Lula combate alarmismo sobre Venezuela e diz que aguarda divulgação de atas

Presidente classificou processo eleitoral como 'normal e tranquilo' e criticou bloqueio dos Estados Unidos

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou nesta terça-feira (30) sobre a crise política que eclodiu na Venezuela após o anúncio da vitória do presidente Nicolás no último domingo. Uma série de protestos violentos vem ocorrendo desde que a oposição não aceitou o resultado e defende narrativa de fraude.

“Se tem um problema como vai resolver? apresenta a ata. Se houver dúvida entre oposição e situação sobre a ata, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça correr o processo. Terá uma decisão que a gente tem que acatar”, disse ele à Globonews.

“Estou convencido que é um processo normal. O que precisa é que as pessoas que não concordem tenham o direito de se expressar e o governo tenha o direito de provar que está certo.”

“O PT fez um elogio ao povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houveram e ao mesmo tempo reconhece que o Tribunal Eleitoral reconheceu o Maduro como vitorioso. Mas a oposição ainda não, então tem um processo. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial, mas não tem nada de anormal”.

“Na hora que tiver apresentado as atas e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral na Venezuela.”

O presidente ainda rebateu a ideia de declaração conjunta de Brasil, México e Venezuela. “Não acho necessário. O presidente Maduro sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver, mais chance ele terá de ter tranquilidade pra governar a Venezuela.”

“Porque nós, eu enquanto cidadão do planeta Terra e enquanto presidente, acho que é preciso acabar com a ingerência externa nos outros países”, disse ele sobre o bloqueio econômico unilateral imposto pelos EUA à Caracas.

“A Venezuela tem o direito de construir seu modelo de crescimento e desenvolvimento sem que haja um bloqueio. Um bloqueio que mata Cuba há 60 anos, um bloqueio que penaliza o Irã, que penaliza a Venezuela, temos que parar com isso. Cada um constrói seu processo democrático, cada um tem seu processo eleitoral”, concluiu.

As declarações de Lula foram feitas após telefonema com o presidente dos EUA, Joe Biden. Os dois conversaram por cerca de 30 minutos e Lula observou que tem mantido acompanhamento permanente do processo eleitoral por meio de seu Assessor Especial, Celso Amorim, enviado a Caracas. Os dois presidentes concordaram ser fundamental a publicação das atas eleitorais.

Eleição, suposta fraude e violência: como chegamos até aqui?

A votação no último domingo (28) ocorreu com tranquilidade, segundo as próprias autoridades eleitorais. Os resultados definitivos foram divulgados por volta da 1h da manhã da segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Com 80% das urnas apuradas, o órgão deu vitória ao atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia, ex-diplomata de direita e principal candidato da oposição. Os resultados, segundo o CNE, já eram irreversíveis.

No palácio de Miraflores e rodeado por apoiadores, Maduro fez seu discurso da vitória, no qual agradeceu os eleitores e pediu respeito aos resultados eleitorais. “Haverá paz, estabilidade e justiça. Respeitem a decisão de 28 de julho”, disse.

Minutos depois, a oposição se manifestou e não reconheceu os resultados. González apareceu acompanhado de Maria Corina Machado, líder opositora que, por complicações com a Justiça, foi inabilitada de ocupar cargos públicos no país, e disse que era o vencedor da disputa.

Sem apresentar provas, os opositores alegaram uma “fraude eleitoral” e disseram ter atas de votação que supostamente comprovariam a divergência nos números.

Após a postura de González e Machado, o dia seguinte foi de tensão e violência. Marchas foram registradas em redutos historicamente opositores de Caracas, capital venezuelana, e manifestantes chegaram a incendiar prédios e patrimônios públicos.

O governo denunciou as ações, responsabilizou os opositores pela violência e classificou o movimento como uma “tentativa de golpe de Estado”.

Na noite da segunda-feira (29), Edmundo González e Maria Corina Machado voltaram a denunciar a existência de “fraude eleitoral” e, desta vez, deram números: supostamente, o candidato de direita teria vencido com mais de 6 milhões de votos.

Eles ainda alegaram estar em posse de 73% das atas eleitorais que comprovariam este resultado e que esses documentos seriam disponibilizados em um site. A página, no entanto, não permite uma consulta ampla aos comprovantes e é impossível checar por conta própria a veracidade da narrativa opositora.

Até às 18h do dia 30 de julho, o CNE, por sua vez, ainda não havia divulgado a totalização das atas. Os números são aguardados por países como Brasil, Colômbia e México para uma posição final sobre o processo.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Do Brasil de Fato

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