Comissão da ONU denuncia perseguição étnica e assassinatos na Síria
Famílias inteiras identificadas como alauítas tem sido executadas por grupos ligados ao novo governo do país

Mais de 100 civis foram assassinados, incluindo execuções sumárias de famílias inteiras no oeste da Síria, desde a última quinta-feira (06/03).
A denúncia foi feita nesta terça-feira (11/03) pela Alta Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). O organismo descreveu os episódios como ações de “perseguição étnica” e diz ter observado “atos de caráter sectário” em muitas das mortes.
Segundo números do Observatório Sírio para os Direitos Humanos 1.068 civis foram mortos nos últimos cinco dias, sendo mais de 500 só nos primeiros dois dias após a queda do governo sírio de Bashar al-Assad (2000-2024) e a posterior escalada de violência no país.
A ACNUDH documentou vários casos de execuções sumárias de famílias inteiras, inclusive crianças, cujas sentenças de morte teriam sido determinadas pelo fato de terem sido identificadas como alauítas, etnia minoritária que é tratada pelo novo governo como protegida pelo governo de al-Assad – já que a própria família do ex-presidente pertence a ela.
Os ataques se concentraram nas províncias de Tartus, Latakia e Hama e tiveram como alvo principal as aldeias e cidades predominantemente alauitas. Segundo testemunhos ouvidos pelo escritório ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), homens armados invadiram as casas perguntando aos moradores se eram alauitas ou sunitas. Se fossem alauditas, eram mortos.
Alguns sobreviventes que os atacantes executaram muitos homens na frente das famílias. Em outros casos, mataram a família inteira. Também há relatos de cristãos que foram assassinados.
A onda de violência na Síria fez com que o Itamaraty emitisse nessa segunda-feira (10/03) um comunicado recomendando que os brasileiros não viagem ao país e que os que lá estejam voltem o antes possível.
Execuções sumárias de famílias inteiras só por sua etnia
“Muitos dos casos foram execuções sumárias que parecem motivadas por razões sectárias. Seus autores são indivíduos não identificados, membros de grupos armados que apoiavam as forças de segurança do governo de transição e também elementos associados ao antigo governo”, explicou o porta-voz da ACNUDH, Thameen al-Kheetan.
O funcionário também denunciou um aumento significativo dos discursos de ódio e de desinformação. “Isso nos preocupa porque pode inflamar ainda mais as tensões e prejudicar a coesão social na Síria”, alegou.
As autoridades de transição anunciaram nesta segunda-feira (10/03) o fim das operações de segurança na zona costeira, mas continuam ocorrendo confrontos intermitentes.
Entre quinta e sexta-feira (06 e 07/03), homens armados – alguns deles aliados do antigo governo, segundo depoimentos colhidos pela ACNUDH – invadiram vários hospitais em Latakia, Taurtus e Baniyas, entrando em confronto com as forças do governo de transição, o que provocou dezenas de vítimas entre médicos, pacientes e estudantes de medicina.
Segundo a ACNUDH, muitas pessoas fugiram para zonas rurais e alguns para a base russa instalada na área. A Rússia, que era aliada do governo de al-Assad e vem tentando estabelecer um diálogo com a nova administração para discutir o futuro das suas bases no país.
Israel volta a bombardear bases sírias
Em paralelo ao cenário denunciado pela ACNUDH, Israel voltou a atacar, na madrugada desta terça, as bases militares localizadas no sul da Síria, mais precisamente nas cidades de Jbab e Izraa.
Através de um comunicado, o exército israelense informou que os bombardeios atingiram posições de comando e locais de armazenamento de armas e equipamentos militares pertencentes ao governo sírio.
Os bombardeios ocorreram após as tropas de Israel terem ocupado mais duas cidades na província síria de Quneitra, ampliando sua presença na área de fronteira que deveria ser desmilitarizada.