Pochmann debate estado mínimo e economia solidária no Fórum Social das Resistências
Dentro da programação do 2º Fórum Social das Resistências, sob o lema “Democracia e Direitos dos Povos e do Planeta”, que está sendo realizado nesta semana em Porto Alegre e na Região Metropolitana, o auditório do CPERS foi palco na tarde desta quarta-feira (22) de mais um importante debate para a classe trabalhadora.
Com o tema “A Resistência no Estado Mínimo – Perda de Direitos, Possibilidades e a Economia Solidária”, o economista e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, conversou com os presentes sobre as possibilidade deste segmento e as perspectivas para o futuro com a expansão do neoliberalismo.
A mesa de debates foi coordenada por Nelsa Nespolo, presidente da Cooperativa Central Justa Trama, que integra a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol Brasil).
Inclusão dos excluídos da sociedade
Gaúcho de Venâncio Aires, Márcio fez um resgate histórico para demonstrar o papel fundamental que a economia solidária ocupa no Brasil, mas principalmente a sua importante participação no futuro da economia nacional dada a realidade da polarização política da atualidade.
“A economia solidária trabalha a perspectiva dos excluídos da sociedade, através da inclusão. Atualmente nós temos uma sociedade profundamente desigual, calcada na exploração e no autoritarismo”, destacou Pochmann.
Em sua fala, o economista ressaltou que a realidade da economia nacional está intrinsecamente ligada à história do país, desde o período da exploração da mão de obra escrava.
“Em quase quatro séculos de escravidão construímos uma parcela da sociedade considerada pela elite como inorgânica (definição de Caio Padro). Na visão dessa elite, o atraso do Brasil se devia a essa parcela da população. Guardada as devidas proporções, os governos Temer e Bolsonaro adaptaram esse discurso para a questão econômica, com a visão de que o governo gasta muito. Mas gasta com quem? Com os pobres, com educação, com saúde”, disse Márcio.
E ele acrescenta: “O que é a reforma da Previdência na sua realidade? É para que as pessoas trabalhem mais e o estado pague menos, reforçando esse encoberto discurso de que a culpa é sempre do trabalhador”.
Caminho para reduzir desigualdade
Segundo Márcio, a economia solidária pode se tornar o melhor caminho para diminuir a desigualdade que atinge níveis recordes no Brasil e se agravará com os projetos recentemente aprovados em nível nacional e que se expandem nas esferas estaduais.
“O IBGE divulgou no ano passado que metade dos brasileiros vive com R$ 413 mensais, isso é menos da metade do salário mínimo. Como vamos organizar essa massa de empobrecidos, sem indústria, sem estado e competindo com as igrejas e o crime organizado?”, questiona Pochmann.
Para ele, é aqui que a economia solidária se apresenta como uma grande oportunidade. Ela seria a única alternativa para viabilizar um horizonte para essa parcela da população. “Ela oferece pertencimento, trabalha com a totalidade do indivíduo e assim possibilita uma autonomia e uma atuação importantes em tempos de precarização da mão de obra trabalhista.”
Políticas públicas para economia solidária
Márcio enfatiza que há também urgência de debate sobre as políticas públicas para a economia solidária. “Na economia em geral, você tem metas de inflação, tem equipe, já na questão social não, o governo não tem meta, não há indicadores do que de fato está acontecendo”.
Partindo desse cenário, o economista questiona: o que vai ser da economia solidária daqui 10 anos? Para ele, o futuro é incerto, mas seu papel será fundamental.
“Não vai ser a igreja, não vai ser o estado, mas sim a economia solidária que vai possibilitar a autonomia desses indivíduos excluídos pelo capitalismo. Mas isso requer política pública, isso requer uma perspectiva mais grandiosa.”
O debate foi acompanhado também por dirigentes da CUT e pela ex-ministra e deputada federal Maria do Rosário (PT).
Credenciamento
O credenciamento do Fórum continua ainda nesta quinta-feira (23), no SindBancários (Rua General Câmara, 424), no centro de Porto Alegre, e deve ser feito presencialmente no horário das 9h às 17h. A taxa de inscrição é de R$ 20,00 e o pagamento pode ser realizado no local, onde cada participante retira o seu crachá e uma bolsa especial com a etiqueta da Justa Trama.
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