Mesmo após revisão, material didático do governo Tarcísio continua com erros
OUTRO LADO: Secretaria da Educação de SP diz que aprimorou processos e já conferiu 30 mil slides, após Justiça determinar que aulas fossem retiradas do ar
Isabela Palhares
O material didático do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) continua sendo distribuído para as escolas com erros conceituais, mesmo após a Secretaria de Educação paulista ter anunciado que faria uma revisão adicional das aulas.
No último dia 6 de setembro, a pasta comandada por Renato Feder encaminhou um comunicado a todas as escolas dizendo que, “na busca pela garantia da qualidade do material produzido para o 3º bimestre” todas as aulas, de todos os componentes curriculares dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e ensino médio seriam revisados.
O anúncio ocorreu dois dias após a Justiça determinar, em decisão provisória, que as aulas com erros fossem retiradas do ar em um prazo de 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento.
A secretaria orientou os professores a baixarem uma nova versão do material a partir da última segunda-feira (11), quando já teria sido concluída a revisão adicional.
Mesmo na nova versão, professores das escolas estaduais continuam a encontrar erros conceituais no material programado para ser usado no 3º bimestre. Em um deles, por exemplo, na aula de “defeitos da visão” para alunos do 6º ano, o texto fala sobre o uso de lente convergente para corrigir hipermetropia, mas a imagem apresentada aos alunos é de uma lente divergente.
Em outra aula, no material de matemática do 8º ano, um exercício afirma que há um triângulo equilátero (todos os lados com a mesma medida) inscrito em um quadrado —o que não é possível e é comprovado pelo teorema de Pitágoras.
Em nota, a Secretaria de Educação disse que todos os procedimentos de revisão da Coordenadoria Pedagógica (área responsável pela elaboração do material) foram intensificados para aprimorar a qualidade das aulas e que já foram revisados 30 mil slides que pela programação da pasta devem ser usados em setembro nas escolas.
Na manhã de sexta-feira (15), a Folha acessou o sistema onde as aulas do 3º bimestre estão disponibilizadas para os professores e o material continuava com os erros nas disciplinas de ciências e matemática. Após a secretaria ser questionada sobre as falhas, o conteúdo foi alterado no sistema.
A secretaria informou que o erro encontrado no material de ciências foi corrigido em 18 de agosto, ” antes de ser apresentado em sala de aula e antes do processo de revisão em andamento”. A pasta não explicou por que a aula com erro foi acessada no sistema pela Folha na manhã de sexta.
Sobre o erro no material de matemática, a pasta disse que se tratava de uma aula programada para ser utilizada entre 27 de julho e 4 de agosto. A revisão feita na última semana priorizou analisar os conteúdos de setembro, por isso, essa aula “está atualmente em revisão, assim como todo o conteúdo anterior a setembro”.
Produzido pela secretaria, esse material passou a ser distribuído às escolas em abril deste ano, para mais de 3 milhões de alunos. A ideia inicial do secretário de Educação era abrir mão dos livros didáticos enviados pelo MEC (Ministério da Educação) para que os professores só pudessem usar o conteúdo feito por sua equipe —ele recuou da decisão após forte repercussão negativa.
Uma série de erros gramaticais, conceituais e metodológicos tem sido apontada por professores e especialistas de diversas áreas. Uma das aulas, por exemplo, dizia que a Lei Áurea, de 1888, foi assinada por dom Pedro 2º e que a capital paulista possui praias.
Após a divulgação dos erros, a secretaria chegou a afastar servidores, e o coordenador responsável pela produção do material pediu demissão do cargo.
Segundo a Abrelivros (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais), que reúne as principais editoras didáticas do país, os livros didáticos comprados pelo MEC levam ao menos dois anos para ficarem prontos. Depois, eles ainda são submetidos a uma revisão externa para identificar erros ou inconsistências.
Em São Paulo, o material didático começou a ser distribuído às escolas menos de três meses após o início da produção. A secretaria não informa quem são as pessoas envolvidas no processo ou como é feita a revisão dos conteúdos. Informou apenas que professores da rede de ensino estão envolvidos na elaboração.