Notas internacionais

– Neste momento são três as fontes de tensão que Bolsonaro abriu com a política externa do Brasil: China, mundo Árabe e Mercosul.

– Bolsonaro, recebeu nesta segunda (5) o Embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang. O encontro aconteceu um dia após um embate entre Bolsonaro e Fernando Henrique Cardoso, via twitter, sobre os riscos do novo presidente prejudicar a imagem do Brasil no exterior e alguns dias após um duro editorial no China Daily sobre as perspectivas da relação entre os dois países. A China é o maior parceiro comercial do Brasil. O volume das trocas comerciais gira em torno de 50 bilhões de dólares. Não houve declarações após o encontro, de nenhuma das partes, apenas uma mensagem via twitter de Bolsonaro, dizendo agradecer a “consideração”.

– No mesmo dia em que Bolsonaro esteve com o embaixador chinês, foi divulgada uma entrevista com o presidente da Câmara de Comércio Brasil China, sediada em Pequim, Charles Tang. Na entrevista ele se refere aos empresários chineses e sua expectativa com o Brasil: “ninguém vai vir se não é bem vindo. Os chineses estão cheios de dúvidas”. Tang ainda citou projetos de infraestrutura em curso no Brasil, o desconforto com a visita de Bolsonaro a Taiwan e a inadequação do tratamento dado à China no período da campanha.

– Bolsonaro também recebeu o Embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernadini, nesta segunda (5). Um dos temas tratados foi o da extradição do italiano Cesare Battisti. Após a reunião, Bolsonaro disse que fará tudo ao seu alcance para efetivar a extradição. Battisti não pode ser extraditado pois o STF decidiu que a palavra final sobre sua situação foi dada pelo Presidente Lula em 2010, com a decisão de dar-lhe refúgio político no Brasil. Existe um recurso sobre o caso a ser votado no STF. A PGR, Raquel Dodge, pediu ontem ao STF, “preferência” no julgamento do recurso. O relator é o ministro Luiz Fux. PGR e AGU defendem que um presidente da república pode sim alterar a decisão.

– Não existe um comunicado oficial, mas fontes diplomáticas ouvidas por veículos internacionais afirmaram que as autoridades do Egito decidiram adiar sem nova data prevista a recepção ao chanceler brasileiro Aloyisio Nunes devido às ultimas declarações de Bolsonaro de que mudaria a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. O chanceler desembarcaria no país no dia 8 de novembro e ficaria até 11 de novembro com reuniões previstas com o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sissi e o responsável pelas relações exteriores Sameh Shoukry. O Egito é um grande parceiro comercial do Brasil, com cerca de 800 produtos intercambiados. A reação pode vir de outros países do mundo árabe e afetar a pauta exportadora do Brasil. Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, ouvido pela agência Estado, os países do Oriente Médio representaram 4% das exportações totais brasileiras em 2018, cerca de 8 bilhões de dólares, maior do que o comércio com toda a África, de cerca de 3,4%. Nunes está na China onde chefia a delegação brasileira na Feira de Importações de Xangai. O Brasil é um dos 12 países homenageados pela Feira de Xangai este ano.

– Sobre as placas unificadas de veículos dos países do Mercosul, que Bolsonaro diz ser fruto das “invenções bolivarianas venezuelanas”, o presidente eleito disse ontem em entrevista à Band ontem (5): “essas placas não são de interesse nacional (…) No que depender de mim, vamos colocar um ponto final nisso se houver uma forma legal e se realmente for a melhor opção”. O acordo data de 2010 (Venezuela entrou no bloco em 2012 e foi suspensa em 2017) e a implementação estava prevista no Brasil para 2016. Prazo de adequação vai até 2023. Argentina e Uruguai já usam o modelo unitário de placas, que tem como objetivo facilitar a circulação e unificar um banco de dados.

– Olavo de Carvalho se ofereceu para ser Embaixador do Brasil em Washingon. (quando a gente pensa que o poço tem fundo, ele tem mesmo é porão, como disse Celso de Barros).

– Migrantes hondurenhos que saíram em caravana no dia 13 de outubro rumo aos EUA começam a chegar na Cidade do México hoje. A intenção de Trump é fazer uma contenção na fronteira, para que os migrantes não saiam da fronteira enquanto aguardam deferimento dos pedidos de asilo. A princípio iam construir estruturas fixas, espécies de abrigos, mas agora falam em barracas. O que se prevê são condições desumanas de abrigo para milhares de pessoas.

– A presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Margarette May Macaulay, está no Brasil para preparação de um relatório sobre os direitos humanos no país. A OEA observa se o Brasil está atento a questões como levar presos à presença de um juiz em até 24 horas depois da prisão, acesso geral à Justiça, liberdade a mulheres grávidas e mães de crianças até 12 anos em caso de crimes não cometidos contra os filhos. Ela também se pronunciou sobre o fato de que são consideradas crianças as pessoas de 0 a 18 anos, não devendo ser encarceradas.

– Americanos vão às urnas hoje para as eleições legislativas. Será renovada toda a Câmara de Representantes e um terço do Senado. Também serão eleitos governadores em dois terços dos estados. A eleição é um teste para as políticas de Trump, que pode sair mais ou menos fortalecido das urnas. Democratas apostam na mobilização para que as pessoas compareçam às urnas, já que o voto não é obrigatório. Na véspera da eleição foram bloqueadas contas das redes sociais facebook e instagram com atividade suspeita.

Por Ana Prestes, cientista política

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