Enfrentar a fome é enfrentar a questão da terra: encontro do MST debate desafios para 2023

Após dois anos impedido pela pandemia, movimento volta a promover o Encontro dos Amigos, Amigas e Amigues

A reforma agrária e os desafios da luta pela terra no novo governo foram centro do debate no Encontro dos Amigos, Amigas e Amigues, realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Centenas de pessoas se reuniram na histórica Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP).

Nos últimos dois anos, a pandemia da covid-19 impediu a realização das celebrações e discussões. A reunião de sábado (10) teve o simbolismo de recuperar o tempo negado pela emergência sanitária e, novamente, afirmar a importância essencial da reforma agrária no desenvolvimento do Brasil.

Kelli Mafort e João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, apresentaram um panorama da luta pela reforma agrária nos últimos anos. Na mesa “O MST e os desafios da Reforma Agrária no governo Lula”, foi feito um balanço das ações do movimento e projeções da pauta no próximo governo.

“Apesar da vitória grandiosa nas urnas, muitos desafios estão colocados para a classe trabalhadora. A vitória eleitoral tem uma simbologia política muito grande: é um acerto de contas com o que vivemos desde 2016, com o golpe”, afirmou Kelli Mafort.

Ela falou também sobre a necessidade dos trabalhos de base nas organizações populares, para ampliação da participação política e continuidade da luta. A ativista ressaltou que o combate à fome depende da democratização da terra.

“Quando a gente fala do enfrentamento à fome, falamos de uma complexidade de elementos capazes de possibilitar verdadeiramente o avanço na produção de alimentos saudáveis, de comida boa, que para acabar com a fome precisa de produção massiva, com apoio do Estado, e de terra. O novo governo precisa ter a coragem de entender que para enfrentar a fome, precisa enfrentar a questão da terra no Brasil”.

João Paulo Rodrigues lembrou a atuação do MST ao longo da pandemia para garantir alimentos à população mais vulnerável. A ação popular preencheu um buraco deixado pelo poder público nas políticas contra a fome.

“Construímos, a partir da nossa política de produção de alimentos saudáveis, a maior campanha de solidariedade da história do MST, com aproximadamente 10 mil toneladas de alimentos doadas nas periferias do Brasil, com a construção de centenas de cozinhas solidárias, servindo comida diariamente”, apresentou Rodrigues.

Segundo ele, a produção de alimentos segue como principal pauta do MST, aliada à proteção ambiental e à busca por justiça social. Entre os desafios a serem superados, está o desmonte de programas e políticas que precisam ser trazidas de volta na nova gestão.

“Vamos combinar os processos de ocupações com a luta pelo desenvolvimento no campo, pautando um conjunto de políticas públicas que permita a emancipação dos camponeses e camponesas, tornando nossos territórios em um bom lugar para se viver”.

As celebrações do encontro contaram com um mutirão de plantio de árvores e um almoço coletivo, produzido com alimentos da reforma agrária.

Edição: Raquel Setz

Do Brasil de Fato

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