O teatro da vida: 5 peças de Ariano Suassuna para ler, assistir, revisitar e rir muito…
“A vida é uma peça de teatro que não nos permite ensaios, por isso, cante, dance, ria, viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”, já dizia William Shakespeare, o formidável dramaturgo inglês.
Qual peça de teatro estamos encenando no momento? Qual peça almejamos protagonizar em seguida? É com essas provocações que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) comemora o dia do teatro, celebrado nesta quinta (19), e traz dicas culturais para o fim de semana.
No teatro da vida, os gêneros drama e terror estão em alta. Cores opacas predominam no momento. Chamas, fumaças, árvores no chão, cinzas, inocentes mortos ocupam o cenário. O enredo de guerra está no ar. As comédias estão suspensas por enquanto, segundo os malfeitores.
Em contrapartida, na literatura que imita a vida, encontramos peças teatrais para nos salvar do mundo tóxico, desumanizado, que está em chamas, silenciando vozes e retirando direitos. Afinal de contas não podemos aceitar o inaceitável.
“A gente quer comida, diversão e arte”. A gente quer paz, cultura, educação, os ensinamentos libertários de Paulo Freire por toda parte. A gente quer mais livros circulando pelo Brasil e o mundo. A gente quer afeto e alegria, no lugar de discurso de ódio e opressão. A gente quer o meio ambiente sorrindo e não gemendo de dor. A gente quer trabalhar para viver e não viver para o trabalho.
Antes de finalizar o roteiro dos sonhos, uma pausa para recuperar o fôlego. Respirar ares lúdicos se faz necessário. A Contee indica 5 peças teatrais do fantástico escritor paraibano, Ariano Suassuna, para ler, assistir, revisitar e rir muito…
1-O Auto da Compadecida
Uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira, conta a divertida história de João Grilo, um sertanejo pobre e mentiroso, e Chicó, o mais covarde dos homens. Dois trapaceiros, ardilosos e espertalhões, que se envolvem em uma série de aventuras. Ambos lutam pelo pão de cada dia e atravessam por vários episódios ludibriando a todos da pequena cidade em que vivem. Eles se divertem, enganando as pessoas na melhor tradição do jeitinho brasileiro.
2-A Farsa da Boa Preguiça
Bebe na fonte do universo mítico e poético do Romanceiro Popular Nordestino. A peça escrita em versos é a preferida de Suassuna e tem como um dos seus protagonistas o poeta de cordel e cantador de viola, Joaquim Simão, defensor do ócio criativo e que só pensava em dormir. Ele é casado com Nevinha, mulher religiosa e que vivia em função do marido e dos filhos. O casal mais rico da cidade, Aderaldo Catacão e Clarabela, possui um relacionamento aberto. O homem é apaixonado por Nevinha, enquanto a mulher quer seduzir Joaquim. Permeando as desventuras dos personagens, a história faz uma ode à boa preguiça ou ao ócio criador, com muito humor e crítica social.
3-A Pena e a Lei
Nessa peça, Ariano faz uma crítica severa às instituições que transformaram o “Brasil oficial” no país das elites, em detrimento do povo pobre do “Brasil real”. A obra baseada na tradição popular nordestina dos cordéis e teatro de bonecos, passeia pelo sagrado e profano, vai do trágico ao cômico, mesclando temas e linguagens na medida certa. Como boa farsa, escancara verdades dolorosas incitando o riso, ao mesmo tempo que estimula a reflexão sobre a imperfeita justiça dos homens frente à infalível justiça divina.
4- O Santo e a Porca
A peça tem como temática central a avareza e esmiuça o universo sertanejo com referências à literatura de cordel e aos folguedos populares do Nordeste. Narra a história de Seu Euricão Árabe, um velho fazendeiro do interior de Pernambuco, homem pão duro. Devoto de Santo Antônio, ele mantém em casa, sob constante vigilância, uma porca repleta de dinheiro, economia de toda uma vida. Quando recebe a notícia da visita de um rico fazendeiro vizinho, pressente que este vem atrás de seu tesouro. Ensandecido pelo terror de ficar sem nada, deixa-se levar pelas artimanhas de sua empregada Caroba que trama poderosas manobras e cria uma rede envolvente ao seu redor.
5- O Casamento Suspeitoso
A peça é uma comédia de costumes nordestinos que tem como foco central o casamento por interesse econômico, o famoso “golpe do baú”. Lucia Renata vem do Recife, acompanhada por seu amante Roberto Flávio e sua mãe Susana Cláudia, para casar-se com o ingênuo Geraldo, filho de Dona Guida e herdeiro de uma fortuna na cidade de Taperoá, interior da Paraíba. A mãe do rapaz desconfia da cilada e juntamente com os empregados da casa fazem de tudo para impedir que o casamento se realize. O plano entremeado por situações hilárias acaba dando certo. Dona Guida consegue com ajuda dos seus auxiliares salvar o filho das garras dos meliantes vindos da capital.
Essas produções cômicas e originais de Ariano Suassuna são marcadas por uma profunda valorização da cultura nordestina e pela fusão de elementos populares e eruditos. Ariano consegue se apropriar do humor como uma ferramenta para abordar temas sociais, políticos e existenciais, refletindo a realidade do Brasil. Prepara-se para o único compromisso do fim de semana: rir até chorar.
Por Romênia Mariani