Depois de Cunha, é hora de intensificar o ‘Fora Temer’
‘‘E agora Cunha?
A festa acabou,
a luz apagou,
seus comparsas te traíram,
na noite, a Câmara te cassou.
E agora, Cunha?
E agora, você?
Gigante de pé de barro,
que zombava e golpeava os outros,
em você eu te escarro,
teu lugar é na cadeia.
e agora Cunha?
A coisa está feia!
Está sem a Câmara,
está sem discurso,
está sem padrinho,
não pode roubar,
não pode golpear,
não pode chantagear
manipular já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
veio a cassação.
E tudo acabou,
e tudo fugiu,
e tudo mofou.
E agora, Cunha?
Um preço caro você pagou.
(…)’’
O trecho desse poema-paródia de ‘‘José’’, de Carlos Drummond de Andrade, que pode ser lido na íntegra no site da CTB, foi escrito por Francisco Pantera, professor, jornalista, poeta e presidente estadual da CTB-RO. É a representação lírica da vitória conquistada na última segunda-feira (12) com a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados e um dos principais articuladores do golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff.
Mas, em se tratando de lirismo, há que se lembrar que, na arte poética, existe o momento da ode — o canto composto para a celebração — e o instante da elegia — poesia triste e melancólica destinada ao lamento. Assim, pegando a deixa dos versos de Francisco Pantera inspirados em Drummond, celebramos a queda de Cunha ao mesmo em que seguimos nosso lamento-luta pela democracia que nos foi roubada.
Em outras palavras, Cunha caiu, mas não a direita hidrofóbica e destruidora de direitos sociais nem ‘‘centrão’’ fisiologista e corrupto do qual ele se tornou símbolo. Tampouco o governo golpista e ilegítimo que ajudou a levar ao poder. O ‘‘Fora Cunha’’ ecoou, mas ainda temos muitos ‘‘Fora Temer’’ a gritar.
Sobre isso, estamos no caminho, haja vista as próprias contradições do governo Temer e as dificuldades em que o episódio Cunha o coloca. Conforme análise feita pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, o placar elástico da cassação (450 votos a favor, dez contra e nove abstenções) mostra que, além do prestígio corroído pelas mobilizações dos movimentos sociais, a base do governo golpista de Michel Temer, do mesmo partido de Cunha, já começa manchada pela corrupção que seria argumento para sustentar o golpe.
“A queda do Cunha é o início do Fora Temer e da quadrilha que cassou Dilma, uma presidenta honesta, para tomar o poder que jamais conseguiriam pelo voto popular. Cunha foi defenestrado pelos próprios aliados. A saída do homem forte do golpe, do parlamentar corrupto, com contas milionárias na Suíça, que costurou o impeachment é uma prova concreta de que precisamos de eleições diretas já e de uma verdadeira reforma política o mais urgentemente possível”, opinou o dirigente.
Para enfrentar o governo golpista, o ato do próximo dia 22 será essencial. Na opinião do presidente da CTB, Adilson Araújo, a iniciativa das centrais de convocar uma paralisação nacional se soma à ação de diversas categorias pelo Brasil. “Os atos do dia 22 serão um aquecimento para a construção da greve geral”, confirmou.
Segundo ele, a consolidação da retirada de direitos de forma acelerada aliada ao crescimento dos protestos começa a criar as condições para que o trabalhador se envolva nas manifestações. “Com essa eclosão de coisas acontecendo o trabalhador vai começar a ter a consciência de que trabalhou a vida inteira e não vai ter direito à aposentadoria, assim como não vai ter assegurados os direitos previstos na constituição, por exemplo.”
Vencemos uma batalha, mas a luta continua.
22 de setembro — Dia Nacional de paralisações e manifestações
#EmDefesadaDemocracia
#ForaTemer
#NenhumDireitoaMenos
Da redação, com informações da CTB e da CUT