Especialista defende que sindicatos negociem o uso de IA nas relações trabalhistas

Sérgio Amadeu em palestra na CUT apresentou o funcionamento da IA, como a extrema direita usa os dados e algoritmos e por que o sindicalismo deve se preparar para defender a democracia

A Inteligência Artificial (IA), como funcionam seus dados e algoritmos que permitem que a extrema direita use essas informações para potencializar falsas notícias, as fake News, para que tenha seu discurso de ódio e antitrabalhador ao alcance de mais pessoas, e por que o sindicalismo brasileiro deve se aprofundar neste debate, foram alguns dos tópicos da palestra proferida pelo sociólogo, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), e ex-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, Sérgio Amadeu, durante a Oficina de Comunicação realizada na sede da CUT Nacional, em São Paulo.

Para ele o avanço da extrema direita justifica que os defensores da democracia e do meio sindical se aprofundem nas discussões sobre o uso da Inteligência Artificial porque o que está em jogo é a democracia, o combate ao fascismo e a manutenção de direitos trabalhistas.

“A Inteligência Artificial vai espetacularizar uma informação verdadeira, ou não, porque foi treinada por padrões. Eu posso ser uma pessoa madura e profissional, mas eu posso ser um extremista que não tem compromisso com o fato, e tem quem os reproduza. Por exemplo, eu faço e mando pra vocês que não reproduzem porque é uma mentira, mas os caras [extrema direita] não têm esse problema, porque os fatos, a verdade, não são problemas para eles”, conta Amadeu.

“Se eu falo uma coisa que é absurdamente, mesmo que seja mentira, e que ela tenha um ar de prender a atenção de pessoas, o algoritmo chuta para frente. Ou seja, ele vai divulgar com mais força”, acrescenta.

Uma das preocupações do sociólogo é a existência de programas que imitam com precisão a nossa voz, e que embora existam perícias que identificam essa falsificação, o estrago será feito até se provar que aquela voz não é sua.

“Uma perícia vai demorar mais a me inocentar do que o efeito nefasto da distribuição daquele conteúdo. Por isso que tem que regular as plataformas, a inteligência artificial, e ser proibido o seu uso nas eleições. Por tudo isso é que a gente tem que fazer essa discussão.

E quando a IA chega nos empregos, os trabalhadores não estão lidando com outra coisa que não seja um sistema automatizado, que vai substituir determinadas funções pelos algoritmos de aprendizado de máquina. Segundo ele, as centrais sindicais, os sindicatos precisam colocar a questão da Inteligência Artificial nas negociações com a classe patronal porque a pergunta que se faz é qual o projeto que ela será inserida. Ele cita como exemplo o uso da AI na saúde. Se um sistema, por exemplo, que vai melhorar a leitura de chapas, de exames e em outras áreas ele tesá tirando o atendimento de frente.

“Será que dá para substituir o atendimento presencial pelo sistema automatizado? Eu acho que não. Eu acho que tem que discutir o que é o sistema, qual a sua base de dados, qual a consequência dele. Se o trabalhador vai ser deslocado para uma área onde ele vai ter um ganho e se ele vai manter o trabalho. Eu não estou dizendo para não evoluir. Eu estou dizendo que não dá para aceitar que essa coisa seja que o neoliberalismo fala, de que direitos trabalhistas são contra os novos tempos e que a tecnologia não convive mais com o décimo terceiro salário”, afirma Amadeu.

O discurso de que IA não precisa receber 13º salário é recorrente no meio neoliberal econômico, como se o trabalhador fosse um ônus para o empresário e não quem gera riqueza. Amadeu,no entanto, rechaça essa ideia. Segundo ele, as máquinas são alimentadas por uma pessoa e não terão o poder de acabar com toda a atividade humana.

“Nós temos um problema. A gente precisa regular isso, ter políticas públicas. Tem que compreender bem a inteligência oficial, atuar sindicalmente nas áreas onde ela está afetando as nossas categorias, chamar a ‘meninada’ e envolver o sindicalismo forte porque a batalha é antifascista”, declara.

Tecnologia

Amadeu explica que a AI não é uma coisa mágica e, que ao longo dos anos com o processo de digitalização houve acesso a muitos dados e informações e se iniciou um processo de classificação e extração de padrões.

Ele diz que a coleta de dados em cima de atividades comuns, como por exemplo, uma biometria para se abrir portas, mostra quantas vezes aquela porta foi aberta e essa coleta de dados em cima das atividades que eram comuns e outras que não existiam, são insumos fundamentais para a “inteligência da máquina”, que fará o que ela foi programada.

“Ela tem um conjunto de regras de algorítmicos de sequencias infinitas que é para extrair e classificar padrões conforme aprende com os dados que ela recebe de alguém que ‘ diz’ a ela o que fazer, seja extraindo dados correlatos, seja usando velhos modelos de estatística”, explicou.

Depois de uma série de explicações técnicas de funcionamento da Inteligência Artificial, cujo “aprendizado” depende de dados, algoritmos e modelos, feitos por seres humanos, Sérgio Amadeu, disse que embora haja uma alta velocidade das máquinas em extrair padrões, isso não significa que ela vai “dominar o mundo” porque seu aprendizado depende de modelos que são criados.

Segundo ele, a Inteligência Artificial não vai invadir celulares e nos dominar. Ela tem parâmetros, organização de funções matemáticas que permitem que você tenha uma aplicação baseada no modelo que foi treinado pela quantidade de dados suficientes para que o algoritmo extraia as sutilezas do padrão. Ela pode até fazer um reconhecimento biométrico, mas é preciso aumentar a sua funcionalidade.

“Tudo está sendo transformado em dados. Então, nós estamos criando uma camada de dados em cima das atividades que eram comuns e outras que não existiam. Porque esses dados são insumos fundamentais para a inteligência artificial. Por isso que não se para de coletar nossos dados e isso precisa ser regulado”, afirmou.

Da CUT

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