Pandemia chega no pior momento e cientista alerta: “Brasil corre risco de colapsar”
Sem ação do governo federal, sem vacina e com o país à beira de um colapso na saúde, governadores e prefeitos de grandes cidades adotam, sozinhos, medidas severas temendo um cenário de tragédia
A pandemia do novo coronavírus se agravou no Brasil nos últimos dias e tem dado sinais de alerta para todo o país. Em pelo menos 17 capitais, a pressão pelos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) está acima de 80%, e um colapso na rede hospitalar, na maior dimensão da crise sanitária, não está descartado por especialistas e cientistas da área da saúde que acompanham com temor a situação que o país enfrenta.
“É a maior tragédia do Brasil. A ausência de comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra”, afirmou o cientista Miguel Nicolelis, em entrevista ao jornal O Globo. Segundo ele, o Brasil corre o risco de colapsar em razão do agravamento da pandemia.
“Eu estou vendo a grande chance de um colapso nacional. Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso”, reafirma.
Esse é o pior momento da pandemia, de acordo com especialistas que acompanham a evolução da doença.
Sem plano estratégico do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) para o combate à Covid-19, sem vacinas e com o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, encurralado pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre a omissão da falta de oxigênio em Manaus, governadores e prefeitos de grandes cidades estão adotando medidas severas, temendo um cenário de tragédia.
Nesta quinta-feira (25), o Brasil chegou à marca de 250 mil mortes desde o começo da pandemia. Dessas, 50 mil mortes foram registradas apenas nos primeiros 48 dias de 2021. Neste ritmo, de acordo com especialistas, o país pode atingir a 300 mil vidas perdidas no mês de março.
Também nesta quinta (25), um dia após o país chegar a 250 mil mortes, o Brasil registrou um recorte de mortes nas últimas 24 horas. Foram 1.582 pessoas mortes em apenas 24 horas. A curva não para de subir, há 36 dias seguidos a média móvel de óbitos está acima de mil.
Diante da explosão de casos e mortes, e da circulação da nova variante do coronavírus, identificada em Manaus, 17 capitais estão com lotação acima de 80% nos leitos de unidade de terapia intensiva.
São elas: Porto Velho, com lotação de 100%, Rio Branco, com 88,7%, Manaus com 94,6%, Boa Vista, com 82,2%, Palmas, com 80,2%, São Luís, com 88,1%, Teresina, com 93%, Fortaleza, com 94,4%, Natal, com 89,0%, Recife, com 80,0%, Salvador, com 82,5%, Rio de Janeiro, com 85,0%, Curitiba, com 90,0%, Florianópolis, com 96,2%, Porto Alegre, com 84,0%, Campo Grande, com 85,5%, e Goiânia, com 94,4%.
Veja como está a situação nas capitais
Lockdown em Santa Catarina
Em Santa Catarina o governo do estado anunciou lockdown para este fim de semana. Os serviços não essenciais ficarão suspensos das 23h de hoje até as 6h de segunda-feira (1º). A medida também vale para o próximo final de semana.
O governo estadual justifica que a decisão foi tomada para enfrentar o agravamento da pandemia no estado catarinense. A taxa de ocupação dos leitos de UTI na rede pública é de 91,2%.
A situação fez secretário estadual de Saúde, André Motta Ribeiro, comentar em entrevista ao UOL que o estado está entrando em colapso.
Ele enviou mensagens a prefeitos de todo o estado para que medidas emergenciais para “diminuir significativamente a circulação das pessoas” sejam implementadas urgente.
Toque de recolher na Bahia
Com filas de pacientes à espera de leitos na UTI, o governador da Bahia Rui Costa (PT) e o prefeito de Salvador Bruno Reis (DEM), anunciaram a restrição total de atividades não essenciais.
As medidas passam a vigorar a partir das 17h desta sexta-feira (26) e vão até as 5h do dia 1º de março. A ideia, segundo o prefeito e o governador, é proibir a venda de bebidas alcoólicas em bares, restaurantes, supermercados e lojas de conveniência à noite.
O decreto também suspende por dez dias cirurgias eletivas nas redes públicas e privadas. Em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, Rui Costa prevê que “a saúde vai colapsar e o Brasil mergulhará no caos em duas semanas”.
“Já estamos vendo o problema se agravar no país todo. No Rio Grande do Sul, na Bahia, no Ceará. Nunca tivemos uma situação igual”, afirma.
Cerca de 6 hospitais de Salvador que atendem pelo SUS apresentaram nesta quinta-feira (25) taxa de ocupação de UTI de 90% ou mais. No total, são 14 hospitais que fazem atendimento ao SUS.
No geral, a Bahia tem hoje uma taxa de ocupação de UTIs/Covid-19 de 83%.
Cidades do ABC paulista decretam lockdwon
Várias cidades do ABC paulista anunciaram medidas para tentar conter o aumento nos casos de Covid-19. O “lockdwon noturno” começa a valer nesta sexta-feira (26), com horários diferentes, em São Caetano do Sul e Ribeirão Pires e nos demais municípios, entram em vigor no sábado (27).
Durante a vigência do lockdown, só poderão funcionar unidades de saúde e farmácias, a circulação de ônibus também será interrompida —com exceção, novamente, de Ribeirão Pires, que não fará alterações no serviço de transporte público.
São Bernardo do Campo foi a primeira cidade a restringir a circulação de pessoas. A taxa de ocupação em leitos de UTI chegou a 90% durante a semana. A partir de sábado (27), a circulação ficará restrita entre 22h e 5h. O lockdown noturno não tem data determinada para ser encerrado.
Santo André definiu a restrição entre 21h e 4h, com os ônibus deixando de circular às 22h. A medida começa no sábado (27) e vai, pelo menos, até 7 de março.
Rio Grande da Serra vai fechar o comércio às 21h e restringiu a circulação pela cidade das 22h às 4h. O transporte municipal deixa de operar às 22h. A medida valerá de 27 de fevereiro a 7 de março.
Já Diadema terá lockdown noturno entre 21h e 5h a partir deste sábado (27), também com previsão de encerramento em 7 de março. O transporte deixa de funcionar às 22h.
Cidade de São Caetano e Ribeirão Pires irão seguir o decreto estadual anunciado pelo governador João Doria (PSDB) na última quarta-feira (24). A circulação de pessoas será restrita entre 23h e 5h e medida vale de 26 de fevereiro a 14 de março.
Em Mauá, a circulação de pessoas estará restrita das 23h às 4h, com interrupção dos ônibus às 23h. A medida também vigora entre 27 de fevereiro e 7 de março.
Em Araraquara, no interior de São Paulo, o lockdown que foi bem elogiado por especialistas termina neste sábado (27). A cidade enfrenta uma explosão de casos do novo coronavírus e mais de 10 casos da nova variante, identificada em Manaus.
A partir desta sexta, começa a valer em todo o estado de São Paulo as medidas restritivas anunciadas pelo governador João Doria (PSDB) na última quarta-feira (24). O que de recolher das 23h às5h vai até o dia 14 de março.
A medida de Doria, que busca frear o lazer noturno, que se dá por meio de baladas ou encontros de pessoas, foi duramente criticada nas redes sociais porque à noite a circulação de pessoas já é menor.
Lockdown em Brasília
A partir da próxima segunda-feira (1), Brasília terá lockdown das 20h até as 5h a para tentar conter o avanço da Covid-19. A medida foi anunciada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), que declarou que a taxa de ocupação de leitos destinados aos pacientes infectados pelo coronavírus chegou a 92%.
Segundo o governador, o lockdown terá duração mínima de 14 dias, e depois desse período, os índices de internação serão verificados para decidir medidas restritivas.
Rio Grande do Sul
O estado do Rio Grande do Sul vive o pior momento da circulação do vírus no estado. O estado registrou 120 óbitos nas últimas 24 horas pela Covid-19, e já são no total 12.149 vidas perdidas no território gaúcho em função da doença.
Diante o agravamento da pandemia no estado, o governo anunciou a suspensão do sistema de cogestão regional do Distanciamento Controlado. A medida vale a partir deste sábado (27), até o dia 7 de março. Com isso, as regiões devem seguir os protocolos orientados para a sua região, determinados pelo governo do estado. A partir deste sábado (27), todas regiões estão em bandeira preta.
O governador Eduardo Leite (PSDB) ainda suspendeu, temporariamente, o sistema de cogestão regional, o que obrigará os municípios a adotar os protocolos mais rígidos.
O estado tendência de aumento de internações nos últimos dias, às 18h desta quinta (25) a ocupação de leitos de UTI estava em 91,4%. São 2.475 pacientes em 2.708 leitos de UTI. Entre os internados, 1.315 (53,1%) têm covid-19 confirmada e 179 têm suspeita da doença.
Toque de recolher no Ceará
O governador do Ceará, Camilo Santana, afirmou nesta sexta-feira (26) que vai anunciar um novo decreto ainda hoje estabelecendo medidas para conter o avanço do novo coronavírus. O atual cenário da pandemia da Covid-19 no estado, segundo o governador, aponta para “crescimento muito preocupante de casos”.
O atual decreto, que deve valer para todo o estado do Ceará, determina a proibição de aglomerações e um toque de recolher entre 22h e 5h. O comércio não essencial, como restaurantes, devem fechar às 20h de segunda a sexta e às 15h nos fins de semana.
Atualmente, cerca de 95% dos leitos de UTI de todo o estado estão ocupados, principalmente por pacientes com a Covid-19.
Toque de recolher na Paraíba
João Pessoas terá também toque de recolher neste fim com decreto mais rígidas para conter o avanço do novo coronavírus. O funcionamento de bares e restaurantes terão horários restritos. O toque de recolher é válido das 22h às 5h para as cidades que, estão nas bandeiras vermelha e laranja, na avaliação epidemiológica, incluindo João Pessoa.
Nesse período da noite entre 22h e 5h, só poderá estar fora de casa quem comprovadamente estiver se deslocando para serviços de saúde ou farmácia, para compra de medicamentos, ou situações em que fique comprovada a urgência.
Toque de recolher no Paraná
O governo do estado do Paraná anunciou que vai fechar serviços não essenciais a partir da meia-noite de sexta (26) para sábado (27). O toque de recolher também foi ampliado, e passa a valer entre as 20h e 5h.
As medidas valem até as 5h de 8 de março. O estado enfrenta aumento expressivo do número de casos da Covid-19 e pela taxa alta de ocupação de leitos nos hospitais.