No seu primeiro dia, deputados da direita confirmam vocação da CPI do MST para circo

Na audiência, deputado bolsonarista difunde fake news e diz que PL de Orlando Silva “permite sexo entre pai e filho"

A abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), nesta terça-feira (23) caminhou entre a histeria e o nonsense, confirmando sua vocação para circo e alegoria.

Com ampla maioria de parlamentares da extrema direita, a CPI viu seu principal assunto, o MST, desaparecer em vários momentos, com deputados insistindo em teorias já desmentidas e superadas, com provocações ao governo e sem terra.

Um grupo de estudantes que visitava o Congresso Nacional aplaudiu o discurso da deputada federal Camila Jara (PT-MS), neta de trabalhadores sem-terra, integrantes do MST, que contou sua história. Em seguida, foram atacados por Carolina de Toni (PL-SC), que sem citar o projeto “Escola sem partido”, relembrou um dos folclores preferidos da direita brasileira da última década.

“A maioria deles aplaudiu esse discurso barato, devem estar sendo doutrinados dentro da sala de aula…Deveriam ensinar (nas escolas) que (o MST) é um movimento criminoso, que não deveria ser aplaudido”, criticou a bolsonarista, que tentou provocar os petistas.

“É fácil falar de justiça social e vem aqui de Iphone e bolsa da Louis Vuitton. Porque não dá a bolsa para compartilhar com os pobres? É fácil ser socialista de Iphone”, disse de Toni.

Em outro momento, o deputado federal Éder Mauro (PL-PA) decidiu relembrar o PL 3360, de autoria do deputado Orlando Silva (PcdoB-SP), que institui o “Estatuto das Famílias do Século 21”, que não tem qualquer relação com o MST.

“A bancada católica e evangélica não deixou passar um projeto do senhor Orlando Silva, o PL 3369, que simplesmente autorizava e legalizava que o pai pudesse fazer sexo com a filha, a mãe com o filho e irmão com irmão”, afirmou o deputado, que mentiu aos seus pares, fazendo uma interpretação muito particular do Estatuto da Família do Século 21.

O texto do PL 3369 diz: “São reconhecidas como famílias todas as formas de união entre duas ou mais pessoas que para este fim se constituam e que se baseiem no amor, na socioafetividade, independentemente de consanguinidade, gênero, orientação sexual, nacionalidade, credo ou raça, incluindo seus filhos ou pessoas que assim sejam consideradas. Parágrafo único. O Poder Público proverá reconhecimento formal e garantirá todos os direitos decorrentes da constituição de famílias.”

O projeto, portanto, reconhece as diversas constituições de família, mas não legisla sobre casamento ou união estável, nem mesmo sobre a aceitação, ou não, de relação sexual entre membros de uma mesma família.

Até o presidente

Como se não bastasse, o presidente da CPI, deputado federal Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), tentou calar a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), integrante da Comissão, depois que ela citou investigações autorizadas contra ele pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta participação em atos antidemocráticos.

O motivo foi a autorização dada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator no Supremo dos processos sobre os atos antidemocráticos, autorizou a Polícia Federal a retomar investigações sobre a atuação de Zucco em episódios registrados no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022.

Minutos após a notícia da autorização da reabertura ser publicada por veículos da imprensa, Sâmia se inscreveu para falar e citou o caso.

“Me inscrevi, senhoras e senhores, para dar uma notícia que acabou de sair na imprensa. Ficaram bastante incomodados com os deputados que falaram a respeito das investigações da Polícia Federal que recaem sobre o presidente, mas acabou de sair a notícia que o Moraes autoriza a Polícia Federal a retomar a investigação do presidente da CPI do MST pela participação em atos antidemocráticos, que até agora o senhor estava dizendo que era mentira”, falava, enquanto teve o áudio do microfone cortado.

Antes, Sâmia havia confrontado o deputado Ricardo Salles (PL-SP), relator da CPI, que tentou realizar uma manobra para renomear a Comissão como “Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a invasão de propriedade, depredação de patrimônio público e privado e crimes correlatos”. A parlamentar do PSOL protestou e obrigou o ex-ministro, conhecido por suas ações que prejudicam o meio ambiente, a recuar.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Brasil de Fato

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