Contee recomenda tiros de humanidade: é preciso bombardear o mundo com balas de ternura

O Dia Internacional de Homenagem e Dignidade das Vítimas do Crime de Genocídio, celebrado anualmente em 9 de dezembro, é dedicado à memória das vítimas e à proteção da vida. A data relembra a adoção, em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (Convenção sobre o Genocídio) e existe para que o mundo não esqueça, não repita os erros do passado e trabalhe pela construção de uma sociedade mais empática.

Diante do que vivemos hoje, é impossível não perguntar: o que ainda precisamos testemunhar para compreender o valor imensurável de cada ser humano?

Em Gaza, a guerra que completou dois anos em 7 de outubro tornou-se o maior abismo ético aberto no século 21. São mais de 67 mil palestinos mortos e 170 mil feridos, segundo as autoridades de saúde do território. São cerca de 80 mil mortes, segundo organizações internacionais que classificam a tragédia como o maior genocídio deste século.

A escalada de violência iniciada com o ataque de 7 de outubro de 2023, quando 1,2 mil israelenses morreram e 250 pessoas foram sequestradas pelo Hamas, deveria ter intensificado um debate profundo sobre justiça, proteção de civis e soluções diplomáticas. Mas a resposta do Estado de Israel, desproporcional, devastadora e ampliada para além de alvos militares, arrasou casas, hospitais, escolas, ruas, memórias e possibilidades de futuro.

As mazelas e os números alarmantes têm sido ignorados: crianças morrendo de fome, quando uma a cada três pessoas passa dias sem comer; 320 mil crianças pequenas em risco de desnutrição aguda; profissionais da saúde sem insumos; partos realizados sem luz, sem antibióticos, sem anestesia; famílias inteiras transformadas em poeira.

Mesmo durante a trégua temporária, 376 palestinos morreram, porque ali a morte não aceita intervalo. “O cenário continua tão difícil como sempre foi”, relatou o presidente dos Médicos Sem Fronteiras, Javid Abdelmoneim.

A fome virou arsenal bélico.
A ajuda humanitária virou moeda.
E vidas, milhares delas, jazem no chão.

A ONU fala em genocídio.
Israel rejeita o termo.
Mas os escombros falam uma língua que não se cala.

Na Europa, greves gerais denunciaram a cumplicidade de governos.
No Brasil, universidades romperam convênios com Israel.
Crianças brasileiras gravaram vídeos pedindo paz para crianças palestinas.
Movimentos sociais, entidades, trabalhadores e estudantes ergueram a voz, porque a dignidade também precisa ser defendida com coragem.

Mas ainda é pouco.
Ainda é muito pouco.

Por que tanto desamor?
Por que abastecer o gatilho com tanto ódio?

Neste 9 de dezembro, a Contee reafirma: é preciso repensar conceitos. É preciso reordenar prioridades. É preciso reumanizar o mundo. E isso exige escolhas éticas, políticas e afetivas.

A entidade recomenda: é preciso bombardear o mundo com balas de ternura.

Sim, balas de ternura.
Munição de empatia.
Tiros de humanidade.
Explosões de afeto.
Dissolução da maldade.
Balas que não machucam, mas acolhem.
Que não apagam, mas iluminam.

Gaza já sangrou demais.
O século já carregou mortes demais.

As vítimas de todos os genocídios merecem flores, memória e ação.

O verdadeiro cessar-fogo só ocorrerá quando o gatilho do afago for acionado.

E este é o chamado da Contee: que cada educador, cada sindicato, cada instituição, cada trabalhador e cada pessoa se torne agente da paz genuína, aquela que nasce do respeito, abraça o próximo e se sustenta na dignidade.

Que façamos juntos a guerra do amor, onde o único disparo possível é o disparo da delicadeza, onde a única arma permitida é a da igualdade.

O bombardeio com balas de ternura multiplica atos concretos de justiça, adoça o cotidiano e espalha faíscas de alegria que se transformam em lágrimas de felicidade.

Nossa convocação não é à passividade, mas à resistência.
À resistência da gentileza contra a barbárie.
À resistência da solidariedade que fecunda a vida e a liberdade.

Da Romênia Mariani