papel da regulamentação da IA

Outro aspecto importante do debate é a regulamentação da IA no Brasil. A Câmara dos Deputados está avaliando o Projeto de Lei 2338/23, que já foi aprovado no Senado, e que busca estabelecer diretrizes claras para o uso da inteligência artificial no país. A proposta tem como objetivo criar um marco legal para a implementação da IA, garantindo seu uso ético, seguro e responsável, ao mesmo tempo que promove o desenvolvimento econômico e social.

Preparação para o Futuro

O Brasil enfrenta um grande desafio: se adaptar às mudanças provocadas pela IA e garantir que sua força de trabalho esteja preparada para os novos tempos. O investimento em educação e requalificação profissional será fundamental para que o país aproveite as oportunidades oferecidas pela inteligência artificial e minimize os impactos negativos no emprego. Por isso, é essencial que os debates, como os promovidos pelo Cedes, continuem a ser amplamente discutidos, promovendo políticas públicas eficazes que possam garantir um futuro mais inclusivo e sustentável para todos os brasileiros.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) vem acompanhando essas discussões e defendendo a inclusão da educação no processo de transformação digital, para que os trabalhadores do futuro possam não apenas sobreviver, mas prosperar na era da inteligência artificial.

Com informações da Agência Câmara

Por Romênia Mariani