Concentração financeira no Ensino Superior põe em risco soberania do país

 Na última sexta-feira (23), a Contee publicou matéria sobre a compra a FMU pela Laureate, destacando como o “negócio” representa mais uma vez a educação sendo tratada como mercadoria. Leia abaixo o artigo do professor J.S. Faro, publicado originalmente no blog História, Cultura, Comunicação sobre o fato, a financeirização do ensino superior brasileiro e os prejuízos à educação e à soberania nacional.

Qualidade de ensino, pesquisa científica, condições de trabalho dos professores… do que é que você está falando exatamente? 

notícia já está nos jornais de hoje [sexta-feira, 23] antes mesmo de que mais uma negociata entre um grupo de investidores internacional e uma instituição de ensino privado brasileira seja anunciada: a americana Laureate, que já é dona da Anhembi Morumbi, comprou a FMU por R$ 1 bilhão e, com isso, realiza a maior fusão no setor desde que a Kroton adquiriu a Anhanguera e se tornou o maior grupo empresarial universitário do mundo.

O resultado dessa nova sociedade que surge hoje é uma maior monopolização do setor, processo que deixa encantadas as mentalidades que curtem essa húbris capitalista. Desmedida sob todos os aspectos, ela subtrai do Estado o poder de disciplinar duas áreas estratégicas para o desenvolvimento da sociedade brasileira – a qualidade da formação dos estudantes e o nível da produção científica, setores nos quais, sabidamente, o que acontece na área privada é de uma mediocridade espantosa (guardadas as devidas exceções).

Há, no entanto, um outro aspecto igualmente delicado e nunca sequer mencionado em toda essa movimentação concentracionária dos empresários do ensino superior: a qualidade do trabalho dos professores, incluídos sob esse rótulo não apenas questões salariais mas também aquelas relacionadas com a qualificação acadêmica e a carreira dos profissionais que atuam na área. Até onde é possível perceber, não é o que acontece no país de origem da Kroton e da Laureate. Ali, quando fusões desse porte acontecem, nada se passa sem que os trabalhadores sejam ouvidos e discutam sobre suas reivnidicações no âmbito de negociações ou de projetos anunciados pelos compradores. Aqui, não só as lideranças sindicais estão distantes disso como até mesmo os Ministérios da Educação e do Trabalho são omissos sobre o problema. Será que o CADE tem condições de opinar sobre fusões na área do ensino? Duvido.

É por isso tudo que a concentração do capital, como já acontece em outras áreas, fere a soberania nacional. No caso do ensino superior é mais grave: faz a mesma coisa, mas também desarticula, desorganiza e desautoriza a ação reguladora do Estado na área. Olhando de perto, contudo, e ouvindo com atenção o que diz o governo federal sobre questões desse tipo e que envolvem a ação dos interesses privados, a sensação é a de que o assunto sequer é conhecido em toda a sua profundidade. Vai sobrar para o futuro…

J.S. Faro, professor da Umesp e da PUC-SP

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