Dicas culturais: para curtir o feriado e refletir
Para quem quer curtir o feriado prolongado com um bom livro ou um bom filme e, ainda assim, não deixar a reflexão de lado, o Portal da Contee traz hoje algumas dicas de obras que retratam aspectos, episódios e personagens da ditadura militar no Brasil. Neste mês em que se completaram os 50 anos do golpe de 1964, a arte, a cultura e o entretenimento também se colocam como instrumentos para manter viva a memória; para que os 21 sombrios anos nos quais mergulhou o Brasil nunca mais se repitam.
FILME
O que é isso, companheiro? (1997) – De Bruno Barreto
O maior sucesso entre os longa-metragens que tratam do período. Baseado no livro de Fernando Gabeira, concorreu ao Oscar de filme estrangeiro e é focado no episódio do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick.
Batismo de sangue (2007) – De Helvécio Ratton
Baseado no livro homônimo de Frei Betto, lançado em 1983. Aborda a ação dos dominicanos em apoio à Ação Libertadora Nacional (ALN) e a crueldade da tortura. Um dos frades, Tito, suicidou-se em decorrência dos maus tratos infligidos pelo delegado Sérgio Fleury.
Cabra marcado para morrer (1984) – De Eduardo Coutinho
O documentário sobre a vida da família do camponês João Pedro Teixeira, assassinado por capangas de latifundiários em 1962, foi interrompido com o golpe em 1964. Retomado em 1981, depois de Coutinho ter escondido os negativos da repressão, o longa é um símbolo dos anos de chumbo e da volta da democracia.
Zuzu Angel (2006) – De Sérgio Resende
Traz a história da estilista mineira que enfrentou os militares para exigir o corpo do filho, o militante Stuart Angel. Zuzu denunciou a ditadura nos EUA e morreu em acidente de carro atribuído a agentes da repressão.
Pra frente, Brasil (1982) – De Roberto Farias
Um dos primeiros longas sobre o tema, foi rodado ainda na ditadura, graças ao processo de abertura política. A trama de ficção retrata a repressão e o clima de euforia com a conquista da Copa do Mundo de 1970, no México. O filme levou à demissão do então presidente da Embrafilme, Celso Amorim, atual ministro da Defesa.
O ano em que meus pais saíram de férias (2006) – De Cao Hamburguer
Outra ficção sobre os anos de chumbo, a tortura e a Copa de 1970. Protegido pela comunidade judia, criança aguarda a volta dos pais, presos pela repressão.
Jango (1984) – De Silvio Tendler
Documentário essencial para entender a trajetória do presidente gaúcho deposto pelos militares. Com trilha sonora de Milton Nascimento e Wagner Tiso, o filme levou meio milhão de espectadores ao cinema.
Que bom te ver viva (1989) – De Lucia Murat
Militante de esquerda, a diretora foi torturada e sua obra é marcada por essa experiência. O documentário traz depoimentos de oito mulheres que optaram pela luta armada. A atriz Irene Ravache é uma espécie de alterego de Lucia Murat.
Em busca de Iara (2013) – De Flávio Frederico
Mariana Pamplona, sobrinha da militante Iara Iavelberg, é autora do roteiro e fez as entrevistas sobre a trajetória da guerrilheira e companheira de Carlos Lamarca, ícone da esquerda. O filme mostra que Iara foi assassinada – ela não se suicidou, como concluíram inquéritos oficiais.
LIVROS
Brasil nunca mais – um relato para a história
De Paulo Evaristo Arns e equipe
Vozes, R$ 65,70 e R$ 24,90 (edição de bolso)
Lançado em 1985, traz o dossiê mais completo da tortura e dos torturadores que escreveram a página mais sombria dos 25 anos da ditadura civil-militar.
Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo
De Mário Magalhães
Cia. das Letras, R$ 60
O jornalista escreveu a biografia completa do inimigo nº 1 dos militares: o comunista Carlos Marighella, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) e guerrilheiro de fama mundial.
Luta, Substantivo Feminino – Mulheres Torturadas, Desaparecidas e Mortas na Resistência à Ditadura
De Tatiana Merlino e Igor Ojeda (Orgs.)
Editora Caros Amigos, disponível em PDF
Além do registro da vida e morte de 45 mulheres brasileiras que lutaram contra a ditadura, o livro inclui o testemunho de 27 sobreviventes que narram com impressionante coragem as brutalidades das quais foram alvo, incluindo quase sempre torturas no âmbito sexual, alguns casos de partos na prisão e até episódios de aborto.
Repressão e Direito à Resistência: os comunistas na luta contra a ditadura (1964-1985)
Editora Anita Garibaldi e Fundação Maurício Grabois, disponível em PDF
O livro abarca, basicamente, os depoimentos de militantes que pertenceram à Ação Popular (AP) e ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), duas organizações de origens diferentes que se aproximaram no final da década de 1960, processo que culminaria na incorporação da AP ao PCdoB, em 1973.
1968: o ano que não terminou
De Zuenir Ventura
Objetiva, R$ 49,90
O jornalista consegue capturar o espírito da época e conduz o leitor para o contexto do ano fundamental para a história do Brasil e do mundo. Em dezembro de 1968, foi decretado o AI-5, que iniciou os anos de chumbo.
Gracias a la vida – memórias de um militante
De Cid Benjamin
José Olympio, R$ 35
Pode ser lido como uma antítese à obra de Fernando Gabeira, “O que é isso, companheiro?”, uma vez que ambos eram militantes do MR-8. Cid foi um dos mentores do sequestro do embaixador norte-americano, mas, diferentemente de Gabeira, sempre se posicionou à esquerda.
Almanaque 1964
De Ana Maria Bahiana
Cia.das Letras, R$ 54,50
Leitura leve, em estilo almanaque pop. Em vez de armas e conspirações, a jornalista fala de Nara Leão, Bob Dylan, Glauber Rocha e Rolling Stones, entre outros artistas que deram o tom à vida cultural dos anos 1960.