Greve continua: em ato no Rio, petroleiros comemoram decisão que suspende demissões
Uma grande marcha reuniu petroleiros, trabalhadores de diversas outras categorias, representantes de centrais sindicais e de movimentos populares de todo o país no centro do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (18).
O ato foi realizado em apoio à greve dos petroleiros, que já dura 18 dias, e contra as tentativas de privatização da Petrobras pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), uma das organizadoras do protesto, o ato reuniu cerca de 15 mil pessoas.
Entre as principais reivindicações da greve, que é uma das maiores na história da categoria, está a revogação da demissão de mais de mil trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR). Por conta da pressão dos petroleiros, o Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR) suspendeu as demissões pelo menos até o dia 6 de março. A decisão foi divulgada no final da tarde desta terça (18).
A ação, em caráter provisório, foi comemorada durante a marcha, mas os petroleiros disseram que a greve continuará, mesmo depois de o ministro e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra, determinar multa diária de R$ 500 mil à Federação Única dos Petroleiros (FUP) e dar ao governo federal e à Petrobras o direito de demitir os grevistas.
“O ministro Ives Gandra só ouve a Petrobras. Mas ele não é o único ministro, há outros lá. O Ives Gandra não deu o direito do contraditório, temos mais de 18 petições nos autos e ele não analisou nenhuma. E temos ainda uma comissão dentro da Petrobras há 19 dias, pronta para negociar com a direção da empresa, mas até agora nada”, afirmou ao Brasil de Fato o dirigente da FUP, Simão Zanardi Filho.
Decisão monocrática
Advogado e ex-deputado federal do Partido dos Trabalhadores (PT), Wadih Damous relacionou a decisão ao fato de Ives Gandra pertencer à “extrema-direita”, mas, segundo ele, “a classe trabalhadora historicamente nunca se deteve diante da decisão de tribunais reacionários, e não vai ser diferente agora”.
“O TST é um tribunal tradicionalmente conservador, mas a decisão que se convencionou chamar de ‘decisão do TST’ é, na verdade, monocrática, é do presidente da Corte, e não do colegiado. Há ministros sensíveis à luta dos trabalhadores, apegados à ordem jurídica. Por isso, quando vierem se manifestar, dirão que a greve é legal, porque ela, de fato, é legal”, completou Wadih Damous.
Também presente no ato, Guiherme Boulos (Psol), liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), disse que a decisão de Gandra torna ainda mais clara a campanha eleitoral do ministro para ser indicado por Bolsonaro a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
“É uma decisão ilegal, não é a greve que é ilegal. Não é possível que o direito constitucional à greve seja afetado por uma decisão de um ministro que todo o Brasil saber ser ligado a Bolsonaro, a Olavo de Carvalho e que está em campanha para ser ministro do Supremo. A greve dos petroleiros segue firme e terá força para resistir a mais esse golpe”, disse o representante do MTST.
Na noite desta terça-feira (18), o TST sinalizou ainda que aceitaria mediar uma negociação se os petroleiros suspenderem a greve. Em novembro do ano passado, os petroleiros firmaram um acordo com a Petrobras e o TST para que não houvesse demissões. Os trabalhadores alegam, agora, que todos os acordos foram desrespeitados.
Demissões
Muitos trabalhadores da Fafen vieram do Paraná e estiveram à frente da marcha contra as demissões e contra a privatização da estatal. Há 20 anos na empresa, Patrick Fernando de Melo disse que os funcionários assistem à destruição de uma grande família de trabalhadores.
“A notícia é muito triste e estressante para todos nós. Temos uma vida de dedicação à empresa, meus filhos só conhecem a Fafen como fonte de sustento deles, da nossa família. O vínculo dos trabalhadores já é um vínculo familiar também, todos se conhecem e são muito unidos”.
Para Amaury Gilson Riba, que também trabalha há 20 anos na Fafen, o fechamento da fábrica vai provocar muito mais que mil demissões. “Não são só os mil funcionários. A matéria-prima que a gente produz vai para indústrias locais, são pelo menos 3 mil demissões na cidade. Isso sem falar no comércio de Araucária, que vai sofrer muito”, analisou o petroleiro.
Balanço
A greve dos petroleiros entrou em sua terceira semana, com novas adesões. Segundo a FUP, são 21 mil trabalhadores mobilizados em 121 unidades do sistema Petrobras, o equivalente a 64% do total de funcionários da empresa. Os trabalhadores mobilizados somam 58 plataformas, 24 terminais e todo o parque de refino da empresa: 11 refinarias, SIX (usina de xisto), Lubnor (Lubrificantes do Nordeste), AIG (Guamaré). A mobilização é para que as três últimas plataformas da Bacia que ainda não entraram na greve (PRA-1, P-54 e P-65) se somem ao movimento nacional.