Língua, cultura e cinema: o Brasil que floresce pela palavra
No dia 5 de novembro, o Brasil celebra três pilares que sustentam a alma nacional: o Dia Nacional da Língua Portuguesa, o Dia Nacional da Cultura e o Dia do Cinema Brasileiro. Três comemorações emblemáticas que não são coincidência, mas convergência, porque é pela palavra que a cultura se expressa e, pela cultura, que o cinema ganha voz, imagem e sentido. No coração de todas essas manifestações pulsa a educação, sem a qual nenhuma delas floresce.
A Língua Portuguesa, instituída oficialmente como celebração nacional pela Lei nº 11.310/2006, é mais do que um instrumento de comunicação. É a argamassa que consubstancia o pensamento, a memória e a arte de um povo. Com mais de 260 milhões de falantes distribuídos por todos os continentes e reconhecida pela Unesco como patrimônio imaterial de relevância global, o português é o quinto idioma mais falado do mundo. No Brasil, ele se reinventou, acolhendo sons indígenas, africanos e europeus, tornando-se espelho da nossa diversidade.
Ruy Barbosa, homenageado nesta data, defendia a língua como expressão de soberania e cidadania. Mas o português do Brasil, vivo e em movimento, é também expressão da resistência cultural, do povo que transformou palavras em cantos, orações, versos, slogans, roteiros e canções.
Língua e cultura: raízes entrelaçadas
O Dia Nacional da Cultura, celebrado na mesma data, reforça esse vínculo intrínseco. Não há cultura sem língua, nem língua viva sem cultura. A língua portuguesa é o tronco que sustenta o vasto bosque da cultura brasileira, onde florescem a música, a literatura, o teatro, o cinema e a educação.
Ela carrega em si o som das ancestralidades: as línguas indígenas que nomearam o território, como Ipanema, Pindorama e Tupi, e as palavras africanas que ecoam a herança de resistência, como samba, axé e quilombo. Cada termo é uma história de encontro, conflito e criação.
Como lembra Loretana Paolieri Pancera, presidenta do Centro do Professorado Paulista: “Antes da chegada dos colonizadores europeus, diversas línguas nativas já eram faladas em todo o território brasileiro. A interação entre colonizadores, povos originários e africanos resultou em trocas linguísticas significativas que revelam nossa pluralidade cultural.”
Assim, a língua portuguesa falada no Brasil é uma síntese viva de muitas vozes e é na educação que ela se renova todos os dias, na boca dos estudantes e nas páginas dos livros.
O cinema como tradução da língua em imagem
O Dia do Cinema Brasileiro, também em 5 de novembro, completa essa tríade simbólica. O cinema é a arte de fazer a língua ver, de transformar palavras em imagens, poesia em movimento.
A data marca um acontecimento histórico. Em 5 de novembro de 1896, no Rio de Janeiro, foram projetados oito pequenos filmes, na primeira exibição pública do país. Era o nascimento da sétima arte brasileira e o início de uma narrativa que, desde então, traduz a alma popular, a força da oralidade e o poder do verbo.
Desde Humberto Mauro até Glauber Rocha, desde Deus e o Diabo na Terra do Sol até Bacurau, o cinema brasileiro é um exercício de imaginação e resistência. Em cada roteiro, em cada diálogo, a língua portuguesa se projeta como instrumento de crítica, sensibilidade e criação coletiva.
E a educação tem sido uma aliada fundamental nessa trajetória. Projetos como o Cinesolarzinho, o Curtas de Animação e o CineCidades revelam como o audiovisual se torna ferramenta de formação cidadã e sensível.
O Cinesolarzinho leva às crianças a experiência do cinema em sessões sustentáveis, com energia solar, exibindo curtas-metragens brasileiros voltados ao público infantil, mostrando que a sétima arte pode ser também lição de sustentabilidade e inclusão.
O Curtas de Animação, idealizado pela Direção Cultura e o Núcleo de Cinema de Animação de Campinas, circula dentro das escolas, estimulando grupos de alunos a criarem seus próprios filmes, do roteiro ao storyboard, da trilha sonora à animação, exercitando autoria e trabalho coletivo.
Já o CineCidades transforma o espaço urbano em protagonista de filmes e debates sobre mobilidade, habitação, patrimônio e sustentabilidade, revelando que as cidades também contam histórias e que a cultura pode ser um olhar sobre o lugar que habitamos.
Esses exemplos mostram que a língua, a cultura e o cinema se encontram em um mesmo gesto: educar pela arte e criar pela palavra.
Educação: o solo fértil da língua e da cultura
Sem educação, a língua se empobrece e a cultura se esvai. É pela escola, pela leitura e pelo cinema que se forma o olhar crítico e a capacidade de sonhar. É na sala de aula que o português ganha novas interpretações e onde as crianças aprendem que cada palavra tem história, som e poder.
Educar, portanto, é cultivar a língua, é manter viva a árvore da cultura e garantir que dela brotem novos autores, cineastas, educadores e cidadãos.
Por Romênia Mariani





