Estudo aponta como redes sociais podem retardar disseminação de desinformação

Para o professor Christian Dunker, do Instituto de Psicologia da USP, o ponto de partida para se lutar contra a desinformação envolve compreender o que são as “bolhas de consenso” na Internet

Em um estudo publicado na revista Nature Human Behaviour, pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, utilizaram dados do Twitter associados à eleição presidencial americana de 2020 para criar um modelo capaz de prever e talvez até impedir a disseminação de desinformação.

Os resultados sugerem que sites como o Twitter poderiam retardar a disseminação de informações erradas removendo-as assim que identificadas, suspendendo infratores reincidentes e colocando avisos em postagens que não são ruins o suficiente para serem removidas, mas ainda podem causar problemas – tudo ao mesmo tempo.

Sobre o fenômeno da desinformação, na opinião do psicanalista e professor Christian Dunker, do Instituto de Psicologia (IP) da USP, que não participou do estudo, o primeiro passo é considerar o espaço digital: “se a gente considera que o universo digital é uma forma de linguagem, ele também uma forma também de comunidade e são comunidades que formam as conversas, geram as demandas”.

Criado em março de 2006, o Twitter é uma rede social e um serviço de microblog. Além de ter sido o foco da pesquisa internacional, a rede possui mais de 400 milhões de usuários ao redor do mundo, unindo um público variado de pessoas, todas elas disputando atenção numa mesma plataforma. Incluindo aí celebridades e políticos. Durante a pandemia, o Twitter foi alvo da atenção do mundo como um local em que a desinformação avançou consideravelmente.

Por isso, a partir de um grande conjunto de dados, com mais de 1 bilhão de postagens relacionadas às eleições americanas no Twitter, os pesquisadores da Universidade de Washington identificaram como e quais narrativas falsas se espalharam rapidamente pela plataforma. A partir daí, eles desenvolveram um modelo que permitiu a simulação de cenários alternativos, em que medidas de impedir que as fake news se espalhassem foram aplicadas.

Na opinião de Dunker, “a pesquisa tem muitas boas estratégias”, como por exemplo, sugerir maior agilidade na retirada de posts contendo informação falsa. Fato é, defende ele, que a ocupação desse espaço digital aflorou conflitos, ódios, silenciamentos e cancelamentos. Para o psicanalista, tudo isso evidenciou a falta de aptidão da população para participar de assuntos públicos. Não por acaso, na última década, a preocupação sobre a disseminação de desinformação aumentou.

“Muito da manipulação que a gente assistiu, especificamente a manipulação ideológica, se apoiou no fato de que a desinformação vem de pessoas que confiamos. De amigos, familiares e grupos de referência”, reforça ele ao explicar que as chamadas “bolhas de consenso” nascem e se auto confirmam nas redes, em afinidade com a chamada “lógica dos algoritmos”, que estimula e reforça convicções, ainda que incorretas.

Nos últimos anos, estudos como o da Universidade de Washington e até mesmo ações internas das próprias empresas de tecnologia propuseram várias sugestões para amenizar a disseminação de desinformação. Sobre isso, a conclusão principal é a necessidade compreender como elas podem ser combinadas — desde a redução da visibilidade online até suspensões de contas, por exemplo. Mas escolher a opção mais apropriada requer entender os custos e os benefícios para cada medida.

“Não é uma censura, né? Você não está tirando um post, você vai advertir as pessoas para olhar esse post com maior senso crítico”, pontua o professor. Ao combinar essas diferentes medidas, os especialistas afirmam que a desinformação pode ser reduzida nesses sites em aproximadamente 53%.

Com colaboração de Gabriele Koga

Jornal da USP

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