Governo Bolsonaro optou por esconder as joias ao escolher a via ‘nada a declarar’, diz servidor da Receita
Ele também relatou as inúmeras tentativas de emissários do governo em reavê-las
Funcionário da Receita Federal do Brasil relatou, na tarde desta segunda-feira (6), que o assessor do ex-ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou esconder as joias, presentes do governo da Arábia Saudita para Bolsonaro e a então primeira-dama Michele, ao escolher a via “nada a declarar” na alfândega do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Assessores e outros subordinados não fazem o querem. Fazem o que mandam. Segundo o ditado popular, essa regra é inescapável: manda quem pode, obedece quem tem juízo.
O relato foi feito durante reunião entre representantes do MPF (Ministério Público Federal) em Guarulhos, da PF (Polícia Federal) e da Receita Federal, na cidade da Grande São Paulo.
Ele também relatou as tentativas de emissários do governo em reavê-las, segundo apurou a TV Globo.
Cada fato desvendado em torno dessa patranha, fica mais evidente que o ex-presidente tentou, por todos os meios, ficar com o “presente”, que supostamente seria para a ex-primeira-dama.
SURPRESA PARA A RECEITA
O funcionário disse aos participantes da reunião que foi uma surpresa para a Receita o fato do então ministro Bento Albuquerque ter deixado de informar que levava presentes para o então presidente Jair Bolsonaro (PL), já que, na ocasião, o ex-ministro foi informado da necessidade da declaração.
O servidor da Receita também explicou que, no entendimento do órgão, os objetos eram um presente ao Estado brasileiro e, portanto, não havia outro caminho senão registrá-los como patrimônio da União.
Isso foi explicado ao assessor e a Albuquerque, que chegou a retornar para saber o que estava ocorrendo.
INQUÉRITO POLICIAL
A PF aguarda a chegada de documentos da Receita para instaurar o inquérito policial. Isso vai ser feito nas próximas horas.
A investigação deve ficar sob a responsabilidade da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários. A investigação também ficará a cargo da Superintendência da PF em São Paulo. O Ministério Público Federal de Guarulhos, na região metropolitana, foi acionado para acompanhar o caso.
A PF informou que o inquérito para investigar terá prazo inicial de 30 dias, podendo ser prorrogados.
ENTENDA O CASO
O governo Jair Bolsonaro tentou trazer ao Brasil em 2021, de forma irregular, joias com diamantes avaliadas em R$ 16,5 milhões.
As joias eram “presentes” do governo da Arábia Saudita supostamente para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
A informação foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela TV Globo.
DEVOLUÇÃO DAS JOIAS
A fim de se distanciar desse rumoroso caso, a ex-primeira-dama acionou advogado durante o fim de semana para avaliar requerimento formal para que as joias que vieram ilegalmente da Arábia Saudita sejam enviadas de volta ao país do Oriente Médio.
Michelle entende que essa é uma forma de deixar claro que ela não tem relação com o episódio, que alega ter tomado conhecimento apenas por meio da imprensa.
A consulta da ex-primeira-dama também busca entender que tipo de correlação poderia ser feita entre ela e os objetos.
CONHECIMENTO PELA IMPRENSA
Os meios de comunicação obtiveram acesso a trechos de falas de Michelle a aliados, em que afirma que soube do caso das joias trazidas ao Brasil de forma ilegal apenas por meio da imprensa.
Ela, segundo informou, foi avisada na última sexta-feira (3), por volta das 20h, por pessoa próxima. Ela então recebeu prints pelo celular da reportagem do jornal Estado de S. Paulo.
Num primeiro momento, a reação de Michelle foi parecida com a publicação que fez no Instagram, também na sexta-feira, ironizando a imprensa.
Em seguida, a ex-primeira-dama foi avisada que o conjunto de diamantes é real que estava retido. Então, ainda de acordo com as fontes, ela contatou o marido, Jair Bolsonaro, para entender o caso.
MENTIRA MENTIROSA, TUDO INDICA
Michelle foi informada por Bolsonaro que ele próprio só tomou conhecimento do conjunto de joias em dezembro de 2022 — que chegaram ao Brasil em outubro de 2021 —, por meio da Receita Federal.
Também disse que só depois disso teria tentado reaver os objetos, mas não conseguiu, explicando a situação para Michelle.
Assim, Michelle retornou o contato com os aliados irritada e utilizou o ditado popular de que teria sido, de novo, “a última a saber”. Michelle disse, ainda, que houve algum problema de comunicação, perguntando como as joias vieram ao Brasil e, sendo presentes, qual o motivo do gabinete dela, em nenhum momento, ter sido avisado.
A ex-primeira-dama tenta entender o que poderia fazer a partir da situação posta, buscando aconselhamento jurídico, primeiro para deixar claro que não agiu para se ligar às joias e se poderia reavê-las ou dar outro destino a elas.
PASSO A PASSO DO RUMOROSO CASO
Em outubro de 2021, a Receita Federal apreendeu, no aeroporto de Guarulhos (SP), joias supostamente enviadas pela Arábia Saudita à então primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Siga o passo a passo:
- Colar, anel, relógio e par de brincos de diamantes estavam escondidas na mochila de assessor do então ministro de Minas e Energia. Na ocasião, a delegação brasileira retornava de missão no Oriente Médio;
- Integrantes do governo Bolsonaro tentaram ilegalmente retirar os itens retidos pela Receita. A gestão solicitou o envio das joias como entrega diplomática para a embaixada da Arábia Saudita;
- O ex-presidente Jair Bolsonaro alegou, quando não tinha mais jeito, que as joias iam para acervo da Presidência e negou ilegalidade. No entanto, não declarou isso à Receita, só após tentar por outros meios obscuros reaver os objetos.
- A Receita Federal, por meio de nota, informou que em nenhum momento houve pedido para incorporar joias ao acervo.