O Grande Irmão do Colégio Rio Branco

Não bastasse a aberração em si que é a instalação de câmeras nas salas de aula, o Colégio Rio Branco suspendeu 107 alunos do ensino médio por protestarem contra a presença do Grande Irmão em todas as classes. É o que contam reportagens publicadas nos grandes jornais de São Paulo.

Difícil saber qual das duas atitudes é pior – a punição ou a vigilância exacerbada. Fácil, entretanto, é reconhecer o que elas têm em comum. Ambas são medidas antieducativas, coercitivas e intimidatórias, atributos que deveriam passar longe de qualquer escola.

A iniciativa não deve ter sido tomada por questões de segurança. Condomínios e lojas instalam câmeras para inibir, pelo menos em tese, a ação de criminosos. É difícil acreditar que existam fatos tão graves dentro do Rio Branco que exijam as mesmas medidas usadas contra bandidos.

Também é complicado imaginar que o uso de câmeras serviria para inibir indisciplina ou prática de bullying na sala de aula. Pôr ordem na classe é responsabilidade do professor que não pode ser terceirizada.

Supondo que a luzinha dedo-duro flagre um aluno atazanando um colega ou aprontando das suas, o que fará a direção? Interromper a aula e desautorizar o professor?

A instalação das câmeras se presta a um só objetivo: o controle indevido sobre alunos e professores, num espaço – a sala de aula – no qual a direção não consegue interferir integralmente.

Antes, a escola verificava se o docente cumpria o planejamento, se suas provas, textos e exercícios tinham qualidade, se ele era pontual na entrega dos trabalhos, não faltava etc.

As câmeras permitem um outro nível de exercício de poder: o controle sobre o que o professor fala, como aborda um determinado assunto, como se porta na sala de aula.

Para os alunos, as câmeras e a punição imposta são reveladoras. Mostram que a escola não acredita naquilo que deveria ser o seu fim: a educação.

O lamentável episódio não tem fundamento pedagógico e fere a dignidade dos alunos, funcionários e professores do Colégio Rio Branco.

Fonte: Fepesp

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