MEC acerta ao financiar cursinhos populares, mas precisa proteger Fundeb, defende professor
Daniel Cara, da USP, elogia investimento social, mas critica cortes e mudanças de prioridade na política educacional
O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara avaliou como positiva a decisão do Ministério da Educação (MEC) de destinar R$ 108 milhões a cerca de 500 cursinhos populares em 2026. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele destacou o papel dessas iniciativas na democratização do acesso à universidade.
“Eu tenho uma admiração enorme por esse modelo. Eu considero que esse é um caminho de educação popular que, de fato, tem feito a diferença, tem ajudado a democratizar a universidade, junto com a política de cotas, obviamente”, afirmou. Segundo o educador, o investimento deve ser “comemorado”, porque os cursinhos populares “sobrevivem com muito pouco recurso” e, em muitos casos, dependem de emendas parlamentares.
“Os cursinhos populares fazem muita diferença para a democratização do acesso à universidade, recuperam muitas vezes aquilo que não foi possível aprender durante o ensino fundamental e o ensino médio, e eu considero que foi um acerto do Ministério da Educação essa notícia”, acrescentou.
Cara ressaltou que o fortalecimento dos cursinhos também contribui para ampliar o acesso ao ensino superior público, espaço que ainda reflete desigualdades raciais e sociais. “A universidade ainda não deixou de ser elitista, não vou dourar a pílula, mas avançou demais. É um avanço inimaginável, e muito disso se deve aos cursinhos populares”, disse.
O professor elogiou as transformações nas universidades após a Lei de Cotas de 2012, mas manifestou uma preocupação com a atual prioridade do MEC em cursos técnicos voltados ao mercado de trabalho. “O estímulo está na educação profissional muito vinculada ao interesse das empresas. Esse não é o caminho. O caminho é a universidade”, defendeu.
Financiamento e valorização dos profissionais da educação
Sobre o projeto que propõe fixar o piso dos técnicos e administrativos da educação básica em 75% do piso do magistério, Cara classificou a proposta como “uma revolução”. O texto já foi aprovado em comissões da Câmara e prevê que o reajuste seja financiado com recursos do Fundeb. “Isso vai ter o mérito de dinamizar a economia de diversos municípios brasileiros. Eu defendo a total isonomia: o piso salarial do magistério teria que ser o piso de todos os profissionais da educação.”
Ele também criticou as tentativas recorrentes de reduzir recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). “O governo federal tem agido numa perspectiva um pouco ingênua. Ele acha que é possível apaziguar a sanha do mercado financeiro e da Faria Lima. E não tem nada que segure a sanha da Faria Lima”, alertou.
Para o professor, a educação e a saúde devem ser tratadas como áreas intocáveis no orçamento público. “Os recursos da educação e da saúde são princípio. São os três grandes esforços do Estado brasileiro, junto com a Previdência”, apontou.





