Organização criminosa financia atos antidemocráticos, dizem procuradores

Em Brasília, empresários de diferentes estados bancaram o envio de caminhões para engrossar o protesto antidemocrático em frente ao quartel-general do Exército, onde apoiadores de Bolsonaro pedem a intervenção

Empresários bolsonaristas financiaram os atos antidemocráticos que começaram poucas horas após a confirmação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no domingo (30), disseram procuradores de Justiça dos estados de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, nesta terça-feira (8).

Segundo os procuradores, os bloqueios nas estradas e as manifestações diante de quartéis das Forças Armadas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição derrotado nas urnas, são financiados e coordenados por “uma grande organização criminosa com funções predefinida“.

Entre dados da investigação, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, estão ônibus de prefeituras que transportaram manifestantes, financiadores e arrecadadores que usam números de Pix para manter os atos golpsitas.

Em Brasília, empresários de diferentes estados bancaram o envio de caminhões para engrossar o protesto antidemocrático em frente ao quartel-general do Exército, onde apoiadores de Bolsonaro pedem a intervenção das Forças Armadas contra o resultado das eleições.

Mais de 70 caminhões com a bandeira do Brasil chegaram à capital federal entre domingo (6) e segunda-feira (7). Motoristas relataram à reportagem que 23 deles saíram juntos de Água Boa, no Mato Grosso, numa ação organizada por empresários do município. Doze caminhões exibiam nessa segunda o nome da Agritex, revendedora de maquinários, peças e equipamentos agrícolas que atua em sete cidades. No domingo, a própria empresa compartilhou pelo Instagram vídeos dos caminhões chegando à região do protesto.

Em São Paulo, investigações da procuradoria ainda em andamento indicam a atuação de empresários e até de prefeituras na organização dos bloqueios de rodovias e nos atos diante de quarteis das Forças Armadas. No entanto, os recursos são privados, segundo o procurador-geral do Estado Mário Sarrubbo. “São empresários que são financiadores, nós já temos alguns nomes, mas que não podemos relevar, que estão sendo investigados”, disse.

Segundo ele, “há uma grande organização criminosa”, com funções definidas no fluxo financeiro, que serão investigadas a fundo. “Financiadores, arrecadadores, tem várias mensagens com número de Pix e tudo mais para que as pessoas possam abastecer financeiramente. E a partir daí nós temos que estabelecer quem exercia qual função. Tem a função financeira, a alimentação. Em São Paulo, a gente percebe ônibus de prefeituras transportando pessoas. Tudo isso está sendo objeto de investigação”, disse Sarrubo.

O procurador-geral de São Paulo acredita que o movimento tem abrangência interestadual. “Há algo em nível nacional e nós vamos trabalhar e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) fornecerá algumas informações e com isso a gente espera que o Brasil possa prosseguir sem golpes”, disse.

Empresários também organizam boicote a produtos e serviços

Para a procuradora-geral de Justiça do Espírito Santo, Luciana Andrade, a atuação de empresários vai além do patrocínio dos atos antidemocráticos. E inclu a organização de listas de produtos e serviços a serem boicotados no estado pelos bolsonaristas. “A gente tem percebido um movimento também do empresariado que é criar uma lista de pessoas e empresários cujos consumidores não deveriam consumir ali seus produtos ou serviços. Estão criando embaraço à livre iniciativa do comércio, algo que não víamos há muitos e muitos anos”, disse.

Alexandre de Moraes tem acompanhado de perto os desdobramentos dos atos antidemocráticos pós-eleições como presidente do TSE e também como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Na supremo, é relator de processo envolvendo atos antidemocráticos alimentados pelo governo de Jair Bolsonaro. Nesta segunda-feira (7), o ministro determinou que as forças policiais estaduais e federais enviem todas as informações sobre possíveis financiadores dos bloqueios das rodovias e dos atos nos quartéis das Forças Armadas em todo o país.

CUT

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