Política de desmonte da Petrobras pode encarecer o preço do gás
Se a diretoria insistir em vender a distribuidora Liquigás, além do risco de concentração de mercado, tirará da estatal o papel estratégico de distribuição à população, que representa 80% da demanda por gás
O botijão de gás, que chegou a custar R$ 75,19 em novembro de 2017, pode ficar ainda mais caro se a Petrobras insistir em vender a distribuidora Liquigás, como a direção da companhia anunciou depois que o Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vetou a venda de 100% dos ativos da empresa para a subsidiária do Grupo Ultra, conhecida como Ultragaz.
A venda da Liquigás, distribuidora de gás liquefeito de petróleo (GLP), é uma das prioridades no plano de desinvestimentos da Petrobras, que tem intensificado a venda de ativos importantes e a destruição da engenharia nacional e da política de conteúdo local, denuncia José Maria Rangel, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
A ordem é vender de qualquer jeito e o mais rápido possível, diz Rangel, que complementa: “depois da decisão do Cade, a estatal correu para anunciar que está buscando novas alternativas para viabilizar a venda, como oferecer a Liquigás na Bolsa de Valores”.
Na decisão que impediu a venda para o Grupo Ultra, a relatora do caso no Cade, conselheira Cristiane Alkmin, se referiu aos riscos de prejuízos para a população e para o mercado caso o monopólio fosse criado.
“Se fosse concluída a operação, a empresa [Ultragaz] passaria a concentrar 46% do mercado. Sairíamos de um modelo de oligopólio com quatro grandes players e uma franja competitiva para um modelo de liderança de preço, piorando o equilíbrio do mercado para a sociedade”.
Segundo Rangel, isso significa que a Ultragaz teria o poder de ditar praticamente sozinha o preço final do botijão de gás ao consumidor. Ou seja, o gás de cozinha, que em algumas regiões já está por volta de R$ 80,00, poderia ficar ainda mais caro. “O consumo residencial é quase 80% da demanda de GLP”, ressalta.
A FUP divulgou uma nota criticando a decisão da diretoria da Petrobras que, de forma precipitada, anunciou que está avaliando vender as ações da Liquigás na Bolsa.
Segundo a nota, além do risco de concentração de mercado, “estamos falando da venda de um ativo que é lucrativo e tem um papel estratégico para atender ao mercado interno brasileiro”.
Rangel explica que, com a política de valorização da Petrobras do governo Lula, a estatal comprou a Liquigás e passou a participar de toda a cadeia de distribuição, interferindo no preço das distribuidoras estaduais, o que na época quebrou o monopólio do setor e contribuiu para que o governo mantivesse o preço do gás acessível à população.
Conforme dados disponibilizados pela FUP, é possível constatar o aumento repentino no valor médio de revenda do botijão de gás a partir de 2016, quando o ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) assumiu o governo por meio de um golpe de Estado que destituiu uma presidenta legitimamente eleita por 54 milhões de votos.
Economia e o fator botijão de gás
Segundo Rangel, desde que Pedro Parente assumiu a gestão da Petrobras indicado pelo golpista e ilegítimo Temer, o aumento no preço do botijão de gás, que teve reajustes sucessivos no último período, comprometeu o orçamento de milhares de famílias brasileiras.
E todos estão sentindo o peso desses reajustes nos orçamentos, como mostras pesquisas qualitativas feitas pelo próprio governo. De acordo com o colunista Ancelmo Gois, os brasileiros e brasileiras não conseguem sentir a melhora na economia, mesmo quando são apresentados os dados de a inflação é a menor dos últimos 10 anos.
Motivo: todos se lembram dos aumentos nos preços dos botijões de gás bem acima da inflação. Por isso, não sentem que as coisas vão bem. “Não adianta o governo brigar com os fatos. O preço do botijão, assim como o da gasolina, pesa no bolso do consumidor e é isso que ele usa para avaliar se a economia de fato melhorou ou não”, conclui Rangel.