Exaltado pelo mercado, ‘dream team’ de Paulo Guedes desmancha com país estagnado e ‘teto’ furado
Quatro secretários da equipe econômica de Jair Bolsonaro deixam governo ao mesmo tempo
São Paulo – “Estamos em boas mãos”, disse uma conhecida analista do mercado financeiro ao comentar a equipe formada por Paulo Guedes para pilotar a economia brasileira, no início do mandato do presidente Jair Bolsonaro. “É uma equipe impecável e com coesão ideológica”, assegurou o cientista político Demétrio Magnolli. “Se colocadas em prática, as ideias da nova equipe econômica podem garantir um crescimento bem maior do que temos hoje em dia” declarou, no mesmo período, economista ligado a um banco. Circulou até a expressão dream team (time dos sonhos) para se referir à turma de Guedes.
Porém, nesta quinta-feira (21), quatro secretários do Ministério da Economia pediram demissão alegando motivos pessoais. O “superministro” foi perdendo um a um dos integrantes de sua equipe, a ponto de só sobrar um do time original: Carlos da Costa, secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade. No país em que a produção está em baixa, assim como o emprego.
Dogma liberal
O motivo da debandada não é a estagnação econômica, o desemprego em níveis recordes, a pobreza, a fome, ou a inflação que não cede, mas um dogma liberal instalado ainda no governo Temer: o teto de gastos. Assim, os quatro que saíram eram ligados à área fiscal. Bruno Funchal (secretário de Tesouro e Orçamento), Jeferson Bittencourt (Tesouro Nacional) e seus adjuntos, Gildenora Dantas e Rafael Araújo. O governo, que esvaziou o Bolsa Família e programas sociais, agora, com popularidade em baixa e perto de ano eleitoral, tenta driblar o teto para bancar o chamado Auxílio Brasil.
Ainda na noite de hoje, em entrevista à CNN, o ministro afirmou que continua no governo. Paulo Guedes chegou ao comando da economia com fama de Chicago boy: receita ultraliberal e venda de estatais, que segundo afirmou logo no início poderia render mais de R$ 1 trilhão. Com até R$ 5 bilhões, o país iria “aniquilar” a pandemia, disse em entrevista. Além disso, ele é lembrado pela frase “Se fizer muita besteira, dólar pode ir a R$ 5”. Hoje, chegou a quase R$ 5,70, o que pode ser bom para quem tem offshore.
Também reclamou das trabalhadoras domésticas que iam para a Disneylândia. E sugeriu usar sobras de comida de restaurantes para distribuir aos mais pobres. Agora, junto com o chefe, faz acrobacia para tentar se explicar ao “mercado”.