Reino Unido fará nova experiência com semana de trabalho de quatro dias

Organização que implantou os testes lá, negocia com empresários locais a implementação de um projeto piloto no Brasil

Mil trabalhadores do Reino Unido participarão do segundo teste da semana de trabalho de quatro dias, o primeiro realizado sob o governo do Partido Trabalhista. Liderado por uma organização não governamental, a Campanha pela Semana de Quatro Dias (4 Days Week) realizou, em 2022, uma primeira experiência piloto cujos resultados convenceram as empresas participantes.

O objetivo desta segunda experiência é reforçar a adesão à proposta, especialmente entre autoridades do atual governo.

O primeiro teste durou seis meses em 2022 e envolveu mais de 2900 trabalhadores de 61 empresas, das quais 56 (92%) mantiveram a redução, sendo 18 delas em caráter definitivo. O estudo mostrou que a receita das empresas se manteve inalterada, com algumas apresentando aumento médio de 1,4%. Mas o estresse dos funcionários se reduziu em 71% e a probabilidade de considerarem pedir demissão caiu 57%.

No Brasil, a The 4-Day Week Global, juntamente com a brasileira Reconnect Happiness at Work, estão em tratativas com empresas para implantar uma experiência similar de semana de quatro dias. O modelo adotado é 100% do salário, 80% do tempo trabalhado e 100% da produtividade. O objetivo é aumentar a produtividade de cada hora trabalhada e melhorar a qualidade de vida dos funcionários, dois pontos que se retroalimentam.

200 empresas já aderiram

Segundo a Campanha da The 4-Day Week, atualmente quase 200 companhias britânicas já adotaram a semana de quatro dias em caráter permanente. Mas conquistar o governo ainda é um desafio.

A primeira experiência enfrentou a oposição ativa do governo do Partido Conservador. Já no Partido Trabalhista, diversos políticos apoiam a semana de quatro dias, inclusive a atual vice-primeira-ministra Angela Rayner, que trabalhou ativamente na divulgação dos resultados da experiência até assumir o governo.

A semana de quatro dias apareceu nas propostas eleitorais do Partido Trabalhista em 2019, mas deixou de figurar nas últimas eleições. Recentemente, quando mais de 500 funcionários públicos assinaram uma petição pedindo a semana de quatro dias, tiveram como resposta que “essa não é uma política governamental ou algo que esteja sendo considerado”.

Mas empresas de setores bem distintos estão apostando na experiência, como a Sociedade Britânica de Imunologia e a Crate Brewery, que serve cerveja artesanal às margens do rio Lee Navigation, de Hackney.

Para equipes operacionais na área de restauração, turnos de serviço fisicamente exigentes podem significar que os dias de folga são gastos se recuperando em vez de aproveitar o tempo livre pessoal¨, explica Georgia Pearson, gerente de recursos humanos da empresa. Ela acredita que estar entre os pioneiros na semana de quatro horas será uma vantagem competitiva na hora de recrutar e reter os melhores.

Outros países também debatem propostas de redução da jornada ou semana de trabalho de quatro dias. Holanda, Bélgica, Dinamarca e Alemanha têm boas experiências de redução de jornada, chegando a 32 horas semanais em alguns casos.

Propostas no Congreso brasileiro

No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho estabelece a jornada máxima de 44 horas semanais e o regime de tempo parcial de 30 horas. Em dezembro passado, a Comissão de Assuntos Sociais do Parlamento, aprovou o projeto de lei que abre a possibilidade de redução da jornada, sem redução da remuneração, desde que seja feito em acordo ou convenção coletiva (PL 1.105/2023) .

Outra proposta de lei que tramita é uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 148/1015) que estabelece que a jornada normal não será superior a oito horas diárias ou a 36 semanais. A proposta prevê começar com jornada de 40 horas semanais e reduzi-la paulatinamente, uma hora a cada ano até as 36 horas, ou seja, em quatro anos, turnos de seis horas para todos.

No Chile, onde a jornada atual é de 45 horas, o Congresso aprovou uma lei que a reduzirá a jornada de forma similar, uma hora ao ano, até chegar a 40.

O novo projeto piloto no Reino Unido envolverá inicialmente 17 empresas, algumas das quais adotarão outras modalidades de redução das horas trabalhadas, como diminuição da jornada ou quinzena de nove dias, com uma folga extra a cada duas semanas.

Trabalhar demais mata, diz estudo da OIT

O novo teste, que inclui treinamento e preparação dos funcionários, será implementado pela 4 Days Week Campaign do Reino Unido e pela consultoria de trabalho flexível Timewise. Os resultados serão acompanhados e analisados por pesquisadores da Universidade de Cambridge, Boston College e Autonomy Institute.

Segundo um estudo publicado, em 2021, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), as longas jornadas de trabalho foram responsáveis por cerca de 745 mil mortes por acidente vascular cerebral e doença isquêmica e do coração em 2016. Isso representa um aumento de 29% desde 2000.

Do Opera Mundi

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