Limite das cotas, falta de apoio e violência explicam desigualdade racial no ensino superior, diz diretora do Cedra

Restrição das políticas afirmativas e abandono das estudantes revelam gargalo que mantém negros fora das universidades

Um levantamento do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), divulgado nesta terça-feira (25), mostrou a distância entre negros e brancos na educação, sobretudo no ensino superior. Para a diretora-executiva Cristina Lopes, os dados revelam os limites estruturais da política de cotas e, sobretudo, a ausência de políticas de permanência. A análise foi feita em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta quarta (26).

A pesquisa mostrou que apenas 14,9% das mulheres negras acima de 25 anos concluíram o ensino superior em 2023, contra 30,3% das mulheres brancas. Para os homens negros, o índice é ainda menor: apenas 11,2% tinham diploma superior, contra 25,9% dos homens brancos. Desde 2012, a distância entre mulheres brancas e negras no ensino superior aumentou de 11,9% para 15,4%. Entre homens, a desigualdade saltou de 12,1% para 14,7% no mesmo período.

Para Lopes, a diferença persiste porque a Lei de Cotas tem um alcance restrito. “As cotas raciais só são válidas para as universidades públicas, e as universidades públicas representam 20% do total de matrículas no ensino superior”, explica. Com isso, a inclusão de estudantes negros ocorre apenas “no espaço público, na graduação pública”, o que reduz o impacto geral da política, critica. “Não tem um impacto tão avassalador como a gente gostaria”, resume.

A diretora destaca ainda que o grande gargalo do momento não é o acesso, mas a permanência nele. “O apoio a essas estudantes é fundamental para que essas mulheres consigam permanecer na universidade”, defende. Ela aponta que, sem creches, bolsas adequadas e apoio psicológico, mulheres negras, especialmente as que são mães, acabam sendo expulsas do ensino superior. “Tem mais dificuldade para que essa mulher permaneça na universidade porque ela não tem que manter só a si, mas também o filho ou a filha”, exemplifica.

Cristina Lopes também comenta o recorte masculino, indicando que “os homens negros são menos escolarizados do que as mulheres em geral, e eles chegam menos à universidade do que as mulheres negras.” Ela reforça que a escolaridade desse grupo é atravessada pelos efeitos da violência de Estado e da precarização. “Os homens negros entram menos na universidade por conta de toda essa trajetória da morte dos jovens negros, da evasão escolar para complementar a renda nas famílias”, pontua.

A representante do Cedra ressalta, por fim, que a maior desigualdade está no topo do sistema. “Não temos essa representatividade das mulheres negras, e essa representatividade é muito importante”, observa. Para ela, o país ampliou o acesso, mas não democratizou os espaços de maior prestígio, onde se formam pesquisadores, profissionais de saúde, juristas e engenheiros, que seguem majoritariamente brancos.

Fonte
Brasil de Fato

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