No dia em que Doria autoriza volta às aulas, São Paulo passa de 2 mil mortes em 24h

A medida de Doria vai contra a ciência, aparentemente defendida pelo governador e sua equipe técnica que trabalha na linha de frente da crise sanitária. APEOESP promete recorrer à Justiça

No dia em que estado de São Paulo bateu mais um recorde de vidas perdidas pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, escolas da rede pública estadual retomaram as aulas presenciais, nesta quarta-feira (14), depois da insistência do governador João Doria (PSDB) em expor professores e professoras ao risco de contaminação ao vírus.

Nas últimas 24 horas, o estado de São Paulo registrou 2.095 óbitos por Covid-19, um recorde em toda a pandemia, e pela primeira vez acima de 2 mil mortes. A média móvel diária também superou a marca de 1.000 mortes e atingiu um novo recorde, de 1.005 óbitos diários nos últimos sete dias. O recorde anterior, de 1.389 mortes, foi registrado no dia 6 de abril. São Paulo enfrenta o pior mês da pandemia, com registros acima de mil óbitos por seis dias até o momento.

Apesar desses números e de estudos comprovarem que somente protocolos sanitários rígidos nas escolas evita o contágio, o que não é possível na maioria das escolas da rede pública de SP por falta de manutenção e recursos, o governador determinou a volta as aulas presenciais. O Sindicato dos Professores e Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), critica a decisão do governador, que expõe alunos e professores à Covid-19 e promete acionar Doria na Justiça.

Em entrevista à Rádio RBA na manhã desta quarta, a deputada estadual Maria Izabel Noronha (PT), a Bebel, presidenta da Apeoesp, afirmou que não é o momento de retorno às aulas presenciais devido a piora da pandemia de Covid-19 no estado de São Paulo.

“À medida que voltam às aulas, alunos e professores utilizam o transporte público lotado e, assim, colocam em risco toda a comunidade escola. Nós queremos o teletrabalho, queremos defender a vida”, disse a deputada.

A decisão de Doria também vai contra a ciência, que ele diz defender tanto, e contra orientações da equipe técnica que trabalha na linha de frente da crise sanitária no estado. Especialistas afirmam, e não é de agora, que em ambientes fechados, sem ventilação e distanciamento entre pessoas, como é o caso das escolas, o risco de contaminação por Covid-19 é alto.

Pesquisa comprova: mais professores se contaminaram este ano

De acordo com levantamento feito por pesquisadores da Rede Escola Pública e Universidade (Repu), a incidência de Covid-19 entre professores de São Paulo no início deste ano foi maior do que a registrada na população em geral.

Mesmo que, segundo especialistas, crianças contraiam mais a forma leve da doença, elas transmitem o vírus. A nota técnica divulgada pelos pesquisadores contesta a informação da Secretaria Estadual da Educação, que divulgou um boletim epidemiológico sobre as infecções por Covid-19 na comunidade escolar entre janeiro e março, e concluiu que a infecção do vírus nas escolas foi menor do que fora deles.

Câmara aprova projeto de urgência da volta às aulas

Ignorando as 4 mil mortes diárias em razão da Covid-19 e a piora da pandemia no país, a Câmara dos Deputados votou nesta terça-feira a urgência do projeto que permite reabrir as escolas e faculdades durante a pandemia.

A pauta foi alvo de protesto por deputados da oposição. O requerimento de urgência foi aprovado na terça mesmo, com 307 votos favoráveis e 131 contrários. Com isso, a proposta (PL 5595/20) poderá ser pautada a qualquer momento.

Tudo isso com o país registrando 4 mil mortes por dia por complicações causadas pela Covid-19 e com o Brasil se aproximando de 360 mil vidas perdidas. Em apenas quatro dias foram mais de 10 mil mortes.

CUT

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