É hora de intensificar a campanha Fora Bolsonaro

Reproduzimos abaixo a intervenção do presidente da CTB, Adilson Araújo, na mesa de debate sobre desafios do movimento sindical, crise econômica, pandemia, precarização do tabalho e desemprego, realizada na tarde desta terça-feira (26). Organizado pela CTB, o evento contou também com a participação (como palestrantes) dos sindicalistas João Barreiros, da CGTP-IN de Portugal, do argentino Ernesto Quiqui, coordenador da FSM Cone Sul e do dirigente da PIT/CNT (Uruguai), Marcelo Abdala.

O Ano Novo tem por marca o agravamento da crise sanitária no mundo, e em particular no Brasil. Dados da OMS indicavam que, na segunda-feira, 25 de janeiro, foram confirmados 99,3 milhões de casos e 2,13 milhões de mortes por covid-19 no globo.

No Brasil, naquele mesmo dia, o número de mortes subiu a 217.664  e foram registrados 8,87 milhões de infecções.

Insano e genocida

O comportamento insano e genocida do presidente Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus é a principal causa da crise sanitária. A tragédia em Manaus foi o resultado inevitável do negacionismo e da negligência governamental.

A descoberta de vacinas em tempo recorde foi uma vitória inédita da ciência e da medicina. No Brasil é preciso ressaltar as iniciativas heroicas do Butatan e da Fiocruz. Mas em função da conduta criminosa do presidente e seu ministro de Saúde, a vacinação teve início tardiamente, atrás de 50 outros países. A vacina tornou-se objeto de uma guerra política irracional e nefasta entre Doria e Bolsonaro.

Diplomacia de vira-lata

Enfrentamos o risco de não conseguir produzir a vacina por falta dos insumos básicos produzidos na China e atraso na entrega de vacinas produzidas na Índia. Percebe-se, nos dois casos, os estragos da diplomacia de Bolsonaro, que ofendeu os interesses da China e da Índia para agradar o ex-presidente estadunidense Donald Trump.

A diplomacia de vira-lata do governo Bolsonaro, comandada pelo lunático Ernesto Araújo, é um atentado aos princípios estabelecidos no Artigo 4 da Constituição brasileira e constitui mais um crime de responsabilidade do presidente, que está causando sérios prejuízos à nação e contribuindo para colocar a saúde pública em risco.

Depressão econômica

Caminhando de mãos dadas com a pandemia temos a grave crise econômica.

A economia capitalista mundial já vivia uma situação crítica antes da pandemia e muitos indicadores sugeriam que ela estava a caminho da recessão. A doença agravou sobremaneira os problemas e provocou uma depressão econômica ainda maior que aquela iniciada nos EUA em 2007-08, que logo se transformou numa crise financeira global.

Entre os países mais industrializados do mundo, apenas a China teve um desempenho positivo em 2020, fechando o ano com um crescimento de 2,3%, depois de controalr a pandemia – que deixou 4,7 mil mortos. Em contraste os EUA terminaram o ano com um produto cerca de 3% menor e já choram mais de 400 mil mortes.

Superioridade do socialismo chinês

O vigoroso crescimento do PIB chinês ao longo das últimas quatro décadas contrasta com a estagnação das economias capitalistas. Comprova a superioridade do modelo de desenvolvimento chinês, dirigido pelo Partido Comunista, sobre o decadente e fracassado capitalismo neoliberal que dá as cartas nos EUA, na Europa, no Japão e no Brasil.

No Brasil os economistas estimam em mais de 4% a queda do PIB no ano passado.

Após seis meses consecutivos de crescimento, as vendas do comércio varejista nacional na passagem de outubro para novembro de 2020 tiveram variação negativa de -0,1%. Este foi claramente o efeito da redução do valor do auxílio emergencial para 300 reais. Doravante a situação tende a piorar, uma vez que o auxílio emergencial acabou em dezembro e não foi renovado, nem será se depender apenas do governo Bolsonaro.

26 milhões no desemprego

Estima-se em pelo menos 26 milhões o número de trabalhadores e trabalhadoras no desemprego, no desalento ou fazendo bicos. O retrato do mercado de trabalho é a imagem da tragédia brasileira e pelo andar da carruagem não teremos recuperação neste ano.

O fechamento da Ford agrava o drama do desemprego, bem como confirma e reforça o processo de desindustrialização da economia nacional.

O governo não apresenta soluções para a crise. Pelo contrário, a política econômica comandada por Guedes, ancorada no neoliberalismo e no dogmatismo fiscal, está agravando as contradições e joga lenha na fogueira da recessão.

O presente de Bolsonaro

O presente de Ano Novo de Jair Bolsonaro para o povo brasileiro foi o fim do auxílio emergencial, que vai reduzir a zero o poder de consumo de milhões de famílias brasileiras, deprimindo o mercado interno. Vem também do governo a proposta de uma reforma administrativa para liquidar os direitos dos trabalhadores e precarizar ainda mais os serviços públicos; uma reforma sindical para instituir o pluralismo e enfraquecer ainda mais o movimento sindical; novos ataques à CLT e a insistência na carteira verde e amarela; a vergonhosa subordinação aos EUA e o contrassenso da oposição à China no plano externo.

A covid-19 frustou o projeto de reeleição de Donald Trump e pode contribuir para precipitar o fim do governo Bolsonaro. As últimas pesquisas mostram forte queda de sua popularidade e é nítida a ampliação das forças sociais e políticas que defendem o impeachment.

Certamente tudo isto reflete os efeitos da tragédia de Manaus, bem como a redução do valor do auxílio emergencial, cujo fim certamente vai resultar em aumento do descontentamento popular e na rejeição do presidente.

Impeachment

Observa-se o crescimento das forças que defendem o impeachment como a única e melhor alternativa para a crise sanitária, econômica e política que o país vive sob o governo Bolsonaro. Vai se conformando objetivamente uma frente ampla neste sentido, que compreende inclusive movimentos dissidentes da extrema direita como o Vem pra Rua e o MBL.

Cabe registrar igualmente o declínio de Bolsonaro nas redes sociais ao longo deste ano. A Câmara já acumula 62 pedidos de impeachment.

Desde o golpe de Estado de 2016, com o governo ilegítimo de Michel Temer, a classe trabalhadora e o movimento sindical brasileiro enfrentam a mais feroz ofensiva do Capital contra o Direito do Trabalho e a organização classista já verificada na história do Brasil. Dos sindicatos foi subtraída a principal fonte de financiamento das lutas, a Contribuição Sindical, através de uma reforma trabalhista que, associada à terceirização irrestrita, impulsionou a desregulamentação e crescente precarização das relações sociais de produção.

Consciência de classes

O grande desafio da CTB e do movimento sindical brasileiro é falar às amplas massas do nosso povo e levar a consciência de classes às bases das entidades filiadas.

Neste momento é hora de intensificar a campanha Fora Bolsonaro, trabalhar pela construção de uma frente ampla para deter a marcha da extrema direita e abrir caminho para mudanças mais profundas orientadas na direção de um novo projeto nacional de desenvolvimento fundado na valorização do trabalho, na democracia, na soberania e na integração dos povos latino-americanos e caribenhos.

Um ano de muitas lutas

Hoje, o desafio maior não só da CTB mas de todos que se opõem ao governo neofascista é a mobilização do povo e o retorno das manifestações de rua, que está também na dependência do processo de imunização. O êxito dos atos e carreatas realizadas no último sábado (23) pela Frente Brasil Popualr e Frente Povo Sem Medo sinalizam a mudança do clima político no país, o crescente descontentamento popular e as potencialidades da luta contra o governo.

Teremos um certamente ano de muitas lutas, de início concentradas na seguinte agenda: fechamento da Ford e defesa do emprego dos operários ameaçados de demissão; pela vacinação; pela imediata prorrogação do auxílio emergencial; por um plano combate ao desemprego ancorado em investimentos públicos; contra as reformas administrativa e sindical, em defesa do Direito do Trabalho, da Constituição e da CLT.

Coroando tudo isto, temos de jogar pesado na campanha Fora Bolsonaro.

Vamos à luta!

CTB

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