Seminário Internacional: inteligência artificial e seus impactos na educação abrem debates

Na manhã desta quarta-feira (10), o Seminário Internacional da Contee — com o tema Educação em Diálogo: Desafios e Perspectivas no Mundo Contemporâneo — deu início às atividades do segundo dia com a mesa “Inteligência Artificial, Ensino por Competências e o Papel do Professor no Novo Cenário Educacional.”

Leandro Batista, coordenador da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Contee, conduziu o debate. O primeiro expositor foi o jurista, ex-deputado federal e escritor Aldo Arantes, reconhecido por sua atuação em defesa da soberania nacional e da democracia. Em sua intervenção, Aldo apresentou uma reflexão crítica sobre os impactos das novas tecnologias na educação e o papel dos educadores diante da atual conjuntura política e social.

Aldo Arantes fez uma contundente análise sobre a guerra cultural promovida pela extrema-direita, que, segundo ele, representa uma das maiores ameaças à democracia na atualidade. Na opinião do jurista, compreender a lógica dessa guerra cultural é fundamental para enfrentá-la com eficácia.

“Hoje, o domínio das mentes substitui o golpe militar de ontem. A extrema-direita usa as redes sociais, algoritmos e fake news para impor sua visão de mundo, manipular sentimentos e radicalizar o discurso de ódio”, afirmou.

O jurista também denunciou o uso das redes sociais como ferramenta de manipulação emocional e ideológica, ressaltando que os algoritmos não apenas rastreiam comportamentos, mas reconfiguram o pensamento das pessoas. Isso, segundo ele, contribui para que indivíduos com perfil democrático passem a adotar visões autoritárias.

Diante desse contexto, Arantes propôs a construção de uma “luta ideológica democrática” — baseada no diálogo, nos fatos e na sensibilidade — como contraponto à lógica do ódio, da mentira e da violência. “Não basta entender a guerra cultural. É preciso combatê-la com um programa claro e com comunicação eficaz.”

Na sequência, Fernando Villalba Cabrera, responsável por Políticas Educativas da Federação de Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras da Educação (STEs-i), da Espanha, complementou o debate ao destacar os desafios impostos pela inteligência artificial no ensino.

De acordo com Cabrera “vivemos um tempo em que as telas moldam mentes, e os algoritmos, mais do que os professores, estão formando as próximas gerações.” Fernando ressaltou que a inteligência artificial desafia não apenas a prática educativa, mas também a necessidade de resgatar a profundidade do pensamento humano, especialmente diante de uma juventude cada vez mais acelerada, dispersa e moldada por recompensas imediatas.

O terceiro expositor, Manoel José Porto Junior, representante do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) e membro da Executiva da CEA, abordou o papel da tecnologia na educação e os desafios enfrentados pelos professores na contemporaneidade.

Manoel enfatizou a importância de uma concepção educacional crítica, baseada na escola unitária e na pedagogia politécnica, que valoriza as dimensões do trabalho, da ciência e da cultura na formação humana.

Para ele, o avanço da pedagogia das competências tem fragilizado a autoridade docente, reduzindo o professor a um executor de tarefas de avaliação e preparo para o mercado de trabalho, num contexto de precarização das relações laborais e da própria escola. De acordo com Manoel, é fundamental que educadores e a sociedade exerçam um compromisso ético-político para disputar o futuro da educação, resistindo à lógica tecnicista e neoliberal que tenta impor um ensino pautado apenas no saber-fazer e na avaliação por competências.

“A tecnologia não é neutra, ela é fruto das escolhas dos dominantes numa guerra cultural. Ou exercemos nosso momento ético-político e disputamos o futuro da educação, ou nos submetemos às decisões daqueles que controlam as máquinas e a informação”, afirmou.

Manoel também destacou o desafio de lidar com as novas gerações que, apesar de serem nativas digitais, enfrentam dificuldades para desenvolver autonomia crítica diante do uso acelerado da tecnologia, como o ChatGPT, que pode expropriar o trabalho intelectual de estudantes e professores.

Intervenções

No seminário, Leandro Batista da Contee compartilhou sua experiência com a inteligência artificial na educação: “Se você comparar o Google e o ChatGPT sobre o mesmo tema, terá respostas diferentes, incompletas e muitas vezes erradas.” Ele alertou sobre a limitação dos professores na rede privada, que “têm que passar o conteúdo decorado para o Enem, senão são cobrados”, e destacou o risco de serem substituídos: “Já ouvi até dizer ‘pra que professor, se temos inteligência artificial?’ Isso está nos jornais.” Para Leandro, “decorar informações não é discutir”, e o papel do professor está sendo reduzido a isso, o que é “muito preocupante.”

Gilson Reis, coordenador-geral da Contee licenciado, ampliou o debate para o contexto político-social: “Estamos diante de um mundo neofascista, onde a educação é atacada, reduzida a controle e padronização para servir a interesses tecnológicos dominantes.” Ele ressaltou a urgência em controlar a IA para que não sejamos “atores passivos” e citou a proposta do presidente Lula de criar “um sistema latino-americano de IA para enfrentar os modelos internacionais.” Para Gilson, é essencial resistir para garantir “uma formação humana e crítica,” inspirando-se na experiência da China, que reverteu seu modelo tecnicista em favor de uma educação mais humana.

Cristina Castro, coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee, trouxe uma perspectiva regional e geracional. Ela defendeu a educação a distância como forma de democratizar o acesso à formação, especialmente em regiões isoladas: “Para quem mora no interior do Amazonas, onde um professor pode levar 34 horas de barco para chegar, a EAD é fundamental.” Cristina também alertou para os desafios enfrentados pela juventude imersa no imediatismo — “a leitura longa cansa, a frustração é difícil de suportar” — e ressaltou que “a escola precisa ensinar o valor do tempo e da reflexão, sem rejeitar a tecnologia, mas usando-a para facilitar a vida, sem substituir o pensamento crítico.”

Bernardo Beltrán, do Sindicato Argentino de Docentes Privados (SADOP), ressaltou o papel do docente frente à informação acessível: “O papel do docente é fundamental para fomentar o espírito crítico, a investigação, a análise e a comparação profunda.” Ele alertou que “querem desvalorizar a docência, porque a inteligência artificial não substitui o professor que provoca reflexão e conhecimento verdadeiro.”

Foto: Romênia Mariani/Secom Contee

Por fim, Fernando Rodal, membro do Comitê Executivo da Confederação de Educadores Americanos (CEA), refletiu sobre a construção do conhecimento: “O conhecimento é infinito, está em permanente construção e não pertence a ninguém em particular.” Ele destacou que a educação deve ser “um espaço para a politização da mente humana” e que formar sujeitos críticos “demanda tempo, processo e compromisso com a transformação social.”

Por Romênia Mariani

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
666filmizle.xyz