Fábio Zambon reassume Secretaria de Relações de Trabalho da Contee com foco no consenso e no diálogo com a base

Desde 1980, Fábio Eduardo Zambon tem marcado o sindicalismo da educação com liderança, experiência e conquistas históricas para os trabalhadores. Sua caminhada começou no Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), onde se envolveu ativamente nas pautas da categoria e permanece engajado até hoje.

Zambon ocupou diversos cargos na diretoria do Sinpro-SP. Em 1988, assumiu a presidência da entidade, cargo que manteve até 1991, período em que consolidou importantes avanços para os professores. Atualmente, exerce a função de primeiro tesoureiro, contribuindo com sua expertise na gestão sindical e financeira.

Paralelamente, construiu uma trajetória significativa na Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), integrando a diretoria executiva como secretário de Relações de Trabalho e, posteriormente, como tesoureiro. Nesse período, deixou a Confederação com R$ 23 milhões em caixa — exemplo de mandato eficiente e transparente.

O retorno de Zambon à Contee, agora novamente à frente da Secretaria de Relações de Trabalho, reforça seu compromisso com a valorização dos trabalhadores da educação e a continuidade de um legado de dedicação e competência. Ele foi eleito no último congresso da confederação, realizado em julho deste ano. Ao longo de sua trajetória, consolidou uma visão estratégica sobre gestão sindical e finanças, fortalecendo sua reputação como líder comprometido com a sustentabilidade e a defesa dos direitos da categoria.

Sinpro-SP: da redemocratização aos dias atuais

Zambon relembra sua atuação na reorganização do Sinpro-SP, no período da redemocratização, destacando a importância de abrir o sindicato para a categoria e fortalecer a filiação: “Nós tínhamos um sindicato. Eu pertencia à diretoria anterior, era do Conselho Fiscal, depois virei primeiro secretário. Tínhamos uma divergência muito grande com a diretoria, porque não queriam fazer sócio. Então saímos à revelia da direção, fazendo sócios, fazendo greve em escola, dialogando com a categoria. E ganhamos a eleição. Quando assumimos, em fevereiro, o sindicato não tinha dois mil sócios. Em outubro, já tínhamos dez mil. Primeiro, abrimos a porta e mostramos a cara do sindicato, que passou a ser de fato da categoria”, explica Zambon.

Ele ressalta que as assembleias e mobilizações foram fundamentais para o fortalecimento do sindicato: “Fizemos a primeira assembleia que parou a rua, encheu a rua de gente. Nunca tinha assembleia. Fizemos um grande auditório no sindicato, porque fazíamos as assembleias nas escolas e daí decidimos edificar esse espaço para fazer a assembleia na nossa casa.”

O dirigente também destaca o sucesso das convenções coletivas: “Tivemos vários planos econômicos, geralmente em março, e hoje temos uma das melhores convenções coletivas do Brasil.”

Além disso, Zambon reforça a independência política da entidade e o trabalho realizado no chão da escola: “Aqui dentro não tem partido político. Cada diretor pode ter sua filiação, mas, da porta para dentro, só pensamos no professor. Fazemos política social, movimento social, participamos de atividades de todos os partidos de esquerda, mas aqui dentro não influenciam em nada. O que for melhor para a categoria é o que vence.”

“Nós temos duas mil e poucas escolas de ensino básico, e até julho já visitei mais de 900. É isso que precisa acontecer. Parte da diretoria visita as escolas, temos agentes sindicais treinados para fazer esse contato com os professores. A aproximação com a base é fundamental para a evolução do movimento”, contextualiza.

É com esse espírito democrático, de unidade e pautado no consenso, vivido no Sinpro-SP, que Zambon deseja fortalecer também a Contee.

Funcionamento da secretaria: gestão colaborativa

A Secretaria de Relações de Trabalho funciona como um colegiado, sem coordenador-geral e coordenador-adjunto. Os quatro integrantes da pasta trabalham juntos.

“Todo mundo da secretaria fala e participa ativamente, porque tudo que estou compartilhando é resultado de reuniões que já realizamos. Não está só na minha cabeça, mas na de todos. Cada um vai acrescentando, até chegarmos a um denominador comum”, explica.

Além de Zambon, integram o colegiado Iberê Moreno Rosário e Sandra Aparecida Caballero, professores do Sinpro-SP, e Ademar Sgarbossa, técnico administrativo do Sintep-Serra, que foca na organização dos auxiliares.

“Não colocamos só o professor. Cada um traz seu conhecimento e trabalha em conjunto para fortalecer toda a categoria”, enfatiza Zambon.

Negociações coletivas: diálogo permanente com a base

A principal meta da Secretaria de Relações de Trabalho é aproximar as entidades filiadas da Confederação, fortalecendo a cooperação entre sindicatos e oferecendo suporte para negociações salariais e acordos coletivos.

“A aproximação com a base é fundamental. Temos que nos aproximar da base e trazer essa base para dentro do sindicato, da Confederação”, defende Zambon.

“A ideia é aproximar as entidades, auxiliar cada sindicato a fazer o seu acordo cada vez melhor. Enquanto era tesoureiro, viajei o Brasil inteiro para fortalecer essa relação e auxiliar as entidades no que fosse necessário”, explica. Naquele período, ele destaca que essa aproximação contribuiu para um aumento de 30% na arrecadação.

Agora, sem lidar diretamente com recursos financeiros, pretende usar a experiência adquirida para subsidiar as entidades nas negociações:

“Vamos compartilhar práticas e informações: por exemplo, em São Paulo há uma cláusula específica, enquanto em Minas outra. Queremos promover esse entrosamento para que as entidades possam enriquecer as negociações salariais e ter conhecimento do que acontece em todo o país.”

Entre as iniciativas previstas, está a realização de cursos de negociação para dirigentes sindicais.

“Não é que alguém não saiba negociar, mas um técnico vai trabalhar em cima de como se faz uma negociação. Mesmo eu, que já negociei por muitos anos, acredito que vou aprender coisas novas. Ninguém sabe tudo.”

Zambon também destaca que o cenário atual das negociações trabalhistas exige preparo e estratégia:

“Hoje, os patrões estão mais articulados. As entidades mercantis estão dando o tom das negociações. Nosso objetivo não é que uma negociação seja melhor que a outra, mas que todas as entidades filiadas obtenham ganhos reais.”

Parcerias estratégicas para o fortalecimento da base sindical

Para Zambon, aproximar as entidades e criar parcerias estratégicas é fundamental para fortalecer o movimento sindical. Ele cita exemplos como o SESI e o SENAI, setores nos quais a maioria dos estados ainda não possui acordos.

“Temos facilidade de falar com o presidente do SESI, Fausto Augusto Junior, que nos ajudou na negociação em São Paulo. Isso abre portas para que sindicatos de outros estados, como Minas ou Pernambuco, possam atuar e firmar seus acordos”, pontua.

Ele também ressalta a importância de apoiar novos dirigentes sindicais: “Se você entrou esse ano no movimento sindical e não tem experiência, pode procurar a secretaria. Nós vamos assessorá-lo. Não temos recursos abundantes, mas temos parcerias, como o Sinpro-SP, por exemplo, e buscamos criar essas conexões para fortalecer todos os sindicatos.”

Outro ponto central é a organização da base e a gestão da arrecadação: “O sindicato precisa conhecer sua própria base. Não é questão de ser melhor ou pior, mas de nos unirmos para avançar juntos.”

NR1 e CIPA: Capacitação e acompanhamento de normas

Entre as prioridades da Secretaria estão a capacitação das entidades para lidar com normas e regulamentações, como a NR1, que trata da saúde mental nas escolas, e a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio).

“As escolas terão que aplicar a NR1 em março. Não podemos esperar que façam isso espontaneamente, então vamos trabalhar junto aos sindicatos para aprofundar o conhecimento sobre a norma e garantir sua aplicação.”

A secretaria também atuará em parceria com a CIPA, promovendo atividades de capacitação previstas para outubro e novembro de 2025, com o objetivo de subsidiar os sindicatos em negociações salariais e estratégias coletivas.

“Durante as negociações, vamos compartilhar informações sobre o que está acontecendo em todo o país. Por exemplo, algumas entidades mercantis estão tentando reduzir o aumento do INPC, e é fundamental que os sindicatos estejam preparados para reagir.”

Para otimizar a participação e reduzir custos, as reuniões e atividades de capacitação serão realizadas de forma totalmente virtual.

“Se conseguirmos realizar metade dessas ações, avançaremos bastante, pela minha experiência”, afirma Zambon.

Grande Encontro dos Auxiliares e gestão baseada no consenso

A Secretaria de Relações de Trabalho também vai realizar neste semestre um Grande Encontro dos Auxiliares, com o objetivo de levantar todas as demandas específicas dessa categoria.

“Faremos um encontro de auxiliares. A ideia é reunir e levantar todas as questões dessa categoria. Os auxiliares enfrentam mais problemas que os professores na escola e estão extremamente ávidos por conhecimento, por troca de experiências”, explica Zambon.

Ele também reforça sua filosofia de consenso e cooperação, em oposição a disputas de força:

“Eu discordo de ter forças dentro da Confederação. Você pode ter a sua e eu a minha, mas nós dois estamos voltados para fazer a Confederação. É uma coisa comum, não é? Quem ganha tem que aglutinar todos.”

Zambon elogia o atual coordenador-geral da Contee, Railton Souza, por sua capacidade de escuta, e destaca o avanço conquistado no último Congresso da Confederação, realizado em julho deste ano:

“O grande ganho foi que nada mais se vota na Confederação; tudo é construído no consenso.”

Reflexão sobre os desafios do movimento sindical

Para Zambon, o movimento sindical brasileiro enfrenta grandes desafios desde a reforma trabalhista — que ele chama de “deforma” — e ainda não conseguiu se reposicionar.

“O movimento sindical não se achou depois da reforma. Ele não sabe para onde vai, está perdido. Se você analisar os últimos cinco, dez anos, o que evoluiu? Nada.”

Ele aponta que sindicatos que dependiam da arrecadação compulsória não se adaptaram às mudanças e muitos ainda enfrentam dificuldades financeiras.

“Quando veio o baque, os sindicatos quebraram e ainda estão quebrados. Muitos viviam da arrecadação compulsória, e nós, aqui no Sinpro-SP, nunca acreditamos nisso. Sempre defendemos trabalhar com os sócios, trazer a categoria para dentro.”

Outro desafio é a desmobilização da juventude, que, segundo Zambon, está menos engajada: “Se você olhar para os sócios, a maioria tem mais de 40, 50 anos.”

Para ele, a solução passa por reinventar o sindicato, aproximando-se da base e promovendo maior engajamento dos trabalhadores.

Movimento sindical como “filho da gente” e mensagem final

Para Zambon, o movimento sindical se torna parte da vida do dirigente: “O movimento sindical vira filho da gente, entendeu? A gente vai se envolvendo e segue firme na luta pela ideologia.”

Por fim, celebra a atual diretoria da Confederação: “A Confederação está num caminho bom. Tenho um coordenador-geral que sabe escutar, uma diretoria entusiasmada. Só não temos dinheiro, mas o resto nós temos. Essa diretoria vai conseguir dar passos importantes. No movimento em geral, precisamos trabalhar com as centrais e com a base. Trazer a base para dentro do sindicato é a chave para a evolução.”

Por Romênia Mariani

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