Caso Marielle: segundo dia de julgamento deve ter alegações finais e sentença
A promotoria busca convencer o júri a aplicar a pena máxima de 84 anos de prisão a Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz
O julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, entra em seu segundo dia nesta quinta-feira (31), com a previsão de que a sentença seja definida após as alegações finais. Conforme reportado pelo jornal O Globo, o primeiro dia do julgamento foi marcado por depoimentos intensos, que rememoraram o luto e os traumas enfrentados pelas famílias das vítimas. Após uma longa audiência de 13 horas, o júri optou por encerrar os trabalhos nas primeiras horas da madrugada, retomando o julgamento às 8h do dia seguinte.
Neste segundo dia, o 4º Tribunal do Júri abrirá espaço para as alegações finais, nas quais tanto o Ministério Público quanto a defesa apresentarão suas considerações finais aos jurados. A promotoria buscará convencer o júri a aplicar a pena máxima de 84 anos, enquanto a defesa terá a oportunidade de contestar as acusações. De acordo com o cronograma, após a fala dos promotores, os advogados de defesa terão espaço para sua argumentação, além de possibilidade de réplica e tréplica, sempre finalizando com a palavra da defesa antes da deliberação dos jurados.
Emoção e tensão no primeiro dia – No primeiro dia do julgamento, amigos e familiares das vítimas prestaram depoimentos emocionados e lembraram a dor da perda e os momentos finais ao lado de Marielle e Anderson. Fernanda Chaves, assessora e única sobrevivente do ataque, narrou com detalhes a noite do crime e a angústia ao presenciar a violência no centro do Rio. “Estava tudo muito escuro. Conversávamos sobre o dia e sobre compromissos futuros”, relatou Fernanda, que descreveu o choque ao perceber o ataque e os momentos em que buscou ajuda.
Marinete Silva, mãe de Marielle, também fez um depoimento comovente, lembrando a trajetória da filha e o impacto da perda. “Dói muito, uma dor que nunca imaginamos sentir”, declarou. “Perder uma filha de forma tão brutal e covarde é uma ferida que nunca cicatriza”. A presença da mãe de Marielle e outros familiares tornou o ambiente ainda mais tenso, especialmente diante dos depoimentos dos réus e das lembranças vívidas do crime que marcou o país.
Depoimentos dos acusados e novas revelações – Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, ambos ex-policiais militares e acusados pelo crime, deram suas versões durante a audiência. Em momentos de aparente contrição, Lessa chegou a pedir perdão às famílias das vítimas, um pedido que foi recebido com frieza e indignação pelos familiares. Lessa relatou em detalhes o planejamento do assassinato e admitiu ter mirado propositalmente na vereadora, causando comoção e revolta entre os presentes.
A esposa de Anderson, Ágatha Arnaus, também se manifestou durante a sessão, narrando como a morte do marido afetou o filho pequeno do casal, que perdeu o pai ainda na infância. Segundo Ágatha, “Ele [Anderson] perdeu todos os Dias dos Pais, as festas em família”, desabafou em lágrimas ao lembrar dos momentos de dor e superação enfrentados desde a tragédia.
O contexto do crime e a investigação – Marielle Franco, vereadora eleita em 2016 pelo Psol, teve uma trajetória dedicada à defesa dos direitos humanos e às causas de minorias, temas que frequentemente a colocavam sob ameaça. As investigações apontam para uma motivação política e a atuação de milicianos no crime, que teria sido cuidadosamente planejado e executado.
Desde o assassinato em 14 de março de 2018, o caso se tornou um símbolo de resistência e luta pela justiça no Brasil e no exterior, mobilizando movimentos sociais e autoridades na cobrança por respostas. Mais de cinco anos depois, o julgamento de Lessa e Élcio representa um marco na busca por justiça e um momento de acerto de contas com as práticas de violência e silenciamento político no país.
A expectativa agora recai sobre as alegações finais e a decisão do júri, que pode definir o destino dos acusados e, finalmente, dar algum alívio às famílias de Marielle e Anderson, que aguardam pela resolução do caso e pela aplicação da justiça.