Fepesp: 10 assuntos que podem aparecer na redação do Enem
A possível tônica da redação do Enem este ano: conservadorismo
A redação é uma das maiores preocupações dos estudantes em relação ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Sozinha, representa 20% da nota final e requer uma capacidade de elaboração textual, domínio da linguagem e o exercício da argumentação.
Embora não seja possível adivinhar o tema da redação do Enem neste ano, é possível especular, tendo em vista o cenário político atual, as preocupações emergenciais da população ou as pautas que foram mais frequentes na esfera pública. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, já revelou que o exame não cobrará temas “ideológicos”, por exemplo, sugerindo um tema de redação desvinculado dos direitos sociais.
Temas relacionados ao direito das minorias, como a realidade LGBTQ+, lutas raciais, papel da mulher na sociedade, não devem aparecer. Polêmicas recentes envolvendo o governo federal como a Amazônia, os indígenas, ou os direitos humanos provavelmente também estão sob veto.
Dentro da expectativa mais fria, conteudista e positiva quanto às ideias do governo federal no Enem em 2019, dá para arriscar a possibilidade de alguns temas surgirem, baseando-se no viés conservador da atual cúpula:
1 – Patriotismo
Como aponta o UOL Educação, o conceito de patriotismo pode aparecer como motriz para debater identidade nacional e soberania. A falácia de Bolsonaro acusando Macron de imperialista francês por oferecer ajuda ao complexo Amazônico, que na época ardia por incêndios clandestinos; ou a questão da saída dos médicos cubanos para preenchimento das vagas por médicos brasileiros ilustram o possível tópico.
2 – Vacinação
Os perigos do pensamento antivacina podem aparecer também, e levantam várias abordagens diferentes: do ponto de vista da sociedade da informação e das fake-news, através da saúde pública e de políticas epidemiológicas, o surgimento de movimentos negacionistas da ciência e etc. O tema é candente.
3 – O uso de drogas
Essa temática pode ser explorada pelo Enem, para que o aluno se posicione sobre o narcotráfico como o motor para os altos índices de criminalidade que afligem a sociedade, além do recorte necessário de classe social.
4 – Disciplina do ambiente escolar
Com o projeto de militarização das escolas de Bolsonaro, é possível que o governo tente legitimar tais ideias através do Enem 2019. pode-se trazer à discussão o bom desempenho de sistemas de ensino baseados em disciplina, em países como a Coreia, por exemplo. A abordagem cívico-militar também pode aparecer como possível solução para reduzir a alta taxa de evasão escolar no Brasil.
5 – Liberalismo
O presidente e a ala econômica do governo são autodeclaradamente neoliberais. A maior parte de suas políticas econômicas pregam a austeridade fiscal e incentivam o livre-mercado. A liberdade de empreender, nesse caso, supera o debate sobre bem-estar social ou garantia dos direitos dos trabalhadores.
6 – Variedades linguísticas
Imenso, o Brasil também é multicultural, multilinguístico. As várias diferenças léxicas e de sotaque podem cair na redação do Enem. O tema é neutro, não levanta polêmicas políticas, e, portanto, alta chance de aparecer.
7 – Valores da juventude
Ótimo tema para fugir de polêmicas, pois é uma oportunidade de o atual governo escutar o que os jovens têm a dizer e descobrir quais são os seus projetos, seus valores, sonhos e o que eles esperam do Brasil.
8 – Violência nas escolas
Mais uma vez um tema que possui conexão com o projeto de Bolsonaro, que visa a criação de escolas cívico-militares para tornar os ambientes escolares mais seguros e disciplinados.
9 – Valores familiares
Os valores familiares, dos “cidadãos de bem”, podem aparecer na forma de debates sobre tradição e núcleo familiar, além de uma discussão falaciosa acerca da liberdade cristã de ditar conceitualmente a estética da família brasileira.
10 – Meio Ambiente
Assunto de máxima relevância no contemporâneo. E, embora Bolsonaro não acredite no aquecimento global e nas implicações da destruição do ecossistema global, o tema tem grandes chances de cair na prova, após a repercussão das queimadas na Amazônia, o vazamento de óleo no Nordeste e o discurso de Greta Thunberg na ONU.