‘O agronegócio produz riqueza, mas não desenvolve o país’, diz Stedile em CPI do MST

O dirigente do movimento saiu em defesa da reforma agrária diante de deputados defendores do agronegócio

Caroline Oliveira

O economista João Pedro Stedile, fundador e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criticou o agronegócio brasileiro depois que deputado Ricardo Salles (PL-SP), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, saiu em defesa do modelo de produção, nesta terça-feira (15).

Antes mesmo de ser ministro do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro (PL), Salles advogou a exploração da Amazônia seguindo princípios “capitalistas”. Ele sustenta a regularização de áreas previamente invadidas, inclusive na região amazônica, visando favorecer o agronegócio, a mineração ilegal, garimpo e a invasão de territórios indígenas.

Em maio de 2020, Ricardo Salles proferiu uma das suas declarações mais notáveis em relação ao meio ambiente: que o governo “passasse a boiada” em normas que desmontassem o sistema de proteção ambiental brasileiro.

“Eu gostaria de ouvir a sua opinião sobre o agro. Se o agro presta do ponto de vista de receitas ao país, desenvolvido, tecnologia, emprego, todos esses indicadores ao país. Se o senhor entende que esses país são suficientemente relevantes para reconhecer que o agronegócio cumpre um papel relevante no país”, disse Salles na CPI.

Em resposta, Stedile reconheceu que o agronegócio produz muita riqueza, mas que não distribui equitativamente entre a população. “No Mato Grosso, que é o paraíso do agronegócio, se a riqueza fosse distribuída para toda a população, haveria uma renda de R$ 54 mil por pessoa. O Mato Grosso seria o país mais desenvolvido do mundo. Mas para onde vai a riqueza? Vai para multinacional e banco”, afirmou Stedile.

“São grandes propriedades, usam as técnicas mais avançadas e agrotóxico, e produzem muita riqueza, mas produzem commodities para exportação, portanto repete o modelo agroexportador colonial, que não necessariamente representa distribuição de riqueza para a nossa sociedade.”

Stedile ainda afirmou que tais “grandes propriedades” não são as mesmas que sofrem com a ausência de infraestrutura e apoio estatal. Ele citou uma pesquisa feita pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que aponta para falta de estrutura em 61% das fazendas para armazenar a produção de grãos do país.

“Perguntaram a eles [fazendeiros] quais são os principais problemas. Primeiro, preço dos insumos que as multinacionais vendem para nós, porque nós não temos controle nenhum. Segundo, nós não encontramos mais mão de obra para explorar. E terceiro, as mudanças climáticas estão afetando a produtividade da nossa agricultura. São fazendeiros espertos. Estão se dando conta do problema”, afirmou Stedile.

“O latifúndio não se interessa em produzir. Ele quer apropriar os bens da natureza para acumular a riqueza. Então ele se apropria de terra pública, madeira, minérios, água, biodiversidade e acumula riqueza. Mas qual é o benefício para a sociedade desse modelo? Nenhum. Qual é a contradição deles? Não têm futuro. A sociedade não aceita mais o latifúndio como forma de explorar a natureza.”

Edição: Thalita Pires

Do Brasil de Fato

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