Para aproveitar as férias: Dicas de livros
Para que as trabalhadoras e os trabalhadores possam aproveitar as férias, o Portal da Contee reitera hoje as dicas de leituras sugeridas na Revista Conteúdo de março de 2013, com temática voltada para a igualdade de gênero e a emancipação da mulher:
Mulheres que correm com os lobos
Autora: Clarissa Pinkola Estes
Editora: Rocco
A autora, através da interpretação de 19 lendas e histórias antigas, entre elas as de Barba-Azul, Patinho Feio, Sapatinhos Vermelhos e La Llorona, a autora identifica o arquétipo da Mulher Selvagem ou a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda.
Livro de receitas para mulheres tristes
Autor: Héctor Abad
Editora: Companhia das Letras
A publicação traz uma série de receitas poéticas que promete acalmar os anseios femininos, quaisquer que sejam eles. A ironia está presente em todas as páginas, mas nunca é corrosiva. Logo de saída, o autor anuncia que ninguém tem a receita da felicidade, para em seguida afirmar que em seu “largo trato com frutos e verduras, com ervas e raízes, com músculos e vísceras de diversos animais silvestres e domésticos” descobriu “alguns atalhos de consolação”. O autor fala da angústia diante da finitude e da velhice, da imensa dor do luto, dos dilemas éticos nas relações amorosas, mas também de questões mais comezinhas – e por vezes mais prementes –, como os incômodos da menstruação, a falta de prazer sexual, o mau hálito, a constipação intestinal.
Trecho do livro:
“Vive a tua tristeza, tateia-a, molha-a com lágrima; envolve-a em gritos ou em silêncio, copia-a em cadernos, anota-a no teu corpo, nos poros da tua pele. Pois só se não te defenderes, fugirá, por momentos, para outro lugar que não o centro da tua íntima dor. E para saboreares a tua tristeza vou recomendar-te também um prato melancólico: couve-flor em brumas. Trata-se de cozer em vapor de água essa flor branca, triste e consistente. Devagar, com aquele odor que tem o próprio hálito que a boca exala nas lamentações, ela vai cozendo até amaciar. E envolta em bruma, no seu vapor fumegante, põe-lhe azeite e alho e alguma pimenta, e salga-a com lágrimas que sejam tuas. Então saboreia-a devagarinho, mordendo-a do garfo, e chora mais, chora ainda, que aquela flor acabará por ir chupando a tua melancolia sem te deixar seca, sem te deixar tranquila, sem te roubar a única coisa que é tua naquele momento, a única coisa que já ninguém te poderá tirar, a tua tristeza; mas com a sensação de, ao de teres partilhado com essa flor imperecível, essa flor absurda, pré-histórica, essa flor que os noivos nunca pedem nas floristas, essa flor de couve que ninguém põe nas jarras, com essa anomalia, essa tristeza florescida, a tua própria tristeza de couve-flor, de planta triste e melancólica.”
O mundo pós-aniversário
Autora: Lionel Shriver
Editora: Intrínseca
O romance aborda o relacionamento aparentemente sólido de um casal de americanos radicado em Londres. Ele é um disciplinado pesquisador de um instituto de estudos estratégicos; ela, uma acomodada ilustradora de livros que depara com uma vontade incontrolável de beijar outro homem, um velho amigo do casal, jogador de sinuca que figura no topo do ranking do esporte, um dos mais populares entre os britânicos. Lionel Shriver busca oferecer ao leitor dois desdobramentos do futuro dessa mulher sob a influência de dois homens diferentes, e assim escreve duas histórias. A partir daquele único beijo, tenta retratar alternativas para união e rompimento, e explorar as consequências e as motivações mais íntimas de uma escolha.
O segundo sexo (vol. 1 e 2)
Autora: Simone de Beauvoir
O livro foi publicado em 1949 e uma das obras mais celebradas e importantes para o movimento feminista. O pensamento de Beauvoir analisa a situação da mulher na sociedade. No Brasil, foi publicado em dois volumes. “Fatos e mitos” é o volume 1 e faz uma reflexão sobre mitos e fatos que condicionam a situação da mulher na sociedade. “A experiência vivida” é o volume 2, que analisa a condição feminina nas esferas sexual, psicológica, social e política.
Divã
Autora: Martha Medeiros
Editora: Objetiva
O livro conta a história de Mercedes – uma mulher com mais de 40, casada, filhos – que resolve fazer análise. O que começa como uma simples brincadeira acaba por se transformar num ato de libertação – poético, divertido, devastador. Movida pela angústia existencial, que se não é coisa triste tampouco é libertadora, a busca da protagonista de Martha é universal e atemporal – quer descobrir, entre todas aquelas que ela é, quem é a chefe, quem manda dentro dela. Marinheira de primeira viagem em terapia a personagem encara o consultório como se fosse uma espécie de alfândega que vai dar o visto para ela passar para o lado mais oculto de sua personalidade.
Trecho do livro
“Sou eu que começo? Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço.
Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos.
Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.
Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo.”
O fio das missangas
Autor: Mia Couto
Editora: Companhia das Letras
Nos 29 contos reunidos nesta obra, o autor moçambicano se apropria da escrita para criar singelos pedaços de vida. Boa parte das narrativas focaliza personagens femininas, sendo elas adultas ou não. Chama a atenção a recorrência do modo como as mulheres são tratadas pelos homens com os quais se relacionam, sejam eles companheiros, pais, irmãos ou tios; de um modo geral, o que se percebe é que as personagens femininas passam por um processo de apagamento, nas relações cotidianas com seus parceiros, o que contribui para minar sua autoestima delas. A autoestima, por sua vez, na concepção da personagem, parece ser recuperada através do ato de narrar ou, mais especificamente, através da narrativa escrita, uma vez que, por esta via, elas manifestariam toda sua revolta e indignação em relação aos lugares que ocupam.
Sobrevivi… posso contar
Autora: Maria da Penha
Editora: Armazém da Cultura
Neste livro, Maria da Penha, que deu seu nome à lei que combate à violência contras as mulheres, compartilha de forma ímpar sua história de vida – tão particular e ao mesmo tempo tão comum à de tantas mulheres que levam no corpo e na alma as marcas visíveis e invisíveis da agressão. Este livro proporciona muito mais do que a história de violência contra uma mulher. Revela um fenômeno social, político, cultural e ideológico que afeta de forma grave e desproporcional muitas mulheres.
O país sob minha pele
Autora Gioconda Belli
Editora: Record
No livro, a autora nicareguense relembra sua criação em uma família rica, revela como mergulhou na guerrilha sandinista, que derrubou a ditadura de Anastácio Somoza, e rememora a reconstrução do país após a vitória das tropas revolucionárias. Um documento histórico de valor incontestável, escrito por uma das maiores autoras de língua espanhola da atualidade.