Entenda como se dá o processo de inovação em instituições de ensino superior e empresas
Em nota técnica publicada na 19ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), tratamos da inovação nas instituições de ensino superior e empresas no Brasil. A íntegra da nota técnica, as referência bibliográficas e a mini-bio dos autores poderão ser obtidas em https://www.uscs.edu.br/
De acordo com o manual de Oslo, “uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”.
As atividades de inovação têm como objetivo orientar a implementação de inovações por meio de etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais. Um elemento comum de uma inovação, não importando se ela ocorra em um produto, serviço ou processo é de que esta tenha sido implementada. A implementação de um produto ou serviço ocorre quando este é inserido no mercado, já um processo é implementado quando este é incorporado nas atividades de uma determinada empresa.
Segundo ainda o manual de Oslo, a inovação diferencia-se em quatro tipos:
i) Inovação de produto – para caracterizar este tipo é necessário a inclusão de um bem ou serviço novo ou substancialmente aperfeiçoado no que cabe aos seus atributos ou ao seu emprego previsto. Entende-se por produto, tanto o bem como o serviço;
ii) Inovação de processo – é caracterizada pela execução de um processo de produção ou distribuição novo ou consideravelmente melhorado. Por processo de produção entende-se as técnicas, equipamentos e softwares utilizados para se fazer bens e serviços; já os modos de distribuição se relacionam a logística da empresa e os equipamentos, softwares e técnicas utilizadas para o fornecimento de insumos, alocação de suprimentos ou a entrega de produtos finais;
iii) Inovação de marketing – consiste na adoção de um método novo de marketing com alterações substanciais na construção de um produto ou na sua forma, no seu posicionamento, na sua promoção ou na definição de preços;
iv) Inovação organizacional – consiste na adoção de um processo organizacional novo nas rotinas de negócios da empresa, na organização do local de trabalho ou na maneira desta empresa se relacionar com outras empresas, instituições públicas, fornecedores.
É importante salientar que não consideradas inovações, as seguintes práticas:
a) Interrupção de uma atividade (processo, método de marketing ou organizacional, comercialização de um produto);
b) Extensão de capital ou simples reposição;
c) Mudanças que são resultados unicamente de alteração de preços;
d) Personalização;
e) Não se considera uma inovação de produto para o atacadista, varejista ou empresas de transporte e de armazenamento, de maneira geral, a comercialização de produtos novos ou aperfeiçoados;
f) Mudanças sazonais frequentes ou outras mudanças cíclicas.
A partir dos pontos expostos anteriormente foi construída uma pesquisa de campo a serem aplicadas em IES e empresas, isto porque segundo Prodanov (2013):
Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual procuramos uma resposta, ou de uma hipótese, que queiramos comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles (PRODANOV, 2013, p. 59). Estas pesquisas foram realizadas por meio de um questionário eletrônico.
O questionário foi elaborado com questões divididas em três seções, sendo a primeira para coletar informações gerais sobre o respondente e a organização (ex.: cargo, tamanho da organização, tempo de existência, etc.), e as outras duas seções com o objetivo de identificar qual o status atual da organização em relação à inovação e, ainda, como a organização pretende tratar a inovação no futuro em seu ambiente. As questões destas duas últimas seções contaram com perguntas fechadas com respostas dispostas numa escala do tipo Likert de cinco pontos.
Segundo Gil (2011), a utilização da escala do tipo Likert permite uma condição ordinal e, por meio dela, o respondente consegue externar seu grau de concordância ou discordância em relação à afirmativa da questão. Ainda de acordo com o autor, quanto maior for a sua concordância com algo, mais alto será o valor atribuído a essa resposta.
Inovação nas Empresas
A pesquisa teve 54 respondentes, contudo foram consideradas 48 respostas validadas, isto porque houve mais de um respondente por organização. A pesquisa foi aplicada para empresas e empreendedores. Constatou-se que:
a) 94% das empresas respondentes possuem registro CNPJ, enquanto apenas 6% não possui, ou seja são startups em estágio inicial.
b) As empresas apresentaram 59% com mais de 10 anos de existência, seguidas por 11% que apresentam e 3 a 5 anos, enquanto empresas com até 1 ano, representaram 2%.
c) A maioria das empresas encontra-se no estado de São Paulo e Distrito Federal, sendo 42% e 19% respectivamente. Sendo ainda participantes desta pesquisa, empresas do Rio de Janeiro (17%), Ceará, Minas Gerais e Rio Grande do Sul com 4% cada, Goiás, Paraná e Pernambuco com 2% cada, e 4% das empresas estão presentes em vários estados.
d) A maior parte das empresas (33%) possui acima de 1.000 colaboradores; enquanto 29% declaram que têm até 10 colaboradores, a menor incidência dessa pesquisa (2%), foram empresas com 300 até 500 colaboradores.
e) Dos funcionários responsáveis pela resposta ao formulário de pesquisa, de acordo com a figura 5, 29% são gestores da área de PD&I, 25% são proprietários das empresas, enquanto 14% são colaboradores de outras áreas da empresa.
f) Quanto ao estado atual da empresa, 44% concordaram plenamente que ela é inovadora, 35% concordam parcialmente e apenas 8% discordam totalmente. Não houve respostas atestando que o respondente discorda plenamente.
g) Quanto à empresa possuir área específica de PD&I, a maioria (31%) dos respondentes concorda plenamente, 21% concordam parcialmente, enquanto 19% discordam plenamente.
Inovação em IES
A pesquisa nas IES obteve 128 respondentes, contudo foram consideradas 50 respostas, isto porque tivemos mais de um respondente por organização. A maior incidência de respostas (32%) foi do Sudeste, seguidas do nordeste e norte com 22% cada. Ressalta-se também que foram obtidas respostas de todas as regiões do país. Destaca-se também que obtivemos respostas de instituições de 20 estados do Brasil. Destaca-se que a maioria dos respondentes da pesquisa, observando a figura 9, são gestores da área de PD&I (56%) e pró-reitor / diretor institucional (18%).
A maioria dos respondentes (50%) concorda plenamente que a sua instituição é inovadora, seguidos por 38% que concordam parcialmente e apenas 2% que discordam plenamente. Em relação a questão se a IES possui uma área responsáveis por PD&I, 64% concordam plenamente que possuem, conforme gráfico 20, enquanto 22% concordam parcialmente com esta afirmação.
Conclusões
Observa-se a partir de uma análise preliminar que apesar de 79% dos respondentes vinculados a empresas concordarem em algum grau que sua organização é inovadora, apenas 52% têm uma área de PD&I, o que nos leva a questionar como a inovação é gerida nestas organizações.
Esta discrepância não é notada quando analisamos as respostas oriundas das IES, pois o número de respostas concordando que estas organizações são inovadoras se equivale às respostas de que as IES têm uma área de PD&I.
Observamos ainda que, este estudo tenha limitações quanto a sua abrangência, principalmente quanto a amostra das empresas, ele contribui de maneira significativa, pois aponta que se faz necessário mais estudos acerca de como a inovação é tratada nas empresas.
* Pesquisadores: Hugo Nascimento, Fabio Luis Falchi de Magalhães e Marcos Antonio Gaspar; bolsistas: Caio Cigagna de Godoy e Ruth Del Raso Garcia; equipe de apoio: Maíra Mariz Carvalho e Amanda Marta Jardim Souza