IA nas escolas públicas de São Paulo: avanço ou retrocesso?
Por Vitoria Carvalho*
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, recentemente anunciou sua intenção de introduzir inteligência artificial (IA) nas aulas do ensino fundamental e médio das escolas públicas do estado. Embora a proposta possa ser vista como uma tentativa de modernizar o sistema educacional, há preocupações legítimas sobre os impactos negativos que essa medida pode ter, especialmente em relação à precarização do trabalho dos professores.
A introdução da IA nas salas de aula levanta questões importantes sobre a qualidade da educação e o papel dos professores. Enquanto a tecnologia pode fornecer ferramentas úteis para melhorar o ensino e o aprendizado, sua implementação deve ser cuidadosamente considerada para evitar efeitos colaterais prejudiciais.
Uma das principais preocupações é a possibilidade de a IA substituir ou reduzir significativamente a necessidade de professores. Ao permitir que algoritmos assumam funções anteriormente desempenhadas por educadores, corre-se o risco de diminuir a qualidade do ensino e prejudicar o desenvolvimento dos alunos. A interação humana é fundamental para o processo educacional, proporcionando não apenas conhecimento, mas também apoio emocional e inspiração aos estudantes.
Além disso, a implementação da IA nas escolas públicas pode agravar as desigualdades existentes no sistema educacional. Nem todas as escolas têm acesso igualitário a recursos tecnológicos, e as instituições mais carentes podem enfrentar dificuldades adicionais na adoção e utilização eficaz da IA. Isso poderia ampliar ainda mais a lacuna de desempenho entre os alunos de diferentes origens socioeconômicas.
Outro ponto de preocupação é o impacto no trabalho dos professores. Enquanto a IA pode facilitar certas tarefas administrativas e de ensino, como a correção automática de testes ou a personalização do ensino com base no desempenho individual dos alunos, ela também pode levar à desvalorização da profissão docente. Os professores podem se tornar meros supervisores de tecnologia, perdendo a autonomia e a criatividade que são essenciais para o sucesso educacional.
Além disso, a dependência excessiva da IA pode criar uma mentalidade de “ensino em massa”, em que os alunos são tratados como simples receptores de informações padronizadas, em vez de indivíduos únicos com necessidades e estilos de aprendizagem diferentes. Isso pode comprometer a capacidade das escolas de cultivar habilidades essenciais, como pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas.
Em vez de buscar soluções simplistas baseadas apenas na tecnologia, é crucial adotar uma abordagem mais holística e inclusiva para melhorar a educação. Isso inclui investimentos significativos em infraestrutura escolar, formação de professores, currículo adaptável e suporte individualizado aos alunos. A tecnologia, incluindo a IA, pode desempenhar um papel importante nesse processo, mas deve ser utilizada de forma complementar e cuidadosamente integrada ao ambiente educacional existente.
Em conclusão, a proposta do Governador de São Paulo de introduzir IA nas escolas públicas levanta sérias preocupações sobre o futuro da educação no estado. Enquanto a tecnologia pode oferecer benefícios potenciais, é essencial abordar os desafios e riscos associados à sua implementação, especialmente no que diz respeito à qualidade do ensino, equidade educacional e valorização dos professores. Em última análise, o objetivo deve ser melhorar a educação para todos os alunos, e isso só pode ser alcançado através de uma abordagem cuidadosamente planejada e inclusiva.
*Vitoria Carvalho é estudante de jornalismo e estagiária da Contee