Pesquisa rebate senso comum e aponta que trabalhadores são maioria em ocupação MTST
Dados levantados pelo Dieese revelam que 61,5% dos acampados em São Bernardo do Campo têm carteira assinada
Norma Odara
“O público que está nas ocupações, como nós vimos, é um público trabalhador. Essa pesquisa é uma enorme arma para quebrar preconceitos, em relação ao movimento social, em relação a luta por ocupação de terra por moradia. Porque o que se diz frequentemente do movimento e das ocupações é que é vagabundo, que quer tomar o que é dos outros de graça, que quer privilégio, que quer levar vantagem. O que nós vemos no perfil deste público é o contrário”. É o que diz o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, a respeito dos esteriótipos ligados à militância do movimento, especificamente sobre as 12.123 famílias que ocupam há três meses um terreno em São Bernardo do Campo.
A pesquisa quantitativa, “Teto e Trabalho — Perfil e trajetória dos residentes da ocupação de São Bernardo do Campo” feita em parceria com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com a Fundação sem fins lucrativos alemã, FES, Friederich-Ebert-Stiftung, MTST foi lançada oficialmente nesta segunda-feira, 4, na sede da CUT, Central Única dos Trabalhadores, em São Paulo.
Os dados do questionário, coletados em três dias, com 12.123 famílias da ocupação, que correspondem a um total de 33.883 pessoas revelou dados que corroboram com Boulos e mostram que, das pessoas que trabalhavam de forma remunerada (assalariados), 61,5% possuía carteira de trabalho assinada, como explica a pesquisadora e socióloga do Diesse, Adriana Marcolino.
“O que a gente pode perceber foi isso, foi um dado que na verdade me surpreendeu, é que tem muita gente que está trabalhando e que está trabalhando com carteira assinada, inclusive dos assalariados tinha um percentual bastante grande, era alguma coisa como mais de 60% de assalariamento com carteira de trabalho assinada. Então são pessoas que em tese estão numa condição melhor de vida e não, o trabalho, neste caso, é sinônimo de pobreza, ele não garante um rendimento mínimo para os trabalhadores, que tem alta jornada”, explica.
As profissões e funções mais frequentes na ocupação, de acordo com a pesquisa, é de diarista, ajudante geral, auxiliar de limpeza, garçom, motorista, auxiliar administrativo, operador de máquinas, telemarketing, pedreiro, porteiro, vendedor ambulante, cozinheiro e vigilante.
Além disso o rendimento médio do trabalho na ocupação foi de R$ 1.137,80. Em comparação a média da Região metropolitana de São Paulo, a discrepância é de mais de 40%.
Estes dados corroboram com outros elementos da pesquisa, como por exemplo o fato de 59,4% das famílias da ocupação não conseguirem pagar aluguel, porque não cabem no orçamento familiar, como lembra Boulos: “30% das pessoas, pelos dados, comprometem mais de metade da sua renda por mês. Por um lado nós temos este cenário de piora das condições de vida. Então quem já estava com dificuldades para pagar, agora vai ter mais”.
O dirigente do MTST relembrou que as famílias ainda continuam na ocupação e que na próxima segunda-feira haverá uma reunião do, GAORP, Grupo de Apoio às Ordens Judiciais de Reintegração de Posse, para decidir a respeito do despejo ou não.
Além disso, um ato está marcado para este domingo, às 15h, no Largo da Batata, em apoio a ocupação com o show do cantor Caetano Veloso.