Papo de terça: Entrevista com o coordenador-geral da FeteeSul, Valdir Kinn
Hoje (15), o nosso “Papo de terça” é com o coordenador-geral da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Sul (FeteeSul), Valdir Graniel Kinn. Na entrevista, temas que vão desde a hora-atividade e a saúde de professores e técnicos administrativos até pautas que dizem respeito a todas as categorias, como a luta pelo fim do fator previdenciário e a reforma política. Confira!
Contee – Como você avalia o papel das federações para a luta unificada da categoria?
Valdir Kinn – Essa avaliação que eu faço se dá muito marcada pela experiência que construímos aqui no Rio Grande do Sul, através da FeteeSul. As federações podem e devem ter um papel fundamental para a luta sindical e unificada da categoria e dou dois exemplos que corroboram essa minha perspectiva. Há mais de uma década realizamos aqui no Rio Grande do Sul, através da FeteeSul, um processo de campanha e negociação coletiva articulado e coordenado pela Federação. Todo o patrimônio de conquistas que construímos nas cláusulas da nossa convenção coletiva de trabalho é resultado desse processo de articulação e coordenação da FeteeSul.
Nós, aqui, temos claro o entendimento de que a Federação não deve assumir o papel e o lugar das entidades de base, mas deve estar a serviço das entidades de base e ser uma instituição proponente de políticas gerais para essas entidades e, consequentemente, para essas categorias. O maior exemplo disso é esse processo: fazemos toda a preparação das nossas reivindicações de forma coletiva e desenvolvemos a negociação também de forma coletiva.
Além disso, a Federação aqui cumpre o papel de ser articuladora das demandas de formação das entidades sindicais. Juntamente com as entidades de base e a partir das demandas dessas entidades de base, produzimos inúmeros eventos e cursos de formação.
Esses são dois exemplos do importante papel das federações na luta unificada da categoria. Além, é claro, de também estarmos presentes nas lutas gerais dos trabalhadores. A Federação tem participado, juntamente com a Confederação e as centrais sindicais, da luta nacional por pautas que são de todas as categorias.
Contee – Quais as principais frentes de batalha da FeteeSul e de seus sindicatos filiados, tanto no que diz respeito aos professores quanto aos técnicos administrativos?
VK – Temos várias frentes de batalhas. Em nível dos professores, temos uma grande frente de debates e busca de efetivação da hora-atividade, tanto para a educação básica quanto para o ensino superior, mas especialmente para a educação básica. Isso significa o professor ser remunerado por atividades anteriores à sala de aula, de preparação das aulas e avaliações, bem como posteriores à sala de aula.
Essa é uma das nossas lutas, bem como a preocupação com a saúde dos trabalhadores. Já desenvolvemos, na Federação, duas pesquisas e já lançamos um livro sobre isso. Temos batalhado muito para que os problemas que foram revelados nas pesquisas possam ser, se não totalmente resolvidos, pelo menos amenizados com garantias expressas em cláusulas em nossas convenções coletivas de trabalho. São duas frentes de batalha, além, é claro, da melhoria na recomposição dos salários.
Em nível mais geral, estamos engajados na luta pelo fim do fator previdenciário e na defesa de uma constituinte exclusiva para a reforma política. Estamos participando da coordenação estadual de movimento e fazendo todo o trabalho de ramificação dos comitês nos municípios, principalmente os municípios que são sedes dos sindicatos de professores e técnicos administrativos do setor privado. Estamos trabalhando nessa direção porque entendemos que a mobilização, sobretudo neste momento de campanha eleitoral, é crucial para que os candidatos possam se comprometer com uma proposta como essa.
Contee – Quais as particularidades enfrentadas pelos trabalhadores do setor privado de ensino no Rio Grande do Sul?
VK – Em primeiro lugar quero dizer que as dificuldades que os trabalhadores da educação privada do Rio Grande do Sul enfrentam não são muito diferentes do que enfrentam os trabalhadores de qualquer região do nosso país. Particularmente, começamos a enfrentar uma realidade patronal, principalmente nos últimos anos, com a entrada, no estado, de instituições de caráter eminentemente empresarial que passaram a se estabelecer no Rio Grande do Sul. Essas instituições trazem um patronato com outro perfil, diferente do patronato mais tradicional do Rio Grande do Sul, que era mais vinculado a instituições comunitárias e confessionais. Essa mudança de perfil traz outra lógica de negociação. É uma peculiaridade porque, embora isso talvez seja algo já sentido em outras regiões, para nós é uma realidade nova.
Outra peculiaridade importante e significativa é o fato de que a nossa Federação reúne professores e técnicos administrativos no mesmo pé de igualdade, no mesmo nível de representação e articulação política. Isso permite ter as categorias bem mais próximas e articuladas. A Federação, desde sua fundação, sempre contou com essa participação ativa das duas categorias e todas as entidades de professores e técnicos do estado são filiadas à Federação. É uma marca importante que nos dá certa coesão política e faz com que ambas as categorias se sintam representadas na Federação. Há, inclusive, um revezamento na direção: ora temos um professor ora temos um técnico à frente da federação.
Contee – Quais são, na sua opinião, as pautas que mais precisam unir, nacionalmente, os trabalhadores e trabalhadoras em educação do setor privado?
VK – Uma pauta que temos a convicção de que deve ser unificada não somente entre os trabalhadores em educação, mas entre todos os trabalhadores do setor privado é a do fim do fator previdenciário, para que as pessoas, quando chegarem ao tempo de se aposentarem, possam ter uma remuneração minimamente digna para gozarem de sua aposentadoria. É uma pauta que precisamos retomar com força e aproveitar esse momento eleitoral para comprometer os candidatos com essa pauta. Já deveria ter sido resolvida e não tivemos, até o momento, força política para isso.
Outra pauta é a da reforma política. Precisamos, muito intensamente, trabalhar nessa reforma, através de uma constituinte exclusiva para tal, porque nosso país carece há muito tempo de uma reforma para que se possam redimensionar os interesses políticos. E os congressos eleitos têm demonstrado grande desinteresse pelo tema.
Outra pauta significativa diz respeito à saúde dos trabalhadores em educação. O ritmo do mundo contemporâneo tem feito os trabalhadores se submeterem a uma carga horária que transcende a carga horária contratada. Em função do universo on-line, trabalhadores em educação têm levado cada vez mais trabalho para casa e ficado cada vez mais tempo à disposição das empresas. As pesquisas que realizamos na FeteeSul têm demonstrado altos índices de estresse, depressão e muitas pessoas insatisfeitas com a sua atividade, porque tem se tornado uma atividade quase que insalubre por esse ponto de vista.
Outro ponto importante é a necessidade de campanhas salariais mais unificadas e essa é uma questão que nossa Confederação deve retomar. É fundamental que possamos, pelo menos, ter eixos de reivindicações comuns em todo o país, que a gente possa construir uma pauta mínima nacional, a qual possa ser submetida às negociações a fim de garantir mais unidade à nossa categoria.
Da redação