Kamala e ou Michelle e o “final feliz”

Eis que os EEUU, em particular o PD (Partido Democrata), encontrou a solução mágica para os problemas do mundo. Primeiro, o dos Estados Unidos, por óbvio, depois os do mundo, é claro.

Por Marcos Verlaine*

Devem disputar as eleições presidenciais de lá, em novembro, 2 mulheres negras do PD — Kamala Harris, atual vice, e Michelle Obama, ex-primeira-dama —, para tentar derrotar o neofascista celerado Donald Trump. Essa foi a solução encontrada pelo PD para evitar a derrota anunciada de Joe Biden, sobretudo depois de o providencial atentado sofrido por Trump. Ambas são de direita e conservadoras. Talvez Michelle seja menos.

Perfeito, para os EEUU, cuja democracia racial deve ser espelhada no “sugestivo caso” de George Floyd, homem negro, detido em 29 de maio de 2020, pelo policial branco Derek Chauvin, que o assassinou, de forma cruel. Quem não se lembra?

O agente público foi demitido após ser flagrado com o joelho sobre o pescoço de Floyd, em Minneapolis, nos EEUU.

Ele respondeu por homicídio culposo — sem intenção de matar —, e foi condenado pelo assassinato em terceiro grau — quando é considerado que o responsável pela morte atuou de forma irresponsável ou imprudente. Floyd morreu posteriormente em hospital após a detenção.

Kamala e ou Michelle e as doutrinas estadunidenses
Tanto faz Kamala ou Michelle, pois qualquer 1 das 2 à frente da Casa Branca não fará grande diferença para o mundo, pelo fato serem mulheres e negras.

É claro que tem por trás desse fato simbologia histórica, pois nunca 1 mulher presidiu os EEUU, muito menos negra, num país racista, como é o caso de nosso “grande irmão do norte”.

Na Presidência, se vitoriosas forem, tanto 1 quanto à outra irão seguir as doutrinas — têm várias — estadunidenses para o mundo. Mas vamos entender as 2, talvez, fundamentais — a Monroe e o Big Stick —, cuja síntese da primeira é “América para os americanos” e a segunda, a tradução é “grande porrete”.

Esta frase resume 1 das políticas externas mais antigas e emblemáticas dos Estados Unidos, que tem 200 anos: a Doutrina Monroe, que foi apresentada ao mundo, em 2 de dezembro de 1823, pelo presidente James Monroe (1817-1825), em discurso no Congresso dos Estados Unidos.

Na mensagem, Monroe emitiu alerta às potências europeias para que permanecessem fora do continente americano. O que parecia algo interessante e positivo para o subcontinente, se tornou a tragédia que hoje vivemos, sob o domínio dos EEUU, depois mais radicalizada quando o mundo foi dividido em zonas de influência, ao final da 2ª Guerra, em 1945. Mas esta é história que pode ser tratada em outro momento.

E o Big Stick, cuja tradução literal é “grande porrete”, se refere ao estilo de diplomacia usado pelo presidente dos Estados Unidos, entre 1901 e 1909, Theodore Roosevelt Jr. —, como corolário da Doutrina Monroe —, segundo a qual os Estados Unidos deveriam exercer sua política externa como forma de deter as intervenções europeias, principalmente, a britânica, no continente americano.

Pax Americana

Há ainda a chamada “Pax Americana”, cujo termo é latino e refere-se à hegemonia estadunidense no mundo. E, também, indica o período de relativa paz entre as potências ocidentais e outras grandes potências do fim da 2ª Guerra Mundial, coincidindo com a atual dominação econômica e militar dos EEUU, em estreita colaboração com a ONU.

Este conceito coloca os EEUU no moderno papel que poderia ter o Império Romano em sua época — Pax Romana — e o Império Britânico no século 19 — Pax Britannica — para o papel de “polícia do mundo”. O resultado são incursões militares dos EEUU para combater as ações hostis aos interesses estadunidenses e dos países aliados.

Então, grosso modo, tanto faz quem ganhar as eleições nos ‘states’. Claro, ninguém quer o estilo celerado de Trump, que não é pouco coisa. Daí, pragmaticamente, é melhor o PD do que o PR (Partido Republicano), sob Trump.

Mas, definitivamente, isso nada tem a ver com o fato de as candidatas do PD serem mulheres e negras. Quem se diz de esquerda e não entender esse fato, não tem, talvez, a mínima clareza de compor nessa clivagem política.

“Final feliz”

Primeiro, é preciso que se diga que não existe, sempre, final feliz. Isso foi invenção da cinematografia hollywoodiana. Portanto, essa euforia de setores da esquerda brasileira, em particular, a identitária, tem a lógica do “final feliz” hollywoodiano.

Essa esquerda eufórica e identitária está perdida e sem rumo. Comemorar ou exultar a escolha de 2 mulheres negras, pelo simples fato de serem o que são, mulheres e negras, cujo fim se resume nisto e nada mais, demonstra a barafunda em que estamos metidos.

(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap

Do Diap

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