Pé-de-Meia atrai mais estudantes para licenciaturas, mas Contee cobra maior valorização da docência
O ensino superior voltado à formação de professores acaba de registrar um dado inédito e animador: o número de estudantes com alto desempenho no Enem que optaram por cursos presenciais de licenciatura aumentou 60% em 2025. Esse salto coincide com a implementação do programa Pé-de-Meia Licenciaturas, uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) que oferece auxílio financeiro mensal a estudantes que ingressam em licenciaturas com nota igual ou superior a 650 pontos no Enem.
No total, foram contabilizadas 9.113 matrículas de estudantes com esse perfil em 2025, frente às 5.615 registradas no ano anterior. Já o crescimento geral nas licenciaturas presenciais foi de 21%, passando de 31.088 para 37.653 matrículas — números que indicam uma reversão, ainda que inicial, na tendência de esvaziamento desses cursos.
A proposta do Pé-de-Meia Licenciaturas é um bom ponto de partida. O programa garante um apoio financeiro mensal de R$ 1.050 durante todo o curso, sendo R$ 700 disponíveis para saque imediato e R$ 350 destinados a uma poupança, que só poderá ser resgatada após a conclusão da graduação e a entrada do egresso no magistério público.
A iniciativa integra o recém-lançado programa Mais Professores para o Brasil, instituído pelo Decreto nº 12.358/2025, que pretende beneficiar 2,3 milhões de docentes em todo o país, por meio de ações de formação, valorização e avaliação profissional.
Contee: avanço necessário, mas insuficiente
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) vê com bons olhos a ampliação do acesso de estudantes de alto desempenho aos cursos de licenciatura, mas faz um alerta: o incentivo financeiro, embora positivo, é apenas uma das peças do quebra-cabeça.
“É um passo importante para atrair bons estudantes à docência, mas precisamos de uma política estrutural que vá além do acesso à formação. O Brasil ainda carece de condições de trabalho dignas para os professores, valorização efetiva da carreira e remuneração compatível com a responsabilidade social da profissão”, destaca a Contee.
Para a entidade, é urgente que os programas do governo federal venham acompanhados de investimentos massivos nas redes públicas de ensino, garantia de planos de carreira para os professores e mecanismos de permanência estudantil mais amplos, que considerem também questões regionais, raciais e de gênero.
Formação com responsabilidade social
A Contee também chama atenção para o caráter social da medida: ao direcionar apoio a estudantes que já demonstraram alto rendimento e que se comprometam com a docência pública, o Pé-de-Meia Licenciaturas pode contribuir para democratizar o acesso à educação de qualidade.
“Se bem conduzido, esse modelo pode significar uma renovação do quadro docente brasileiro, com professores mais preparados, engajados e provenientes de contextos diversos. Mas isso só acontecerá se houver continuidade e aprofundamento das políticas públicas”, reforça a Confederação.
Um novo fôlego para a docência?
Embora ainda em fase inicial, os primeiros resultados do Pé-de-Meia Licenciaturas demonstram seu potencial como política de estímulo à formação docente. Mas, como qualquer avanço, ele deve ser acompanhado de vigilância, aprimoramento e, sobretudo, diálogo com quem vive o cotidiano das salas de aula.
A Contee reafirma seu compromisso com a luta por uma educação pública, democrática e de qualidade, e seguirá acompanhando os desdobramentos do programa para que ele não seja apenas um alívio momentâneo, mas o início de uma transformação estrutural na valorização do magistério no Brasil.
Com informações do MEC
Por Romênia Mariani





