Perspectivas e desafios de 2014 na construção de uma ordem mundial mais justa
Maria Clotilde Lemos Petta
Coordenadora da Secretaria de Políticas Internacionais da Contee
“… os pés no presente e o olhar no futuro.” (Matus)
Início de ano é ocasião propícia para as entidades sindicais realizarem seus planejamentos estratégicos. É preciso identificar os problemas, propor objetivos e ações prioritárias com base numa visão ampla dos possíveis cenários em que a luta sindical irá se desenvolver no ano que se inicia. Para os trabalhadores em educação de setor privado de ensino, a agenda de lutas do ano 2014 coloca inúmeros desafios. Já nos primeiros meses do ano a maioria das entidades desenvolvem suas campanhas salariais. É preciso conhecer a correlação de forças envolvidas na campanha e a realidade da categoria representada. Esta tarefa tem se revelado complexa numa conjuntura de crise econômica internacional, de mudanças no mundo do trabalho, do novo perfil da classe trabalhadora, do processo de mercantilizarão da educação em curso, entre outros fatores. A luta por melhores condições de trabalho e por melhores salários exige dos dirigentes sindicais o conhecimento da realidade política e econômica na qual ela se desenvolve. Neste artigo, destaco a questão internacional a ser considerada na projeção de possíveis cenários do ano 2014.
No plano da atuação na política internacional, permanece o desafio de construção de uma nova ordem mundial mais justa. Nas condições atuais de globalização capitalista e de acirramento das agressões imperialistas contra os povos, a defesa da soberania dos países, da paz e do desenvolvimento para todos os povos são questões decisivas na construção de uma nova ordem mundial mais justa.
A crise econômica internacional continua sendo extremamente prejudicial à vida dos trabalhadores. Embora algumas análises tentassem demonstrar que a crise foi superada, pesquisas mostram outra realidade. Segundo pesquisa feita pelo Fórum Econômico Mundial, organização que reúne líderes da economia mundial, a continuidade e aumento do desemprego estrutural e aumento da desigualdade social são algumas das tendências que devem marcar o ano de 2014. A pesquisa aponta também, para o próximo ano, o aumento das tensões no Oriente Médio e norte da África. Uma informação importante revelada por esta pesquisa é de que a desconfiança dos trabalhadores com as medidas políticas para retomar o crescimento econômico só tem aumentado nos países mais atingidos pela crise econômica. Segundo o relatório da pesquisa, enquanto no Brasil 41% das pessoas acreditam que a situação econômica do país é ruim, essa porcentagem chega a 99% na Grécia, e 83% no Reino Unido. No Japão, 71% das pessoas avaliam que a economia vai mal, e, nos Estados Unidos, 65%.
Na America Latina, a recente vitória de Michelle Bachelet no Chile reforçou o bloco de países com governos progressistas e democráticos. No entanto, é preciso considerar que, numa política extremamente agressiva, os EUA e seus aliados, as direitas nacionais, continuam tentando sabotar as iniciativas de integração regional que se apresentam na contramão do projeto neoliberal imperialista dos EUA para a região. Episódios recentes como a postura belicista na crise da Síria e as ações de espionagem eletrônica contra o Brasil são reveladores de que a política imperialista dos EUA, neste início do século XXI, é cada vez mais agressiva.
É preciso também considerar as dificuldades impostas aos países do continente latino-americano pelo quadro recessivo internacional. Em artigo publicado no Portal Carta Maior , Emir Sader considera que é preciso dar um salto decisivo nos processos de integração latino-americana, valendo-se da ampliação do Mercosul e do fortalecimento da Unasul. Entende que “estamos no momento da retomada e aprofundamento dos processos de integração regional para seguir viabilizando a America Latina como a região que mais contribui ao combate à desigualdade, à exclusão social, à pobreza e a miséria” (Carta Maior 28/11/2013).
Neste quadro, são colocados novos desafios para o movimento sindical classista. Assumir papel protagonista nas iniciativas de integração latino-americana, visando à valorização do trabalho, é papel a ser conquistado pelo movimento sindical latino-americano e caribenho. É preciso fortalecer organizações que unificam esta luta a exemplo do Encontro Sindical Nossa America (Esna) e da Coordenadora de Centrais Mundiais do Cone Sul (CCSCS). Nesta agenda está marcada o VI Esna, a ser realizado em Havana, Cuba, no início de maio de 2014.
Por fim, cabe considerar a importância do aprofundamento das relações entre as organizações internacionais dos trabalhadores em educação. O processo de mercantilizarão da educação em curso torna-se progressivamente um fenômeno mundial. O que requer cada vez mais lutas unitárias em defesa da educação como direito e bem público, de responsabilidade do Estado. Nesta perspectiva, é importante a participação nos encontros agendados para 2014, que são promovidos pelas entidades internacionais que congregam trabalhadores em educação, a exemplo da Internacional da Educação – IE e da Federação Internacional Sindical – Fise.
Sendo assim, a agenda do movimento sindical internacional coloca inúmeros desafios para o ano de 2014. Uma maior capacidade de intervenção nos processos internacionais em curso exige “politizar” as ações sindicais no sentido de elevar o nível das lutas superando o economicismo, pela realização da grande política. É fundamental que os trabalhadores avancem na consciência da sua força, para que organizem a luta, para que construam o seu próprio caminho de desenvolvimento social e econômico, sem perder de vista seu ideal maior: o Socialismo.