SC: Professor é demitido após trabalhar texto sobre tortura na ditadura militar

O caso aconteceu próximo ao 1 de abril, data que este ano marcou os 55 anos do golpe militar ocorrido em 1964, e levou à instauração da ditadura. O professor reservou parte de algumas aulas para ler e debater com as turmas do sétimo e nono anos o texto “Canção para Paulo (A Stuart Angel)”, de Alex Polari, que narra a tortura sofrida por Stuart, filho da estilista Zuzu Angel, morto durante o período ditatorial. O professor explicou que a atividade de leitura era prevista no cronograma escolar.

“Na introdução da aula, eu falei um pouco sobre a ditadura, os impactos que o movimento teve na reformulação da educação e também da Educação Física, que se tornou desportivista no período, ou seja, serviu aos militares como uma ferramenta de contenção dos corpos, de aplicação de uma moral comportamental”, explicou o docente. Ele garante que a atividade rendeu a participação e debate dos estudantes e que a escola tinha conhecimento sobre o material utilizado.

Dias após a atividade, o professor foi advertido pela diretor da escola, Emílio César da Silva, que também é presidente do Conselho Municipal de Educação de Itapema. A justificativa para a advertência foi o que pai de um dos estudantes do sétimo ano procurou o gabinete da prefeita Nilza Simas (PSD) para reclamar do texto utilizado, por ‘ser pesado e conter palavrões’. O familiar foi encaminhado à Secretaria de Educação, que, por sua vez, cobrou que a escola chamasse o professor para uma conversa, e emitisse um relatório para ser entregue ao reclamante.

Meister conta que, diante a situação, conversou novamente com os estudantes. “Narrei o que estava acontecendo e disse que estava aberto ao diálogo, que caso algum deles ou familiar quisessem conversar sobre o meu trabalho, era só me procurar. Entendo que não houve uma ilegalidade, um questionamento técnico pedagógico sobre a minha prática, mas uma crítica, e ela poderia ser feita diretamente a mim”, contou o professor.

Após a atitude, no entanto, a situação se agravou. Admitido em caráter temporário pela rede, Meister não teve o seu contrato renovado no fim do mês de abril, situação que, segundo ele, foi anunciada pelo diretor da seguinte forma: “procure o RH da prefeitura, seu contrato não será renovado e você não trabalha mais aqui”.

Discordância política ideológica

Segundo o professor, o caso acerca do texto não foi o único enfrentado por ele na escola, que garante ter sofrido perseguição política ideológica e ter sido visto como adversário político dentro da instituição – em 2016, Meister se candidatou a prefeito de Itapema pelo PSOL e fez oposição à chapa da atual prefeita, apoiadora de Bolsonaro.

O professor entrou com uma representação no Ministério Público, que prevê crime de improbidade administrativa, devido a um esforço burocrático por parte da gestão escolar de afastar o professor da instituição – a escola produziu registros de outras práticas do professor, sem que ele tivesse conhecimento. A ação também alega ofensa ao princípios da legalidade e impessoalidade, além de assédio moral.

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