Neoliberalismo tem responsabilidade pela crise climática e ambiental
Contee Conta desta segunda-feira (13) buscou responder à pergunta: a catástrofe no RS é resultado apenas das mudanças climáticas?
“O sistema agroalimentar brasileiro produz essa crise climática. A gente desmata os biomas, acaba com a biodiversidade, e coloca no lugar pasto e monocultura de soja. É preciso repensar esse sistema agroalimentar que está fortemente comprometido com a devastação.” Foi o que denunciou, no Contee Conta desta segunda-feira (13), o engenheiro agrônomo Álvaro Delatorre, do Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST no Rio Grande do Sul e membro da Coordenação do Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade da Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Opac/Coceargs).
O programa buscou responder à pergunta: a catástrofe no Rio Grande do Sul é resultado apenas das mudanças climáticas? Além de Delatorre, o debate também contou com a participação de Silvana Piroli, coordenadora do escritório regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Silvana, que também secretária de Assuntos Jurídicos da CUT/RS e secretária adjunta de Assuntos Jurídicos da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam), apontou como os impactos da devastação no campo estão interligados aos da má utilização do espaço urbano.
“A crise ambiental acontece na cidade. É a partir do lugar em que a gente mora que aparecem os problemas”, destacou ela, lembrando que 2024 é ano de eleições municipais. “O vereador é quem vota a Lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano. Então, é aqui também que a gente pode fazer a grande mudança na utilização do solo urbano, para que a gente possa tornar as cidades não mais inteligentes, mas cidades com qualidade de vida. E qualidade de vida é respeitar o meio ambiente.”
O coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, observou que a agenda climática e ambiental foi subestimada sistematicamente ao longo das últimas décadas. E que já passou da hora de “colocar na agenda política de forma definitiva a questão ambiental, o que o neoliberalismo não dá conta de fazer”. Álvaro Delatorre e Silvana Piroli fizeram coro.
“A humanidade precisa fazer um rompimento com o paradigma capitalista, que foi responsável, ao longo da história, por promover uma ruptura sócio-metabólica entre o homem e a natureza, de tal forma que a apropriação dos recursos da natureza é uma forma de reprodução do capital, de acumulação. Aos moldes do neoliberalismo, desse sistema de acumulação capitalista, não temos alternativa”, considerou Delatorre.
“É preciso olhar bem para a ocupação do solo urbano. E é preciso dar condições para os trabalhadores que perderam tudo de morar em lugares dignos. Porque um aposentado que trabalhou a vida inteira, que perdeu a sua casa, e que agora está com 70 anos e só tem o salário da aposentadoria vai viver de quê?”, questionou Silvana. Isso faz cair por terra a defesa de estado mínimo, porque políticas públicas e Estado forte são essenciais para atender os que mais precisam. “Depois que a água baixar e terminarmos de contar os mortos, quem vai ficar mesmo para fazer a reconstrução será o Estado [governos municipais, estadual e federal]. E esse Estado precisa ser fortalecido.”
Assista ao programa na íntegra:
Táscia Souza