Erros do Enem prejudicam estudantes. A quem interessa?
Na semana passada, o Governo Bolsonaro admitiu erros na apuração dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no final de 2019. “O Enem, para além de ser importantíssimo para os estudantes brasileiros, envolve muito dinheiro, muitos interesses econômicos. Desde antes de assumir, Bolsonaro criticava o Exame e sua realização. Terá havido sabotagem? Quem é favorecido com essas trapalhadas”, questiona o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, que quer rigorosa apuração das responsabilidades pelos erros detectados.
Nesta segunda-feira (20), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) vai divulgar o resultado da apuração sobre as “inconsistências na correção das provas” do Enem. O ministro da Educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub, disse que continua a “apuração das inconsistências nas notas individuais do Enem 2019”. Reafirmou que “nenhum candidato será prejudicado”, mas manteve a abertura do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para esta terça, 21.
O desempenho no Enem é critério para concorrer no Sisu, que oferece 237 mil vagas em universidades federais em todo o país. As inscrições vão de 21 a 24 (sexta-feira).
Segundo o Inep, 3,9 milhões de pessoas fizeram as provas do Enem nos dias 3 e 10 de novembro. A revisão terá que ser feita nos dois dias do exame. Os candidatos que se sentiram prejudicados tiveram apenas até as 10h de hoje, 20, para enviar mensagens para o Instituto. Até a manhã de sábado, o MEC e o Inep não sabiam informar quantas pessoas foram vítimas do seu erro. O instituto pretende divulgar o resultado da identificação dos erros na correção das provas ainda nesta segunda-feira, mas não especificou o horário.
A nota do Enem pode ser usada na seleção Sisu e de outras universidades, incluindo instituições em Portugal, e também em programas de apoio do governo – como o Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas de estudo parciais e integrais em universidades particulares, e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que financia o pagamento de mensalidades. Para ter o Fies, o estudante tem que atingir 400 pontos redação Enem. Além da nota mínima na redação, continua valendo a regra de nota média mínima de 450 pontos nas provas objetivas do Enem.
Antes de sua posse como presidente, Jair Bolsonaro havia mirado no Enem, incomodado com questões que eram colocadas nas provas. “Queremos que na escola a molecada aprenda algo que no futuro lhe dê liberdade, que ele possa ganhar o pão com trabalho, não fique com essas questões menores que a gente vê por aí de ideologia de gênero. Qual a importância disso?”.
Desde o início de seu governo, o Inep, responsável pela prova, também foi alvo de crítica e de substituições em sua direção. Bolsonaro pretendia, inclusive, ter acesso prévio às questões que seriam submetidas aos estudantes.
Indignação estudantil
A União Nacional dos Estudantes (UNE) está recolhendo informações de candidatos prejudicados para denunciar o caso à Justiça. O presidente da entidade, Iago Montalvão, classificou como uma “irresponsabilidade” o ministro afirmar “que são problemas isolados. Isso é muito grave e já identificamos centenas de estudantes com discrepâncias muito grandes nas notas. É preciso investigar com precisão e levar a sério esse erro!”. Ele lembrou que “só em 2019, o presidente do Inep foi trocado três vezes pelo ministro da Educação, e com ele outros membros da equipe. Por mais que eles tentem esconder, é inegável que isso impacta na condução do Enem, que é complexo e importante”.
A União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) considerou que o erro no cálculo da nota final de algumas provas do Enem mostra que “o desrespeito do Governo Bolsonaro com a educação foi escancarado de vez. O Enem é a porta para o futuro de milhões de jovens. Os estudantes exigem explicação e correção”.
Carlos Pompe