PL da Dosimetria abre ‘porta do inferno’ e incentiva novos golpes, avalia cientista político
O cientista político Paulo Niccoli Ramirez avaliou que o texto do Projeto de Lei (PL) da Dosimetria, aprovado pela Câmara na madrugada desta quarta-feira (10), foi construído “de uma forma a favorecer o [ex-presidente Jair] Bolsonaro (PL), os bolsonaristas, todos os mentores da trama do 8 de janeiro”. Para ele, a proposta é “uma forma de anistia” e uma tentativa de reduzir o tempo de prisão do ex-presidente, condenado e preso por tentativa de golpe. Ramirez indicou que, caso o texto avance nas demais instâncias, “a pena de Bolsonaro irá cair mais ou menos para dois anos”.
Ramirez destacou que “série de confusões” ocorrida em meio à votação ajudou a “retirar o peso da aprovação que a Câmara fez”. Ele alertou que o projeto funcionou como um sinal verde para novas rupturas. “É um convite aos cidadãos brasileiros que queiram fazer um golpe de Estado”, criticou.
Segundo o professor, o país vive “um período de uma relativização do fascismo, do autoritarismo” e a aprovação do PL reforça esse movimento. Para ele, “uma redução da pena do Bolsonaro significa dizer que a porta do inferno está aberta”.
O cientista político afirmou que, ao estabelecer punições mais brandas, o texto deixa uma brecha para “outras possibilidades de golpe estão por vir”, já que futuros golpistas poderiam prever “no máximo, presos dois, três anos, não mais que isso”.
Para ele, o relator do projeto, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), “mancha a sua imagem ao aderir à pressão, principalmente do [ex-presidente] Michel Temer (MDB), que também deu um golpe de Estado parlamentar contra [a ex-presidente] Dilma Rousseff (PT)”.
O professor descreveu o ambiente no Congresso como dominado por “pessoas que flertam com o fascismo”, com uma direita que busca “derrubar [o governo Lula] de todas as formas” ao obstruir propostas importantes para o país. Conforme Ramirez, esse cenário contribui para a ingovernabilidade e revela o peso das alianças feitas pelo PT com setores conservadores.
Apesar disso, ele apontou que “cada deputado que votou a favor dessa mudança na dosimetria estampará na testa a ideia de que são golpistas”, avaliando que esse será um elemento central das campanhas das eleições de 2026.
Ramirez defendeu que os partidos progressistas se reorganizem e usem a disputa de narrativas a seu favor. “Agora é o momento das esquerdas pensarem mais na campanha do PT do que na própria República”, sugeriu, destacando que pesquisas apontam Lula como “virtual vencedor”.
Editado por: Maria Teresa Cruz





