“Paris e o baile dos retrocessos inadiáveis”, por Ana Prestes
A Contee divulga o artigo escrito por Ana Prestes e convida os trabalhadores e trabalhadoras em educação a também enviarem textos de sua autoria que visem contribuir para a análise e debate sobre momentos atuais, como o caso, ou descaso, em Mariana e os atentados em Paris.
por Ana Prestes
Na Paris da sexta-feira 13, novembro de 2015, reabriram-se os portões do baile de máscaras do jovem século XXI. Sobre o tapete vermelho manchado de sangue, dançam bêbados equilibristas. São os líderes europeus desconcertados com seus próprios fracassos, anfitriões dos retrocessos inadiáveis.
Desde 2001, a sinfonia é mais ou menos a mesma. Com a inauguração do milênio e do novo século, veio de embrulho a guerra de novo tipo, midiatizada em primeira instância com a queda das torres gêmeas de Nova Iorque. Algo que os incautos e os desavisados (ou nem tanto!) gostam de classificar como efeito do choque de civilizações à la Huntington.
Já na entrada do baile, os anfitriões posam de moços e dão as mãos para as damas do retrocesso. Na pista de dança principal, também conhecida como OTAN, os pares se alternam, mas a banda toca sem parar e, por vezes, surgem convidados especiais para o espetáculo horripilante em que se fabrica o extermínio de centenas de milhares de civis inocentes.
Enquanto o baile avança no centro do sistema, sua periferia é destroçada e já quase não há pontes de saída ou garantias de que as carruagens não virarão abóboras. Quem não dança conforme a música é desclassificado e abandonado à própria sorte para travar lutas inglórias e explodir corpos nos pontos cegos do complexo baile social.
Ilhado o baile e destruídas as pontes, resta o medo e o abandono. Quantos Iraques, Afeganistões, Palestinas, Líbias, Sírias, Ucrânias, serão necessários para que se perceba que, na contradança, nossos prestimosos líderes fazem par com o terror? E ao fazê-lo, abrem as portas deste século para um cenário de retrocessos humanitários.
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