Os últimos espólios de Weintraub e os interesses em disputa

Uma das principais notícias sobre educação veiculadas hoje (23) foi a revogação, pelo ministro interino da pasta, Antonio Paulo Vogel, da portaria que retirava as exigências para que universidades federais promovessem políticas em programas de pós-graduação. A medida tinha sido publicada na última quinta-feira (18) e foi uma das últimas heranças nefastas legadas por Abraham Weintraub antes de anunciar sua saída do MEC e fugir para os Estados Unidos. Outro derradeiro espólio deixado por ele foi a nomeação de olavistas para o Conselho Nacional de Educação (CNE). Apesar de o pseudofilósofo Olavo de Carvalho se manter como guru ideológico do governo Bolsonaro, a indicação feita por Weintraub parece não ter agradado todas as forças no poder, o que indica duas coisas: a primeira é que há disputa política dentro do Planalto e na Esplanada dos Ministérios; a segunda, que a educação é cobiçada pelos diferentes grupos.

Segundo o Portal G1, ministros da chamada ala militar do Planalto, comandada pelo general Braga Neto, ministro-chefe da Casa Civil, pretendem barrar os nomes dos futuros conselheiros indicados por Weintraub. A razão seria pela ideia de que, se o motivo da saída de Weintraub foi o desgaste que ele vinha causando o governo, nem CNE nem o próprio MEC podem ser entregues a quem seja ideologicamente alinhado com ele.

Não que isso resolva o problema da educação sob o bolsonarismo. Longe disso. Como a Contee apontou na última sexta-feira (19) a respeito da saída de Weintraub, os interesses olavistas, os do Centrão e, agora, ao que parece, os dos militares, que disputam o comando do setor, não são, em nenhum aspecto, favoráveis ao fortalecimento da educação pública, gratuita de de qualidade socialmente referenciada nem ao combate aos processos de mercantilização e financeirização do ensino. Até agora, o nome mais fortemente apontado para suceder Weintraub, a quem Bolsonaro já anunciou, conforme seu próprio vocabulário técnico, o pedido de “namoro”, é o de Renato Feder, atual secretário estadual de Educação do Paraná, coautor do livro “Carregando o elefante”, o qual defende um modelo de distribuição de vouchers e privatização da educação pública.

Embora Feder tenha alegado, tão logo viu-se cotado para o Ministério da Educação, que não sustenta mais tais propostas, que passavam até pela extinção do próprio MEC, fato é que já a sustentou. Portanto, mantendo-a ou não, descortina-se outra gestão liberal à vista, o que reforça aquilo que a Contee já destacou na última sexta: a verdadeira vitória da educação, mais do que Weintraub fora do MEC, será Bolsonaro fora da Presidência. Para isso, no atual cenário, duas frentes se mostram essenciais: que os diferentes interesses em disputa se digladiem por dentro e que nós permaneçamos em luta aqui fora.

Por Táscia Souza

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